terça-feira, 24 de julho de 2012

Valter Bertini: Drogas. Codependência


30/10/2010
Drogas. Codependência, doença que afeta familiares, amigos, colegas de trabalho etc.
VALTER BERTINI é advogado militante, artista plástico e memorialista
 
É comum pensarmos que em se tratando de uso de drogas o doente é apenas o dependente químico, na verdade não é bem assim, a família e todos aqueles que o cercam estão adoecidos e também necessitam de tratamento.

A co-dependência se inicia quando uma pessoa, numa relação comprometida com um dependente, tenta controlar seu comportamento na esperança de ajudá-lo. Como conseqüência dessa busca mal sucedida de controle das atitudes do próximo, a pessoa acaba perdendo o domínio sobre seu próprio comportamento e vida. O relacionamento entre a família e o dependente é uma relação extremamente dolorosa. A família sente as dores do fracasso, da vergonha, do preconceito, às vezes tem o sentimento de ter sido traída por aquele que ama. A família do dependente sente as mesmas dores do dependente usuário de drogas. Ambos buscam um meio eficaz de fuga.
Se a pré-disposição orgânica para desenvolver o abuso de drogas é do meu familiar, filho ou filha, como é que sou eu que preciso de ajuda? É meu marido ou minha mulher quem bebe, porque eu devo me tratar? Quem é o codependente? - É o familiar, o colega de trabalho, o chefe, o amigo, é o vizinho, e todos que procuram remover as conseqüências dolorosas do abuso de drogas do dependente, para e pelo dependente, com a intenção de minimizar ou de esconder o ocorrido, facilitando a vida do dependente químico. Todo aquele que está emocionalmente ligado e oferece seus sentimentos e sua vida para “proteger seu dependente”, visando impedir que comportamentos anti-sociais tornem-se transparentes é um codependente.

O codependente que age assim, escondendo os fatos que se constituem numa vergonha para todos, isso, por total desinformação, imagina que está ajudando, na realidade está contribuindo para que possíveis pedidos de tratamentos e/ou internação ocorram. É o famoso “Carrossel da Dependência Química”, no centro, o dependente químico agindo e ao redor, os codependentes reagindo, vivendo em função do dependente. O dependente se droga, fica doidão e os outros reagem a sua drogadição e as suas conseqüências, o dependente responde as essas reações e se droga novamente, estabelecendo o carrossel da dependência química.

Os codependentes precisam ter coragem de colocar limites, fazendo parar de girar o Carrossel e de desligar-se emocionalmente do dependente, sentindo seus próprios sentimentos, vivendo suas próprias vidas. Como o codependente conseguirá entrar em recuperação? Informando-se, fazendo psicoterapia, e, sobretudo, freqüentando as salas dos grupos de mútua ajuda, o ALANON, NARANON, AMOR EXIGENTE etc.
Geralmente a recuperação dos codependentes tem inicia após algumas fases. A primeira fase é a negação, eles tem certeza que os filhos dos vizinhos têm problemas menos o seu.

Superada a fase da negação e a realidade vindo à tona refugiam-se então no “circo” do desespero, afinal eles poderiam imaginar tudo, menos ter um filho dependente de drogas. Nesta altura a tendência por parte da família é de raiva e muita cobrança. A fase seguinte é a barganha. Tentam de tudo para mostrar ao filho que são os melhores pais do mundo, oferecem normalmente o que podem cumprir, como viagens (de preferência para outros estados ou até mesmos fora do país), carro, dinheiro, mudam o filho de escola, etc.

Vem então a terceira fase que é a da depressão. Uma angustia profunda, muitas emoções negativas, uma fase que atinge em cheio o dependente e pode causar certa descompensação levando o adicto a pensar na possibilidade de tratamento ou levá-lo ainda mais para o fundo do poço.

Vem a ultima fase que é a da aceitação. Este é o momento do tratamento para a família e para o dependente. A partir da aceitação da co-dependência a família busca ajuda, se prepara, muda as atitudes frente ao dependente químico, reconhece a doença. Assim, se fortalecem, compreendem que aquilo que não é firme não pode servir de apoio.

Enfim, cada membro da família passa a viver a própria vida, sem sentirem responsabilizados ou chateados pelo doente químico. Isso porque buscaram ajuda. A recuperação do dependente químico terá maior chance de sucesso se a família, namorado (a) também se tratarem. É salutar lembrar que a codependência não esta relacionada somente a dependência química, ela também ocorre nas relações, para não confundir comentarei a respeito na próxima edição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário