terça-feira, 24 de novembro de 2009

Bebida alcoólica é muito acessível no Brasil


Bebida alcoólica é muito acessível no Brasil, dizem especialistas
Grande quantidade e tipos de estabelecimentos onde produtos são vendidos facilita o consumo entre jovens
Solange Spigliatti, da Central de Notícias
SÃO PAULO - O comércio de bebidas alcoólicas no Brasil se caracteriza pelo grande numero e tipos de estabelecimentos onde os produtos de diversas marcas são vendidos. Essa condição do mercado facilita o consumo e o acesso dos jovens às bebidas.

De acordo com o secretário de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Marco Antonio Bessa, medidas restritivas deveriam ser adotadas para reduzir essa exposição que induz ao consumo. "No Reino Unido por exemplo, não se pode vender bebida alcoólica em qualquer lugar. Para uma pessoa ter um bar e vender bebida alcoólica tem que ter uma licença especial", disse.

Segundo Bessa, a venda de bebidas alcoólicas, em alguns locais, contradiz a própria campanha do governo do motorista não dirigir alcoolizado. "No Brasil chega-se ao absurdo de se vender e consumir bebida alcoólica em posto de gasolina, o que é um contrassenso, uma coisa completamente estapafúrdia", afirmou.

Para a pesquisadora do Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas (Uniad), Ilana Pinsky, o grande número de locais que comercializam bebidas, inclusive em frente à escolas, reduz a eficácia das medidas de prevenção. "Quando você tenta fazer uma medida preventiva, que é muito mais difícil do que a educativa, você tem aqueles cartazes mostrando a vida boa relacionada à bebida alcoólica", disse.

A restrição aos pontos e horários de venda de bebidas alcoólica é apontada por Ilana Pinsky como uma das políticas mais eficientes na redução do consumo de álcool. Ela baseia sua posição na literatura internacional que aborda o assunto. "Prevenção de uso de álcool e drogas nas escolas, que é uma estratégia muito popular, infelizmente tem uma eficácia muito pequena", admitiu.

Aumentar os impostos sobre as bebidas também foi uma ação apontada como importante tanto por Ilana Pinsky quanto por Bessa. "O preço da bebida alcoólica é muito importante no início do consumo e também em um consumo mais pesado", afirmou a pesquisadora.

A adoção de políticas eficientes para a redução do consumo de álcool, no entanto, depende da capacidade da sociedade pressionar o Poder Público, segundo a professora de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Roberta Uchoa. "O Estado só vai responder se a sociedade pressionar", disse.

Ela destacou ainda que o álcool é a droga cujo o consumo mais cresce no país. De acordo com Roberta Uchoa, entre 1961 e 2000 o consumo de álcool no Brasil aumentou 155%. "Mesmo que seja em 40 anos é um aumento muito significativo", afirmou. As informações são da Agência Brasil.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Colégios Particulares iniciam combate às drogas no 6º ano

19 de novembro de 2009
Por Marina Dias

A proximidade entre estudantes e drogas é assunto que preocupa também algumas das importantes escolas privadas de São Paulo e Rio de Janeiro. Os colégios apostam no trabalho de caráter preventivo: debates em sala de aula e palestras com especialistas tentam alertar estudantes frente a um cenário cada vez mais comum entre eles.
É assim, por exemplo, no Vértice, de São Paulo. "A partir do sexto ano do ensino fundamental, oferecemos uma disciplina obrigatória e específica chamada Educação para a Vida em Família", diz Adílson Garcia, diretor do colégio. "Ali, discutimos questões como identidade, desafios emocionais, sexualidade e, no último bimestre, drogas".
O Santa Cruz inicia a orientação já na pré-escola. Mas é também a partir do sexto ano que o processo se aprofunda. "As discussões começam a ser mais diretas, em uma disciplina obrigatória", conta o diretor Luiz Eduardo Magalhães. "Queremos mostrar os caminhos e opções saudáveis para os nossos alunos, além de conscientizar os pais e, ocasionalmente, acompanhar os estudantes que já apresentam problemas".
A preocupação sobre o uso de drogas entre os estudantes é relativamente antiga no Santo Cruz: começou em 1984. Naquela data, então, o próprio Magalhães foi responsável por introduzir uma comissão para tratar do tema. "Naquela época, ninguém pensava na necessidade de tratar do assunto no ambiente escolar".
O Santo Inácio, no Rio, segue o mesmo modelo: tratar do tema drogas a partir do sexto ano. Porém, uma vez que o tema evoluiu no interior da comunidade escolar, a tática foi ligeiramente alterada, e agora o assunto pode entrar na classe dos meninos e meninas mais novos. "Caso as crianças tragam o assunto de alguma forma, os professores promovem conversas e debates em sala de aula", diz Izabel Guimarães, orientadora educacional do ensino médio do Santo Inácio.
A partir do sexto ano, a prevenção do uso de drogas é introduzida no currículo dos cursos de ciências e inglês, por meio do material didático utilizado pelas turmas e, no ensino médio. Palestras com médicos e especialistas também aparecem. "O aluno nunca vai dizer que está envolvido com drogas, por isso devemos ficar atentos aos sinais que eles transmitem, dizendo que estão sem vontade de estudar, por exemplo".
O Nossa Senhora de Sion, de São Paulo, decidiu incluir também os pais nos ciclos de palestras. "Acreditamos que podemos impedir que os estudantes façam uso dessas substâncias. Para isso, precisam desenvolver valores e reflitir sobre suas atitudes", afirma Sandra Gianocaro, orientadora educacional do ensino fundamental e uma das coordenadoras do Projeto Sinapse, como foi batizado o ciclo de atividades do colégio.
Estudiosa do assunto, Fátima Sudibrach - professora da Universidade de Brasília (UnB) e uma das responsáveis pelo Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas - prega que é fundamental que se estabeleça um laço forte entre professores e alunos. Só assim se criaria um um fator de proteção aos jovens. "Mas isso só é possível quando o estudante vê na escola alguém em quem confiar", alerta.

