terça-feira, 16 de agosto de 2011

As Drogas estão mais próximas do que se imagina


VALTER BERTINI é advogado militante, artista plástico e memorialista

Notamos que os jornais publicam constantemente matérias dando conta da apreensão de drogas, agora já em quilos, por vezes em grama. Isso sinaliza que o consumo vem aumentando.
A publicidade em torno da apreensão de drogas é grande, no entanto, inexiste campanha publicitária voltada a orientar e muito menos postura política para prevenir e tratar os dependentes químicos do Município.
Os Municípios são responsáveis pelo tratamento dos dependentes químicos, principalmente se o cidadão ou seus familiares não tiverem condições para custear o tratamento.
Por essas e outras razões escolhemos o tema “Drogas” para tratar nesta e nas próximas edições. Iniciamos pelo álcool, que embora droga, seu consumo é tolerado pela sociedade. Via de regra o homem era considerado o maior consumidor, isso mudou, hoje esse titulo vem passando gradativamente aos adolescentes e mulheres. A cada dia que passa é comum observar copos e mais copos de cerveja e destilados borrados de batom num bar, isso confirma as estatísticas: o sexo feminino já supera o masculino quando o assunto é alcoolismo na adolescência.
A visual calça jeans, miniblusa, cabelos longos, bolsas coloridas é maioria nas rodinhas, mas as meninas não só invadiram os bares, como também as estatísticas de problemas com a doença.
Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 6,4% das moradoras de São Paulo entre 12 e 17 anos apresentam sinais de dependência do álcool.
Nos garotos da mesma idade, o índice é de 4,9% – pesquisa feita com base em 4.117 entrevistas. Este é o único grupo etário em que as mulheres aparecem à frente. Nos maiores de 35 anos, por exemplo, 16% deles têm indícios de alcoolismo contra 5,4% delas.
Esta diferença entre as idades revela uma mudança cultural. As mulheres passaram a ter os mesmos desafios do que os homens, a mesma vontade e necessidade de auto-afirmação. É uma pena que as meninas de hoje encarem o fumo e a bebida como um instrumento de disputa de poder com os meninos.
Hoje ninguém se espanta com uma menina no bar. Elas “bebem nem tanto por rebeldia, e sim, porque a facilidade de beber ficou igual à encontrada pelos meninos”, diz Ilana Pinsky, psiquiatra da Unifesp.
Mônica Zilberman, professora de psiquiatria da USP, cita ainda as características psicológicas da adolescência feminina. “Nos atendimentos, onde é cada vez maior a presença das meninas, elas falam muito que os motivos para beber são os foras dos namorados, a dificuldade em lidar com as mudanças no corpo. Nos discursos delas é muito mais forte a questão depressiva do que nos meninos, que citam o ‘beber’ como artifício de diversão.”
A maioria dos adolescentes começa a beber porque fazê-lo lhes parece uma “coisa de gente grande”, “por estar na moda” e estar de acordo com o grupo, para se sentirem à vontade socialmente e para reduzir a ansiedade, escapando dos problemas.
Se o sistema familiar, em sua estrutura psíquica e afetiva, não é capaz de fornecer-lhe o suporte de que necessita para lidar com sua angústia, é comum que o jovem faça uso de bebidas e drogas facilmente oferecidas a ele pela sociedade e pelo grupo de iguais como um meio para “solucionar” o mal-estar, em busca de momentos de prazer e alívio, pelo efeito tranqüilizante, de euforia e desinibição originados pelo efeito do álcool no sangue.
Entretanto, é assustador, nos dias atuais, o elevado número de jovens que abusam do consumo de álcool, causador freqüente de inúmeros acidentes automobilísticos e perdas prematuras de vidas. O crescente abuso do álcool pelos adolescentes amplia ainda mais o número de dependentes alcoólicos.
Assim como outras drogas que causam dependência, o álcool reforça o seu próprio consumo através da ativação do circuito de recompensa do cérebro. O consumo repetido de álcool pode induzir à tolerância, o que significa que a quantidade necessária para produzir o efeito desejado tem que ser progressivamente aumentada. É bom lembrar que o corpo da mulher tem menos enzimas e é composto por menos líquido, diz a psicóloga Camila Silveira, do Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool (Cisa). “Isso faz com que o organismo tenha mais dificuldade em diluir o álcool, o que provoca a dependência em menor tempo.”
O álcool tornou-se a droga psicoativa mais consumida de todos os tempos e é a que tem o maior exército de dependentes. Infelizmente essa também é nossa realidade.

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