sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Quase 10% de estudantes de 13 a 15 anos já usaram drogas

Por Reuters, reuters.com, Atualizado: 18/12/2009 15:51
Quase 10% de estudantes de 13 a 15 anos já usaram drogas--IBGE
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Quase 10 por cento dos estudantes com idade entre 13 e 15 anos, que vivem nas capitais brasileiras e Distrito Federal, admitiram que já consumiram drogas pelo menos uma vez, segundo pesquisa inédita divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE.
A Pense -- Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, realizada pela primeira vez este ano -- apontou que 8,7 por cento dos estudantes das escolas públicas e privadas do 9o ano do ensino fundamental usaram algum tipo de droga ilícita como maconha, cocaína, crack, cola, loló, lança perfume e ecstasy.
A pesquisa também indicou que 71,4 por cento dos alunos dessa faixa etária já experimentaram bebida alcoólica, dos quais 27,3 por cento disseram ter consumido nos 30 dias anteriores ao estudo.
A maioria consumiu em festas, mas quase 20 por cento deles disseram que compraram a bebida em uma loja, bar ou supermercado.
"A partir das pesquisas vamos aperfeiçoar as nossas políticas. O álcool nos preocupa, bem como o uso de drogas. Lançamos uma campanha de mídia enfocada no (combate ao) crack, que é uma droga perigosa, barata, penetrando na classe média e cria uma dependência rápida com efeitos dramáticos sobre a mente e o corpo dos usuários", disse a jornalistas o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ao comentar os resultados da pesquisa.
"Sou totalmente a favor da regulamentação da publicidade sobre bebida alcoólica. Essa pesquisa mostra que há de fato uma indução precoce ao consumo abusivo de bebida alcoólica por conta da publicidade", acrescentou o ministro.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, os estudantes do sexo masculino usam mais drogas ilícitas que as meninas.
O consumo de cigarro ao menos uma vez foi admitido por 24,2 por cento dos escolares, sendo que 6,3 por cento dos entrevistados admitiram ter feto consumo nos dias 30 anteriores.
A pesquisa mostrou ainda que cerca de um terço (30,5 por cento) dos alunos com idade entre 13 e 15 anos já mantiveram relação sexual alguma vez, sendo que 43,7 por cento eram homens e 18,7 por cento meninas.
A iniciação sexual na adolescência é maior nas escolas públicas ( 33,1 por cento) do que nas privadas das capitais do Brasil
Os jovens entrevistados revelaram que têm o hábito de usar preservativo nas relações sexuais. O IBGE pesquisou que 75,9 por cento disseram que usaram preservativo na última relação sexual, sendo que em São Luís, apenas 68,3 por cento utilizaram e, em Rio Branco, no Acre, a frequência foi de observada em 82,1 por cento
A pesquisa do IBGE estimou que cerca de 618 mil jovens com idade entre 13 e 15 anos estavam matriculadas em uma escola pública ou privada nas capitais brasileiras e no Distrito Federal.
(Por Rodrigo Viga Gaier)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

José Gomes Temporão - Crack

Ministro da Saúde alerta para o crack, droga que tem oferta abundante e preço baixo, tornando-se acessível
Baptista Chagas de Almeida

Depois de participar do lançamento da Campanha Nacional de Alerta e Prevenção do Uso de Crack, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, conversou com o Correio sobre as suas preocupações em relação ao avanço da droga no país. Destacou que o poder público não pode se esquivar das responsabilidades, explicou por que o governo adotou uma linha de combate ao crack mais incisiva e ressaltou que a lei permite a internação do viciado involuntariamente “nos casos em que o paciente constitui um risco para si e para as pessoas em torno dele”.