Tradicionais palestras anti-drogas não funcionam

Drogas nas escolas
Tradicionais palestras anti-drogas não funcionam
19 de novembro de 2009
Por Marina Dias

As já tradicionais palestras sobre os danos das drogas à vida dos jovens são repletas de boas intenções, mas não funcionam. A afirmação é do psiquiatra Thiago Marques Fidalgo, membro do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em lugar delas, o especialista pede que escolas e professores fiquem abertos ao diálogo com os estudantes. "O fundamental é ter pessoas com vínculos afetivos ao lado do jovem para discutir, tirar dúvidas e conversar sobre o assunto", diz. "O professor sempre presente e aberto para o diálogo é muito mais efetivo do que o especialista e suas palestras." Confira a seguir os principais trechos da entrevista com o médico.
Existe um perfil do jovem que usa ou compra droga na escola?Não podemos traçar um perfil específico desse tipo de jovem, mas sabemos que os chamados fatores de proteção envolvem qualidade de vida e saúde dos adolescentes. Isso significa dizer que praticar esportes, participar de um grupo religioso, ter um ambiente familiar estruturado, no qual há o apoio dos pais, e formar uma rede social bacana é fundamental para manter os jovens longe do uso abusivo de drogas. Na escola, ter educadores com quem os estudantes possam conversar abertamente também é muito importante para o fortalecimento dos fatores de proteção. Os jovens fora desse contexto, obviamente, estão mais inclinados ao uso de drogas.
É fato que a iniciação dos adolescentes no mundo das drogas se dá na escola?Isso varia de acordo com a realidade de cada jovem. Em geral, o primeiro uso tende a se dar com os amigos e, nessa época, os amigos estão na escola. Por esse motivo, a escola tem papel central na prevenção do uso de drogas.
Quais são as facilidades para o uso no ambiente escolar?É bom deixar claro que nem todo uso de drogas leva à dependência. Na maioria dos casos, os jovens querem o que é proibido, para testar seus limites, conhecer o corpo e suas reações e, mais do que isso, fazer parte de um grupo social. Como os jovens passam a maior parte do tempo na escola, seus amigos também são desse ambiente, e é com eles que vai se dar a primeira experiência com as drogas, na maioria dos casos. São os fatores de risco ou genéticos, porém, que determinam se o uso de drogas pode passar do estágio experimental para o problemático e dependente.
O que seria, então, o uso não problemático?O uso de drogas pode se dividir em quatro padrões: experimental, quando se tem o primeiro contato com a substância química; ocasional, quando se faz uso da substância periodicamente; nocivo: quando a pessoa se expõe a situações de risco em consequência ao uso de droga; e dependente, quando a droga toma posição central na vida do usuário. A genética é um fator que conta muito na hora de avaliar a passagem do jovem pelos quatro padrões do uso de drogas, pois o metabolismo está intimamente ligado a como o organismo processa a droga. Obviamente, existem as substâncias com mais chances de dependência: a cocaína, o crack e a heroína, por exemplo. Mas ainda não é possível identificar qual adolescente vai perder o controle e chegar à dependência.
Quais são os métodos eficientes de prevenção do uso e venda de drogas nas escolas?Conscientizar os estudantes sem necessariamente falar diretamente sobre drogas é uma das principais chaves para a prevenção. Além disso, incentivar a vida saudável, os cuidados com o corpo, a boa alimentação e a saúde bucal desde cedo contribuem para que a criança se torne um adolescente com consciência corporal e faz da escola um elemento confiável da rede social que está se criando em volta dela. As palestras com especialistas não funcionam, pois fornecer informação sobre os métodos de prevenção e riscos do uso abusivo das drogas não é mais o suficiente. O fundamental é ter pessoas com vínculos afetivos ao lado do jovem para discutir, tirar duvidas e conversar sobre o assunto. Na escola, o professor sempre presente e aberto para o diálogo é muito mais efetivo do que o especialista e suas palestras.
Como perceber que seu filho está envolvido com drogas enquanto está na escola?Cada droga tem um efeito e isso pode ser diferente em cada organismo. Mas fique alerta para a mudança de comportamento e o desinteresse pela escola.
Como abordar o adolescente ao descobrir que ele está usando drogas?O mais importante é a construção do diálogo em casa. Se a família oferece uma relação afetiva com o jovem, esse assunto vai surgir naturalmente. Caso haja suspeita do uso de drogas, vale conversar, questionar e fazer com que o jovem fale de seus problemas. Caso isso não aconteça, a mediação de um profissional - psiquiatra ou psicólogo - é fundamental. O segundo passo é procurar tratamento clínico, porque ninguém sai das drogas com força de vontade ou sozinho. Para isso, é necessário um trabalho em conjunto com o paciente, sua família e os profissionais envolvidos. Com o uso abusivo das drogas, o jovem perde sua rede social de confiança e o trabalho da recuperação é fazer com que ele a reconstrua de maneira saudável.

