segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Rompendo o silêncio: FHC subirá o morro para documentário sobre violência


Filme ‘Rompendo o silêncio’ vai mostrar conversas do ex-presidente com vítimas de balas perdidas no Rio. Ideia é buscar nova política sobre as drogas, segundo cineasta
Rio - As favelas do Rio, cenários constantes de guerras entre policiais e traficantes, e da disputa entre quadrilhas rivais, vão receber, em breve, uma visita ilustre. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai subir o morro em busca de uma nova política sobre as drogas. O cineasta Fernando Andrade — o mesmo que gravou ‘Coração Vagabundo’, sobre o cantor Caetano Veloso — quer mostrar ainda conversas de FHC com vítimas de balas perdidas no documentário ‘Rompendo o silêncio’.
Uma das bandeiras atuais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é a descriminalização da maconha.
“Fiz o convite ao ex-presidente para fazer um filme sobre a busca de uma nova forma de encarar a questão das drogas, uma nova política global. Queremos apontar uma saída mais humana e mais eficiente, com a lógica da paz e não da guerra”, explicou Fernando Andrade, que é irmão do apresentador de TV Luciano Huck.A descriminalização da maconha é a atual bandeira do ex-presidente, que integrou a Comissão Latino-Americana de Drogas e Democracia e a Comissão Brasileira de Drogas. A ideia é levar FHC para conhecer a realidade de algumas favelas, transitar pela área e descobrir histórias de quem sofreu e ainda sofre com a guerra do tráfico.A produtora Conspiração Filmes procurou a Secretaria de Segurança Pública para marcar reunião a fim de discutir o projeto. A assessoria de imprensa da secretaria adiantou que não haverá esquema de proteção especial para entrevistas com bandidos.Segundo o cineasta, o documentário não prevê a participação de criminosos nas filmagens que já começaram. “A gente vai ouvir vários lados, mas há uma distância entre dizer que vamos ouvir vários lados de dizer que vamos ouvir traficantes. A ideia é refletir e apontar soluções para o problema”, explicou o cineasta, que disse não ter data para o lançamento do filme.“Estamos fazendo primeiro um trabalho amplo de pesquisa. Ainda não temos data para o lançamento. Nem as comunidades onde faremos as gravações foram escolhidas ainda”, garantiu Fernando. Entre as comunidades cogitadas para servir de cenário para o documentário estão a Favela da Rocinha, em São Conrado, e os Morros Pavão-Pavãozinho, em Copacabana.Além de FHC, o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter participará do documentário, que será filmado em várias cidades do mundo. “O Rio é um dos lugares no mundo em que essa questão é um grande problema. Já gravamos cenas em São Paulo, nos Estados Unidos e até na Europa”, conta o cineasta.Ontem, o ex-presidente estava na Europa. Mas, segundo um dos filhos dele, Paulo Henrique, que mora no Rio, FHC deve vir à cidade nos próximos dias. Diretor-executivo do AfroReggae, José Junior chegou a ser convidado para auxiliar nas gravações. Mas o convite foi recusado porque ele estava acompanhando as investigações sobre a morte do amigo Evandro Silva, um dos coordenadores do grupo.
Crítica à estratégia linha-dura
Lançada por três ex-chefes de estado de Brasil, Colômbia e México, a Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia prega o “debate sem tabus” no que diz respeito às drogas. Membro do grupo, o ex-presidente Fernando Henrique afirma que a guerra contra o narcotráfico fracassou.E defende o que chamou de “uma mudança global” na estratégia, que inclua a descriminalização do uso de drogas como a maconha.De acordo com FHC, a estratégia “linha-dura” adotada por vários governos como o do Rio, no combate às drogas, teve consequências “desastrosas” para a América Latina. E não teria mudado a posição da região, maior exportadora de maconha e cocaína do mundo.
SEMELHANÇA
De acordo com o cineasta Fernando Andrade, FHC será o personagem central do documentário. A participação do ex-presidente brasileiro pode ser comparada à do ex-vice-presidente americano Al Gore, no filme ‘Uma Verdade Inconveniente’. Lançado em 2006, ele mostra os problemas provocados pelo aquecimento global e as mudanças climáticas no mundo.“Sempre quis fazer um filme sobre drogas. Mas nunca tinha encontrado uma figura que tivesse legitimidade para conduzir isso na forma que acho que deve ser. Mas achei a criação da comissão uma coisa de muita coragem, por isso o convidei”, explicou o cineasta.O documentário americano mostra em detalhes o terrível estado de saúde do planeta. A qualidade do filme foi premiada com a conquista do Oscar de melhor documentário em 2007.
VIVA VOZ: “Apontar saída humana e eficiente”“Queremos apontar uma saída mais humana e mais eficiente, com a lógica da paz e não da guerra. (...) A gente vai ouvir vários lados, mas há uma distância muito grande entre dizer que vamos ouvir vários lados de dizer que vamos ouvir traficantes. A ideia é refletir e apontar soluções para o problema”.FERNANDO ANDRADE, cineasta

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