Como as políticas públicas lidam com a questão do tratamento de usuários de drogas? O poder público está preparado para enfrentar essa “epidemia” de crack?O poder público tem um forte protagonismo nesta área, ao esclarecer, informar, mobilizar e disponibilizar assistência. Mas a questão das drogas, no mundo, é de tamanha magnitude ou gravidade, que depende da atuação de vários atores: governos, sociedade, famílias. Esse é um problema de todos nós. Até um passado recente, a saúde pública não se ocupava do tratamento de usuários de drogas. Essa função ficava restrita à atuação de igrejas, abrigos e outros. É importante fazer essa contextualização para que se entenda o caráter ainda experimental da estrutura que o Brasil tem hoje de atendimento de viciados em drogas e álcool pelo SUS. A primeira medida de atendimento ocorreu em 2002, com a criação dos primeiros CAPSad (Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas). Antes, havia os hospitais psiquiátricos e os pacientes eram internados. Havia ambulatórios de universidades, que faziam atendimentos de casos de álcool e drogas, mas não havia uma rede especializada do Ministério.Ao longo desse processo, o perfil do usuário também vem se alterando. Como o Ministério da Saúde acompanha esse processo?De fato, nos últimos 10 anos, houve uma mudança no perfil do usuário de drogas. O crack, por exemplo, tem uma participação muito mais importante nesse contexto. É uma droga que forma consumidores muito rapidamente. A oferta é vasta e o preço é baixo, o que a torna muito acessível. O agravante é que gera rápida dependência e tem efeitos muito agressivos para a saúde em um curto espaço de tempo. Estima-se que, no Brasil, haja 380 mil usuários de crack. Essa estimativa foi feita em 2005 com base em estudos populacionais, e precisa ser revista. O Ministério da Saúde está financiando um novo estudo sobre o perfil dos usuários de drogas para apoiar essas ações, previsto para o primeiro trimestre de 2010.Quais estratégias estão sendo adotadas para acompanhar esse movimento?Lançamos nesta quarta-feira a Campanha Nacional de Alerta e Prevenção do Uso de Crack, uma iniciativa inédita para prevenir o consumo da droga no país. O tema é forte, com o slogan Nunca experimente o crack. Ele causa dependência e mata. Atualmente, estamos na linha de frente do atendimento aos usuários, mas queremos ir além. Ou seja, convocar a sociedade para frear o seu avanço no país, afinal o uso da droga não é apenas um problema da saúde, mas sobretudo, social. Além disso, o pessoal do serviço de atendimento ao cidadão do Ministério da Saúde, o 0800 61 1997, foi orientado sobre o que é a droga, seus efeitos nocivos à saúde e sobre as unidades de saúde no SUS que a pessoa pode procurar ajuda. O usuário que buscar auxílio
Saiba mais...Estudo de ONG pernambucana indica que uso de crack por adolescentes que fazem programas ultrapassou o de maconha Ministério da Saúde lança campanha nacional de prevenção ao uso de crack Segurança Pública terá audiência sobre crack com ministro da Saúde A pedra que destrói a infância Crack: pedra repleta de efeitos perversos Poder público é coadjuvante no tratamento de usuários do crack pelo serviço será informado sobre o endereço e o telefone do CAPS ou do posto de saúde mais próximo de sua casa.A lei permite a internação de uma pessoa viciada em drogas, mesmo que ela não queira?A Lei nº 10.216/2001 prevê a internação involuntária de dependentes químicos. Esse procedimento tem que ser encaminhado por um médico e deve ser comunicado imediatamente ao Ministério Público Estadual. Esses casos devem ocorrer quando o paciente constitui um risco para si e para as pessoas em torno dele. Essa avaliação deve ser feita pela equipe de saúde. O Ministério da Saúde, nesse contexto, vem aprofundando esse debate, dentro de uma ótica de direitos e cidadania, na proteção do paciente e de seus familiares. O que se quer é evitar o agravamento das distorções e o modelo repressivo de atenção ao problema.Essa lei é considerada um marco para o setor da saúde mental. Como o ministério vem trabalhando para implementá-la?A promulgação da Lei nº 10.216 coloca o tema dos direitos no centro do debate da Reforma Psiquiátrica. Assim, a criação de uma rede de atenção psicossocial pública, territorial, eficaz, integrada é o primeiro direito a ser conquistado. Esse esforço pode ser visto, por exemplo, na assinatura, em 11 de novembro, de portarias que aumentam em até 31,85% o valor das diárias pagas por paciente internado em hospitais psiquiátricos e gerais. A medida também habilitou 73 novos CAPS e cria incentivo financeiro para internações curtas de pacientes em crise. O investimento em recursos novos é de R$ 98,3 milhões por ano. Em junho, havíamos liberado outros R$ 117 milhões para o Plano Emergencial de Ampliação do Acesso para Tratamento de Álcool e Drogas (PEAD 2009-2010). Ou seja, somam um total de R$ 215,3 milhões neste semestre. Passamos, em sete anos, de uma cobertura de atendimento em saúde mental de 21% da população para 60%, com o parâmetro CAPS por 100 mil habitantes."Estima-se que, no Brasil, haja 380 mil usuários de crack. Essa estimativa foi feita em 2005 com base em estudos populacionais, e precisa ser revista"José Gomes Temporão, Ministro da Saúde