Brazil: Crack Epidemic



BRAZIL: Crack Epidemic - Yet another Tough Nut to Crack in War on Drugs
By Mario Osava
RIO DE JANEIRO, Nov 23 (IPS) - J. ran away from home - a shack in a "favela" or shantytown in Brazil - when he was just eight years old, after he realised that the money he begged for in the streets was spent by his violent father on alcohol and drugs. He became a street urchin, as his two older brothers - with whom he lost contact long ago - had already done.Frequent beatings by his father were the other main factor in his decision to leave. With respect to his mother, a seamstress, J. doesn't complain of abuse, but rather about "indifference." One of his two younger brothers, age six, is still panhandling for his father, who taught his kids begging techniques. J., who is now 12 years old, left his home four years ago, and within just a few weeks, he had joined the legion of crack addicts wandering the streets of Brazil's big cities. In Rio de Janeiro, between 80 and 90 percent of homeless people are addicted to crack - a cheaper, potent, highly addictive form of cocaine that is sold in small chunks and smoked rather than snorted - according to estimates by mental health professionals and social workers who try to help this segment of the population. The amount of crack seized by the police this year in Rio was six times the total confiscated in 2008. A growing majority of children and adolescents receiving assistance from municipal services say they use crack. In response, the Rio city government is opening special treatment centres for crack addicts. The expansion of crack, which is especially visible at some city squares and streets where addicts congregate, has mainly occurred among the poor. But the drug has also made headway among better-off sectors of the population. The magnitude of this urban epidemic was catapulted to the headlines when Bruno Kligierman de Melo, a 26-year-old guitar player, killed his friend Bárbara Calazans, an 18-year-old student, on Oct. 24. According to the police, he strangled her in a fit of madness brought on by crack, which he had been using for six years. Drug consumption, which was preceded by alcohol use in school, turned "a good person into a murderer," lamented his father, Luiz Proa, in an open letter in which he called for drug addicts to be forced into treatment, contrary to the prevailing wisdom, according to which drug treatment must be voluntary in order to be effective. The proliferation of crack represents a new challenge for Brazil in terms of counter-drug action, at a time when President Luiz Inácio Lula da Silva himself acknowledges that the country's anti-drug policies have been ineffective. The Latin American Commission on Drugs and Democracy, created in 2008 and headed by former presidents Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) of Brazil, César Gaviria (1990-1994) of Colombia, and Ernesto Zedillo (1994-2000) of Mexico, said in its report, released in February, that the "war on drugs" was a failure. The recommendations put forth by the Commission, made up of 17 personalities from Latin America, included the decriminalisation of marijuana for personal use, the treatment of drug addiction as a public health problem, and a refocusing of public policies to make the fight against organised crime a top priority. As a cheap, fast-acting drug that provides an intense high, crack is popular among consumers, which also makes it attractive to drug dealers and traffickers because it is "good business," psychiatrist Carlos Salgado, president of the Brazilian Association of Studies on Alcohol and Other Drugs (ABEAD), told IPS. The fact that the high is so immediate, intense and short-lived drives addicts to constantly be looking for their next fix, and many smoke crack dozens of times a day, he explained. J. started smoking crack with "a 40-year-old guy." "I felt really good, and strong" - a pleasant sensation he had never experienced before, he told IPS. It was different from what he had felt when he drank alcohol or smoked a cigarette - his first drugs; smoked marijuana - which he doesn't like because it makes him hungry and sleepy; or snorted cocaine, "which didn't do anything for me." The man who turned him on to drugs also introduced him to petty drug-dealing. Adding up what he takes in by dealing drugs and panhandling, J. says he makes between 50 and 70 reals (29 to 41 dollars) a day - all of which he spends on crack. A pebble of crack costs five reals (2.90 dollars), but it is only enough for two highs - a few minutes of pleasure. Larger rocks cost twice that. J. says it's easier to get the small amount of food that he needs - because the drug takes away his appetite - by begging. The same goes for clothes. Around a dozen people "from ages four to 60" are his "colleagues" on the streets of a neighbourhood near the centre of Rio. The police don't bother them. J. admits that he is illiterate, and says he has no dreams for the future. "All I need are these little rocks," he says. Nor does he worry about the health threats posed by crack, which according to Salgado causes terrible damages to the brain, heart, liver, kidneys and lungs, cutting short the lives of addicts. The massive use of crack is a recent phenomenon in Rio, having spread here years after it took root in São Paulo to the south, where parts of the city have become "cracolandias" or "cracklands". The going explanation is that the Rio drug mafias themselves, as long as they had enough control to do so, kept crack out to keep it from wreaking havoc among their "troops." In Salvador, the capital of the state of Bahia in the impoverished northeast, the Axé Project, a non-governmental organisation that has helped thousands of street children and youngsters living in slums return to school and successfully reintegrate into society, admits that its approach can do little in the face of crack. Crack addiction is so intense and destructive that the NGO agreed that users must be forced into inpatient treatment, an exception in its methodology, which rejects the use of force in favour of persuasion, through the arts and local culture, in order to reawaken hope and the desire to build a better life. In Fortaleza, another major city in the Brazilian northeast, a mother left her one-year-old son with her crack dealer as a guarantee of payment, and then disappeared for several months, says a documentary produced by the Central Única das Favelas (CUFA) - a movement of young slumdwellers that promotes, produces and facilitates hip hop culture through publications, discs, videos etc. - on the violence and other extreme behaviour caused by crack addiction. But an even deadlier cheap cocaine derivative, known as "merla" in Brazil and as "paco" or "pasta base" in neighbouring Argentina and Uruguay, has become popular in the southern Brazilian city of Porto Alegre. Merla, which is also smoked, is obtained by macerating coca leaves, which are mixed with water and sulfuric acid, or a solvent like benzene, ether or kerosene. Crack and merla have not replaced other drugs, but have merely expanded the options available to drug users, further aggravating social and personal problems, said Salgado, who is staunchly opposed to the decriminalisation of marijuana or any measures facilitating access to drugs, whether legal or illegal. The tendency, said the psychiatrist, is to move on to harder drugs. A youngster who smokes cigarettes is four or five times more likely to start using illegal drugs than a non-smoker, and the same goes for kids who drink alcohol. (END/2009)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Estratégia para enfrentar droga é fracasso, diz Temporão

Estratégia para enfrentar droga é fracasso, diz Temporão
17 de novembro de 2009 • 14h58
Juliana Michaela
Direto de Cuiabá
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse nesta terça-feira, em Cuiabá (MT), durante coletiva à imprensa, que pela primeira vez as pessoas estão percebendo que a estratégia usada para enfrentar o problema da droga é um fracasso. Temporão participa em Cuiabá, Mato Grosso, da campanha nacional de combate a dengue.
O ministro da Saúde falou sobre o comércio ilegal de entorpecentes e as políticas de repressão. "Gasta-se trilhões de dólares em todo mundo para combater um comércio que cresce cada vez mais. Investe-se bilhões de dólares em estratégias de prevenção e o número de usuários só aumenta. Então acredito que temos que mudar o foco, tem que sair da repressão para a saúde pública e só um grande debate nacional pode nos levar a um caminho mais adequado", disse Temporão.
O Ministério da Saúde lançou no início do mês de novembro um pacote para que sejam investidos cerca de R$ 98,3 milhões ao ano para o tratamento de dependentes químicos e pacientes com transtornos mentais no País.
"O que temos que fazer agora nesse momento? Garantir tratamento, acolhimento e cuidado a quem precisa, esse é o desafio que estamos enfrentando, e esse plano que o ministério colocou na rua tem exatamente esse objetivo", falou. Ao ser questionamento se era a favor ou contra a liberação do uso das drogas, o ministro José Gomes Temporão (Saúde), respondeu dizendo que é a favor do debate.
Combate à dengueMato Grosso é o quarto estado em número de casos da doença no país. O primeiro é a Bahia com 101 mil, em segundo Minas Gerais com 69 mil, em terceiro Espírito Santo com 50 mil casos e Mato Grosso com 35 mil casos registrados de dengue.
O ministro da Saúde destacou que de 2008 para 2009 reduziu-se no País cerca de 80% dos casos graves da doença e que sem o engajamento da população é difícil enfrentar a doença.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Filme com FHC divide opiniões entre tucanos

O DIA
Há quem critique e quem apoie a participação do ex-presidente em entrevistas em morro do Rio para abrir discussão sobre as drogas
POR THIAGO PRADO, RIO DE JANEIRO
Rio - A nova empreitada do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para discutir a questão das drogas criou uma espécie de racha no PSDB do Rio. Companheiros de partido se dividiram ao comentar a participação de FHC no documentário ‘Rompendo o silêncio’, que será dirigido pelo cineasta Fernando Andrade. O filme será estrelado pelo maior líder tucano do País, que é favorável à descriminalização da maconha. Moradores de favelas e vítimas de balas perdidas serão entrevistados pela produção. O deputado federal Marcelo Itagiba, recém-filiado ao PSDB, é o parlamentar com críticas mais pesadas à participação de FHC no documentário: “As pessoas começam a querer navegar em ondas e modismos. Esta é uma visão muito romântica. Agora que ele não tem mais responsabilidade como governante, é mais fácil. Não vi liberação dar certo em nenhum lugar do mundo”. O deputado federal Otávio Leite afirma que FHC tem legitimidade para debater qualquer coisa, mas que outros assuntos são mais importantes: “Respeito o ex-presidente, é um homem maduro. Mas mais importante que isso é discutir a desigualdade social no Brasil”, afirmou o parlamentar, que considera ‘equilibrada’ a atual legislação brasileira sobre as drogas. O presidente do PSDB no Rio, deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha, acredita que o ex-presidente está certo em trazer à tona a discussão. Ele, no entanto, prefere não tornar pública a sua posição sobre o tema: “É fundamental o debate. Quero saber o que pensam a nível local e internacional”, afirmou o tucano. “FHC quer fazer o mesmo que Al Gore”Para Marcelo Itagiba, FHC está querendo fazer o mesmo que Al Gore, ex-vice-presidente norte-americano, que participou do filme ‘Uma Verdade Inconveniente’, sobre o aquecimento global). “Quem quer qualquer liberação é uma meia dúzia de burgueses”, ataca o deputado. Também participará do filme o ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter. Cenas já foram gravadas em São Paulo, EUA e Europa. Como vários trechos do documentário serão filmados dentro de favelas, a vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB) se mostra preocupada com o possível contato entre produtores e bandidos. “Na Rocinha, eu entro e saio da favela sem precisar pedir autorização de ninguém”, comentou a parlamentar, que apoia a iniciativa. O cineasta Fernando Andrade garante que não haverá a participação de criminosos. Ele ainda não definiu como entrará em favelas dominadas pelo tráfico.Ex-presidente é contra punir o usuárioDespenalização, descriminalização e legalização das drogas. As palavras se parecem, mas os conceitos são diferentes. Hoje, no Brasil, o usuário flagrado com pequena quantidade não é preso. No entanto, é levado a, por exemplo, prestar serviços comunitários — ‘punição’ que FHC combate. A liberação da venda de drogas o ex-presidente ainda não defendeu. No Congresso, há ideias endurecendo e flexibilizando a legislação. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) apresentará até dezembro projeto sobre a legalização do plantio de maconha. Já o senador Gerson Camata (PMDB-ES) propõe a prisão de usuários.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Maconha é descriminalizada em estação de ski americana