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Na Jamaica, senador quer descriminalizar maconha - Agência Estado

KINGSTON, JAMAICA - Um senador do partido que governa a Jamaica está pedindo ao Parlamento que descriminalize a posse de pequenas quantidades de maconha para uso pessoal. Dennis Meadows, vice-secretário-geral do Partido Trabalhista da Jamaica, emitiu hoje um comunicado dizendo que o relaxamento das leis contra cigarros de maconha permitiria que os tribunais e a polícia da ilha se concentrassem em crimes violentos e drogas mais pesadas. "O que estou defendendo é que a maconha, para uso privado, seja tratada como multa de trânsito", disse.Ontem, Meadows afirmou no Senado que a condenação por posse de pequenas quantidades de maconha "serve apenas para criminalizar nossos já marginalizados jovens e criar um depósito de desesperança". O senador lembrou que a Comissão Nacional sobre Ganja - nome pelo qual a maconha é conhecida no país - recomendou a descriminalização de pequenas quantidades para uso pessoal. Tentativas anteriores na Jamaica de legalizar pequenas quantidades da droga, no entanto, não foram adiante. O governo teme que a medida viole tratados internacionais e atraia sanções de Washington. Os Estados Unidos, que já gastaram milhões de dólares na tentativa de erradicar a produção de maconha na Jamaica, se opõem ao alívio das leis sobre a droga. A Jamaica está entre os maiores exportadores de maconha do mundo. Na ilha, os rastafaris costumam dizer que fumar maconha faz parte de sua religião e os coloca mais perto do divino.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Cinema & Drogas


Would you like a tea?


João Goulão - Presidente do Instituto da Droga e Toxidependência em Portugal

05 Dezembro 2009 - 00h30
Discurso Directo
“Vou apresentar a nossa política em Washington”João Goulão, Pres. Inst. da Droga e Toxicodependência escolhido para presidir ao Observatório Europeu da Droga.
Correio da Manhã – Qual o significado da sua eleição para presidente do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência?
João Goulão – Significa o reconhecimento da qualidade das políticas portuguesas nesta matéria, que nos últimos tempos tiveram grande visibilidade internacional, em especial o sucesso da descriminalização do consumo desde 2001.
– Como se materializa essa visibilidade?
– Portugal é hoje considerado um país modelo. Em Abril foi publicado em Washington o relatório do Instituto Cato, que mostrou que o consumo de drogas baixou após a descriminalização e isso despertou o interesse por parte dos media. Já dei entrevistas à ‘Time’, ‘The Economist’, BBC, ‘El País’ e ‘Le Point’.
– Há também interesse político?
– Sim. Já recebi vários embaixadores em Lisboa que vieram aconselhar-se sobre o nosso quadro legal e já houve mudanças à lei no sentido de descriminalizar consumos no México e Argentina. E no próximo dia 10 vou estar em Washington para apresentar a nossa política a elementos da Administração Obama e participar numa mesa redonda com o ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso.
– O presidente Obama estará presente?
–Não. Nesse dia vai receber o Nobel da Paz, porque havia a possibilidade de lá estar. Temos a expectativa de que estará a secretária de Estado, Hillary Clinton. Eles estão atentos a outros caminhos que não os seguidos nos EUA, que são predominantemente repressivos.
– O sucesso da descriminalização em Portugal expressa-se de que forma?
– Na tendência de descida significativa de consumo de todas as substâncias ilícitas, em especial nas camadas mais jovens. Por exemplo, em 2001, no grupo dos 15 aos 19 anos, 12% dos jovens já tinha experimentado drogas. Em 2007, o número desceu para 8%.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Drogas & Charge