16/11 - 10:25 - The New York Times

BRECKENRIDGE, Colorado - As festas ao ar livre fazem parte da tradição do ski. Nelas, álcool e as drogas ilícitas se misturam há anos nas alturas das montanhas dos Estados Unidos.
Mesmo antes desta cidade votar a favor da descriminalização da posse de pequenas quantidades de maconha, uma das camisetas de maior sucesso na loja Ernie, na rua principal, demonstrava o que significa viver e curtir a vida a 9,600 pés.
"Cara", diz a camisa, "eu acho que a cidade inteira está chapada".
Mas o que a lei sobre a droga pode significar para a cultura e economia local, bem como seu possível impacto na indústria de turismo caso mais cidades de ski sigam o exemplo de Breckenridge, se tornou parte do debate conforme as pessoas observam os céus a espera de neve.
O líder do grupo que organizou a petição que conduziu ao pleito, o Sensible Colorado, disse que Breckenridge, onde 71% dos eleitores aprovaram a medida a favor da maconha no plebiscito, é a primeira cidade em uma estratégia municipal que quer tomar conta do Estado alguns anos.
Esforços locais estão se organizando em outras duas cidades do Colorado, segundo o fundador e presidente do grupo Sean T. McAllisterem, Durango e Aspen.
Depois da eleição, disse McAllister, pessoas de Montana e Washington entraram em contato pedindo conselhos para suas próprias iniciativas eleitorais.
Leis estaduais e federais ainda veem a posse de maconha como um algo ilegal, mas os moradores dizem que o policiamento local não é prioridade para estas agências.
Carly Grimes , porta-voz da Câmara de Comércio de Breckenridge, disse ter pensado que por causa das outras leis, pouco poderia mudar.
Mas segundo ela, outros membros da câmara temiam as percepções - que o estatuto pudesse enviar uma mensagem de tolerância das drogas, afastando famílias de turistas, que permanecem a base econômica fundamental da cidade.
"Aqui não vai se tornar uma pequena Amsterdã", ela disse, se referindo à capital holandesa, símbolo internacional do uso libertário das drogas

Beira-Mar diz que não deixa seus filhos usarem drogas


MidiamaxNews
Chico Júnior e Jacqueline Lopes

O maior narcotraficante da América Latina, Luiz Fernando da Costa, 42 anos, o Beira-Mar, já condenado a mais de um século de prisão crimes ligados ao tráfico de drogas, afirmou com veemência, durante julgamento no tribunal do júri de Campo Grande, que não é usuário e jamais permitiria que seus filhos experimentassem drogas. A resposta veio depois que foi indagado pela promotora Luciana Rabelo.
Beira-Mar é pai de 11 filhos, sendo cinco adotivos. Todos moram no Rio de Janeiro. A mulher dele Jaqueline e o filho mais velho estão presos acusados por tráfico de drogas.
Beira-Mar foi condenado hoje a 15 anos de prisão por ser o mandante do assassinato do também traficante João Morel, em janeiro de 2001, dentro do Estabelecimento de Segurança Máxima, em Campo Grande.

Drogas - Brasil: Epidemia de crack agrava fracassos

DROGAS-BRASIL: Epidemia de crack agrava fracassos
Por Mario Osava
RÍO DE JANEIRO, nov (IPS) - J. abandonó su casucha en una favela cuando tenía ocho años de edad, al darse cuenta de que el dinero que pedía en las calles lo gastaba su padre en alcohol y drogas. Eligió la vida callejera, como ya lo habían hecho sus dos hermanos mayores, de quienes hace mucho no tiene noticias.
También lo empujaron los frecuentes golpes que recibía del padre. De la madre, costurera, no se queja de agresiones, pero sí de "indiferencia". Uno de sus dos hermanos menores, de 6 años, sigue en la tarea de limosnear para el padre, quien enseñó a sus hijos las mejores maneras de abordar a posibles donantes. La decisión la tomó hace cuatro años. Hoy tiene 12. En pocas semanas J. se sumó a la legión de fumadores de "crack" que deambulan por las grandes ciudades brasileñas. En Río de Janeiro, entre 80 y 90 por ciento de la gente que vive en las calles se volvió dependiente de esa mezcla de cocaína con bicarbonato de sodio o amoníaco, según estimaciones de profesionales que les prestan asistencia social o psicológica. Este año la cantidad de esa droga incautada por la policía carioca se multiplicó por seis en comparación con 2008. Una creciente mayoría de niños y adolescentes asistidos por los servicios municipales afirman ser consumidores de crack. Por eso la alcaldía de Río de Janeiro decidió crear centros de atención específica para las personas adictas a esa droga. El nombre "crack" es la onomatopeya inglesa del ruido que las piedritas de esta droga hacen al calentarse. Su expansión, visible en algunas calles y plazas donde se juntan los "fumadores de piedras", afecta principalmente a los pobres, pero también ha llegado a sectores ricos de la población. La gravedad de esta epidemia urbana tuvo amplia divulgación en la prensa cuando Bruno Kligierman de Melo, un guitarrista de 26 años, asesinó el 24 de octubre a su amiga Bárbara Calazans, estudiante de 18 años, aparentemente estrangulándola en un rapto de locura atribuida al crack, un vicio que había adquirido hace seis años. El consumo de drogas, que había empezado por el alcohol en la escuela, transformó a "una buena persona en un asesino", lamentó Luiz Proa, padre de Bruno Kligierman, en una carta abierta en la que abogó por la internación compulsiva de drogadictos que no se autocontrolan, contrariando la norma de tratamiento voluntario y fuera de los hospitales. La proliferación del crack representa un nuevo desafío para la acción antidrogas en Brasil, en un momento en que el mismo presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconoce la ineficacia de las políticas nacionales de represión al narcotráfico. El fracaso de la "guerra a las drogas" fue diagnosticado en un informe presentado en febrero de este año por la Comisión Latinoamericana sobre Drogas y Democracia, creada en 2008 y encabezada por los ex presidentes Fernando Henrique Cardoso (1985-2003), de Brasil, César Gaviria (1990-1994), de Colombia, y Ernesto Zedillo (1994-2000), de México. Algunas de las recomendaciones que formuló la Comisión, compuesta por 17 personalidades latinoamericanas, fueron despenalizar la posesión de marihuana para consumo personal, tratar la drogadicción como un problema de salud pública y reorientar las estrategias represivas para priorizar el combate al crimen organizado. El crack hace más dramático el cuadro porque es una droga "muy atractiva" para el consumidor, por ser barata y de "acción rápida e intensa", y para el traficante, porque es "un buen negocio", si bien no de largo plazo, señaló a IPS el psiquiatra Carlos Salgado, presidente de Asociación Brasileña de Estudios del Alcohol y Otras Drogas. El mecanismo es el mismo del tabaco, el estímulo entra por los pulmones y, en algunos segundos, llega al cerebro, produciendo un "efecto agradable" de corta duración. Esto "induce a la repetición", a la necesidad de fumar decenas de veces al día, explicó. El niño J. aprendió a fumar crack con "un hombre de unos 40 años". "Me sentí bonito y fuerte", una sensación de placer que jamás había tenido en la vida, contó a IPS. Muy distinta de la que le proporcionaron el aguardiente y el cigarrillo, sus primeras drogas, la marihuana, que no le gustó porque le daba hambre y sueño, y la cocaína en polvo, que "no me hizo nada". Aquel hombre también lo introdujo en la actividad remunerada de "avión", el pequeño repartidor de drogas. Sumando lo que consigue así y como mendigo, sus ingresos diarios rondan entre 50 y 70 reales (29 a 41dólares), todos destinados a la compra de crack, confesó. Cada piedrita pequeña cuesta cinco reales (2,9 dólares), pero solo alcanza para dos fumaradas y pocos minutos de buenas sensaciones. Las mayores cuestan el doble. La poca comida que J. necesita, porque la droga le quita el apetito, "se consigue más fácil pidiendo" lo mismo que la ropa. Cerca de una docena de personas, "de cuatro a 60 años de edad" son sus "colegas" en las calles de un barrio cercano al centro de Río. La policía no los molesta. J. admite ser analfabeto a los 12 años y no tener sueños para el futuro. "Todo lo que necesito son las piedritas", afirma. Tampoco le preocupan los daños que le cause el crack que, según Salgado, son terribles para el cerebro, el corazón, los intestinos y otros órganos, y acortan la vida del usuario. El consumo masivo de crack es reciente en Río, muchos años después de su expansión en la sureña São Paulo, que convirtió partes de esa ciudad en "cracolandias". La explicación corriente es que el mismo narcotráfico carioca, mientras tuvo poder suficiente, impidió la venta local de esa droga para evitar que sus efectos enloquecieran y desorganizaran a sus tropas. En Salvador, capital del nororiental estado de Bahia, el Proyecto Axé, que logró la reintegración social y escolar de miles de niños de la calle o en riesgo de marginación, reconoció la impotencia de su "Pedagogía del deseo" ante el fenómeno del crack. La dependencia que genera esa droga es tan avasalladora y destructiva que la organización no gubernamental admitió la necesidad de internación para el tratamiento, una excepción en su metodología, que rechaza la imposición y se basa en persuadir, mediante las artes y la cultura local, para restaurar la esperanza y la voluntad de construir una vida mejor. En Fortaleza, otra gran capital del Nordeste brasileño, una madre dejó a su hijo de un año de edad con la proveedora de crack como garantía de pago y desapareció por algunos meses, revela un vídeo documental realizado por la Central Única de Favelas de la ciudad, que exhibe la violencia y las conductas extremas a las que conduce la adicción al crack. En la sureña Porto Alegre ya se difunde la "merla", otro subproducto de la cocaína llamado en otros lugares pasta base, con ácido sulfúrico y keroseno como componentes, que los conocedores apodan "muerte súbita" por su letalidad. Las nuevas drogas no sustituyen a otras, sino que se suman en el mercado y en el consumo de cada adicto, agravando el drama social y personal, observó Salgado, radicalmente contrario a la despenalización de la marihuana y a las medidas que faciliten el acceso a cualquier droga, legal o ilegal. La tendencia es avanzar hacia el consumo de drogas más pesadas. El joven que fuma cigarrillos tiene cuatro o cinco veces más posibilidades de adherirse a una droga ilícita que quien no es fumador, y algo similar ocurre con el alcohol, ejemplificó el psiquiatra. (FIN/2009)