Mais uma vez: Uso medicinal da maconha

Sidney Resende: Blog do Sidney
Uso da maconha para fins terapêuticos é realizado em Israel
Mesmo sendo proibida para fins recreativos, a maconha é liberada para uso médico em Israel. Há mais de uma década a erva é autorizada para fins médicos e, agora, o governo autorizou um hospital público a realizar tratamentos e receitar maconha para os doentes. No hospital existe um fumódramo onde os pacientes cadastrados podem fumar maconha. Para o Dr. Itay Goor Aryeh a autorização para usar maconha dentro do hospital foi o passo natural no processo que já autorizava o uso médico da erva em ambulatórios e na casa dos pacientes.Os principais pacientes que utilizam a maconha como fim terapêutico são os que sofrem de dor crônica e os que têm câncer. Segundo alguns relatos, os medicamentos à base de morfina já não aliviavam mais a dor e, com um ou dois cigarros de maconha, o paciente conseguia acordar sem sentir dor. O cultivo das ervas utilizadas é feito em uma estufa mantida por uma organização não-governamental camada Tikun Olam, "consertando o mundo". Lá estão 10 mil vasos de maconha para serem usados para fins medicinais.

O Desafio das Drogas: FHC - para o Jornal: O Estado de São Paulo


O desafio das drogas, por Fernando Henrique Cardoso*

Um dos temas mais difíceis do mundo contemporâneo é o que fazer com o uso de drogas. Existem algumas comprovações bem estabelecidas sobre a questão. Se é verdade que sempre houve consumo de diferentes tipos de drogas em culturas muito diversas – embora não em todas –, não menos verdade é que ele no geral se deu em âmbito restrito e socialmente regulamentado, principalmente em cerimônias rituais. Não é este o caso contemporâneo: o uso de drogas se disseminou em vários níveis da sociedade, com motivações hedonísticas; no mais das vezes, sem aprovação social, embora, dependendo da droga, haja certa leniência quanto aos usuários.Sabe-se também que todas as drogas são nocivas à saúde, mesmo as lícitas, como o álcool e o tabaco. E que algumas são mais nocivas do que outras, como a heroína e o crack. A discussão sobre se o consumo de drogas mais fracas induz ao de outras mais fortes é questão médica sobre a qual não há consenso. Para fins de política pública, o importante a reter é que as drogas produzem consequências negativas tanto para o usuário quanto para a sociedade e que reduzir ao máximo o seu consumo deve ser o principal objetivo.A discussão, portanto, é sobre diferentes estratégias para atingir o mesmo objetivo. Até agora, a estratégia dominante tem sido a chamada “guerra às drogas”. Foi sob a sua égide, sustentada fundamentalmente pelos Estados Unidos, que as Nações Unidas firmaram convênios para generalizar a criminalização do uso e a repressão da produção e do tráfico de drogas.Decorridos 10 anos, a agência da ONU dedicada às drogas se reuniu este ano em Viena para avaliar os resultados obtidos pela política de “guerra às drogas”. Simultaneamente, na Europa e na América Latina, comissões de personalidades independentes fizeram o mesmo, apoiando-se em análises preparadas por especialistas. Eu copresidi com os ex-presidentes da Colômbia e do México, respectivamente César Gaviria e Ernesto Zedillo, a Comissão Latino-Americana. Nossa conclusão foi simples e direta: estamos perdendo a guerra contra as drogas e, a continuarmos com a mesma estratégia, conseguiremos apenas deslocar campos de cultivos e sedes de cartéis de umas a outras regiões, sem redução da violência e da corrupção que a indústria da droga produz. Logo, em lugar de teimar