Rompendo o silêncio: FHC subirá o morro para documentário sobre violência


Filme ‘Rompendo o silêncio’ vai mostrar conversas do ex-presidente com vítimas de balas perdidas no Rio. Ideia é buscar nova política sobre as drogas, segundo cineasta
Rio - As favelas do Rio, cenários constantes de guerras entre policiais e traficantes, e da disputa entre quadrilhas rivais, vão receber, em breve, uma visita ilustre. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai subir o morro em busca de uma nova política sobre as drogas. O cineasta Fernando Andrade — o mesmo que gravou ‘Coração Vagabundo’, sobre o cantor Caetano Veloso — quer mostrar ainda conversas de FHC com vítimas de balas perdidas no documentário ‘Rompendo o silêncio’.
Uma das bandeiras atuais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é a descriminalização da maconha.
“Fiz o convite ao ex-presidente para fazer um filme sobre a busca de uma nova forma de encarar a questão das drogas, uma nova política global. Queremos apontar uma saída mais humana e mais eficiente, com a lógica da paz e não da guerra”, explicou Fernando Andrade, que é irmão do apresentador de TV Luciano Huck.A descriminalização da maconha é a atual bandeira do ex-presidente, que integrou a Comissão Latino-Americana de Drogas e Democracia e a Comissão Brasileira de Drogas. A ideia é levar FHC para conhecer a realidade de algumas favelas, transitar pela área e descobrir histórias de quem sofreu e ainda sofre com a guerra do tráfico.A produtora Conspiração Filmes procurou a Secretaria de Segurança Pública para marcar reunião a fim de discutir o projeto. A assessoria de imprensa da secretaria adiantou que não haverá esquema de proteção especial para entrevistas com bandidos.Segundo o cineasta, o documentário não prevê a participação de criminosos nas filmagens que já começaram. “A gente vai ouvir vários lados, mas há uma distância entre dizer que vamos ouvir vários lados de dizer que vamos ouvir traficantes. A ideia é refletir e apontar soluções para o problema”, explicou o cineasta, que disse não ter data para o lançamento do filme.“Estamos fazendo primeiro um trabalho amplo de pesquisa. Ainda não temos data para o lançamento. Nem as comunidades onde faremos as gravações foram escolhidas ainda”, garantiu Fernando. Entre as comunidades cogitadas para servir de cenário para o documentário estão a Favela da Rocinha, em São Conrado, e os Morros Pavão-Pavãozinho, em Copacabana.Além de FHC, o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter participará do documentário, que será filmado em várias cidades do mundo. “O Rio é um dos lugares no mundo em que essa questão é um grande problema. Já gravamos cenas em São Paulo, nos Estados Unidos e até na Europa”, conta o cineasta.Ontem, o ex-presidente estava na Europa. Mas, segundo um dos filhos dele, Paulo Henrique, que mora no Rio, FHC deve vir à cidade nos próximos dias. Diretor-executivo do AfroReggae, José Junior chegou a ser convidado para auxiliar nas gravações. Mas o convite foi recusado porque ele estava acompanhando as investigações sobre a morte do amigo Evandro Silva, um dos coordenadores do grupo.
Crítica à estratégia linha-dura
Lançada por três ex-chefes de estado de Brasil, Colômbia e México, a Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia prega o “debate sem tabus” no que diz respeito às drogas. Membro do grupo, o ex-presidente Fernando Henrique afirma que a guerra contra o narcotráfico fracassou.E defende o que chamou de “uma mudança global” na estratégia, que inclua a descriminalização do uso de drogas como a maconha.De acordo com FHC, a estratégia “linha-dura” adotada por vários governos como o do Rio, no combate às drogas, teve consequências “desastrosas” para a América Latina. E não teria mudado a posição da região, maior exportadora de maconha e cocaína do mundo.
SEMELHANÇA
De acordo com o cineasta Fernando Andrade, FHC será o personagem central do documentário. A participação do ex-presidente brasileiro pode ser comparada à do ex-vice-presidente americano Al Gore, no filme ‘Uma Verdade Inconveniente’. Lançado em 2006, ele mostra os problemas provocados pelo aquecimento global e as mudanças climáticas no mundo.“Sempre quis fazer um filme sobre drogas. Mas nunca tinha encontrado uma figura que tivesse legitimidade para conduzir isso na forma que acho que deve ser. Mas achei a criação da comissão uma coisa de muita coragem, por isso o convidei”, explicou o cineasta.O documentário americano mostra em detalhes o terrível estado de saúde do planeta. A qualidade do filme foi premiada com a conquista do Oscar de melhor documentário em 2007.
VIVA VOZ: “Apontar saída humana e eficiente”“Queremos apontar uma saída mais humana e mais eficiente, com a lógica da paz e não da guerra. (...) A gente vai ouvir vários lados, mas há uma distância muito grande entre dizer que vamos ouvir vários lados de dizer que vamos ouvir traficantes. A ideia é refletir e apontar soluções para o problema”.FERNANDO ANDRADE, cineasta

domingo, 15 de novembro de 2009

As portas da percepção

O que tem a ver LSD com cinema? Haxixe com literatura? E heroína com música? Drogas e arte existem desde tempos remotos e a relação entre elas arruinou artistas, mas produziu obras-primas também

por Thiago Lotufo

Veneza. 3 de agosto, 1956: “Caro Doutor, gostaria de agradecer sua carta. Anexo segue o artigo sobre os efeitos das várias drogas que usei. Não sei se é apropriado para o seu jornal. Não faço objeção quanto a meu nome ser usado. Nenhuma dificuldade com a bebida. Nem desejo de consumir qualquer droga. Saúde geral excelente. Por favor, transmita minhas saudações a Mr. – (nome omitido). Utilizo seu sistema de exercícios diariamente, com excelentes resultados. Estive pensando em escrever um livro sobre narcóticos, se encontrar um colaborador que saiba lidar com a parte técnica.”