irrefletidamente na mesma estratégia, que não tem conseguido reduzir a lucratividade e consequentemente o poderio da indústria da droga, por que não mudar a abordagem? Por que não concentrar nossos esforços na redução do consumo e na diminuição dos danos causados pelo flagelo pessoal e social das drogas? Isso sem descuidar da repressão, mas dando-lhe foco: combater o crime organizado e a corrupção, ao invés de botar nas cadeias muitos milhares de usuários de drogas.Em todo o mundo, se observa um afastamento do modelo puramente coercitivo, inclusive em alguns Estados americanos. Em Portugal, onde, desde 2001, vigora um modelo calcado na prevenção, na assistência e na reabilitação, diziam os críticos que o consumo de drogas explodiria. Não foi o que se verificou. Ao contrário, houve redução, em especial entre jovens de 15 a 19 anos. Seria simplista, porém, propor que imitássemos aqui as experiências de outros países, sem maiores considerações.No Brasil, não há produção de drogas em grande escala, exceto maconha. O que existe é o controle territorial por traficantes abastecidos principalmente do Exterior. Dada a miserabilidade e a falta de emprego nas cidades, formam-se amplas redes de traficantes, distribuidores e consumidores que recrutam seus aderentes com facilidade. O país tornou-se um grande mercado consumidor, alimentado principalmente pelas classes de renda média e alta, e não apenas rota de passagem do tráfico. Enquanto houver demanda e lucratividade em alta, será difícil deter a atração que o tráfico exerce para uma massa de jovens, muitos quase crianças, das camadas pobres da população.A situação é apavorante. O medo impera nas favelas do Rio. Os chefões do tráfico impõem regras próprias e “sentenciam”, mesmo à morte, quem as desrespeita. A polícia, com as exceções, ou se “ajeita” com o tráfico, ou, quando entra, é para matar. A “bala perdida” pode ter saído da pistola de um bandido ou de um policial. Para a mãe da vítima, muitas vezes inocente, dá no mesmo. E quanto à Justiça, não chega a tomar conhecimento do assassinato. Quando o usuário é preso, seja ou não um distribuidor, passa um bom tempo na cadeia, pois a alegação policial será sempre a de que portava mais droga do que o permitido para consumo individual. Resultado, o usuário será condenado como “avião” e, tanto quanto este, ao sair, estigmatizado e sem oferta de emprego, voltará à rede das drogas.É diante dessa situação que se impõem mudanças. Primeiro: o reconhecimento de que, se há droga no morro e nos mocós das cidades, o comércio rentável da droga é obtido no asfalto. É o consumo das classes médias e altas que fornece o dinheiro para o crime e a corrupção. Somos todos responsáveis. Segundo, por que não “abrir o jogo”, como fizemos com a aids e o tabaco, não só por intermédio de campanhas públicas pela TV, mas na conversa cotidiana nas famílias, no trabalho e nas escolas? Por que não utilizar as experiências dos que, na cadeia ou fora dela, podem testemunhar as ilusões da euforia das drogas? Não há receitas ou respostas fáceis. Pode-se descriminalizar o consumo, deixando o usuário livre da prisão. As experiências mais bem-sucedidas têm sido as que vêm em nome da paz e não da guerra: é a polícia pacificadora do Rio de Janeiro, não a matadora, que leva esperança às vítimas das redes de droga. Há projetos no governo e no Congresso para evitar a extorsão do usuário e para distinguir gradações de pena entre os bandidos e suas vítimas, mesmo quando “aviões”, desde que sejam réus primários. Vamos discuti-los e alertar o país.
*Ex-presidente da República