O texto, intitulado “Carta de um empedernido viciado em drogas perigosas”, é do escritor americano William Burroughs e foi endereçado a John Dent, médico britânico pesquisador do vício em drogas, que a publicou no British Journal of Addiction. Na carta, Burroughs, que passava por um período de desintoxicação, descreve de maneira minuciosa suas experiências com dezenas de drogas de diferentes classes: opiáceos (morfina, ópio, heroína), estimulantes (anfetamina, cocaína, bezedrina), cannabis (maconha, haxixe), alucinógenos (mescalina, ayuahuasca) e álcool, entre outras. As descrições foram incluídas como um apêndice ao tal livro sobre narcóticos que ele acabou escrevendo. Naked Lunch ou Almoço Nu, traduzido para o português, foi publicado em 1959. Delirante, caótica e autobiográfica, a obra, conseqüência de mais uma das recaídas do autor, foi repudiada pela crítica. Seu valor só foi reconhecido anos depois, e até hoje é tida como um dos marcos da história das letras. Mais: Almoço Nu, ao lado de On the Road (1957), de Jack Kerouac, e Uivo (1956), de Allen Ginsberg, converteu-se num clássico da literatura beatnik – e da literatura sobre (ou sob o efeito de) drogas também.

Essa relação entre drogas, criação e escritores e outros artistas, como pintores, músicos e atores, não foi inaugurada por Burroughs e sua turma. Registros de 50 mil anos atrás indicam que os neandertais já usavam uma erva estimulante com propriedades semelhantes às da efedrina e desenhos feitos em cavernas no período Paleolítico sugerem que os artistas conheciam alguns alucinógenos. Na Odisséia (cerca de 8 a.C.), Homero faz referências a uma bebida, oferecida por Helena a Telêmaco, capaz de aliviar a dor, e a uma planta (lótus) que seduz alguns marinheiros de Odisseu. O primeiro livro realmente dedicado ao tema é de 1821: Confissões de um Comedor de Ópio, escrito pelo inglês Thomas De Quincey.

Assim, por um lado, os beats (o termo foi usado pela primeira vez em 1948 por Kerouac e pretendia transmitir a idéia de “beatitude”) não foram os primeiros a usar drogas e a escrever sobre elas. Por outro, não foram também os últimos. Álcool, maconha, heroína, ácido lisérgico (LSD) e substâncias afins sempre embalaram intimamente a criação artística (não toda, obviamente) e negar essa relação é tão ingênuo quanto ainda acreditar que o Sol gira ao redor da Terra – e não o contrário.

A lista de artistas e intelectuais que produziram ou produzem de mãos dadas com as drogas é gigante. Na música, os exemplos vão de Charlie Parker a Kurt Cobain; nas letras, do alcoólatra Lima Barreto e o “maldito” Leminski ao jornalista doidão Hunter Thompson; no teatro, de Antonin Artaud (viciado em ópio) a Fauzi Arap; no cinema, de Easy Rider a Zé do Caixão (sim, ele fez um filme chamado O Despertar da Besta, em que um psiquiatra injeta LSD em viciados para estudar os efeitos do tóxico diante de imagens do próprio Zé do Caixão); e, finalmente, nas artes plásticas, de Van Gogh (viciado em absinto) a Hélio Oiticica.

O importante – longe da apologia ou da condenação – é mostrar como essa união se relaciona com o desenvolvimento das artes e como ela operou transformações, boas ou ruins. Há bad trips e overdoses nesse casamento de risco? Sem dúvida. Há obras e histórias geniais decorrentes dele? Sem dúvida também.

“Para determinados artistas, as drogas serviram para aguçar a sensibilidade”, diz Jorge Coli, professor de história da arte da Unicamp. “Mas elas não desencadeiam a criação se não houver o espírito criador.” Jean-Arthur Rimbaud, poeta francês do século 19 e autor dos clássicos Uma Temporada no Inferno e Iluminações, acreditava no “desregramento dos sentidos” como meio de criação. “O poeta se faz vidente por um longo, imenso e racional desregramento de todos os sentidos”, afirmava ele. O objetivo do desregramento era “reter a quintessência” das coisas. E, de acordo com Rimbaud, o haxixe, o ópio e o absinto eram bons elementos para atingi-lo.

Os beatniks – incluindo Gregory Corso, Gary Snider, Lawrence Ferlinghetti, entre outros da geração –, por sua vez, queriam ser um estilo de vida. “Antes da aparição dos beats não havia, nos jovens da época, qualquer relação entre seus mundos e suas mentes”, afirma o jornalista Bruce Cook em seu livro The Beat Generation (“A Geração Beat”, sem tradução para o português). A época, vale lembrar, era a década de 1950. “Em 1954, os Estados Unidos viviam o apogeu da Guerra Fria, acabando de sair da Guerra da Coréia e em pleno período do macarthismo, de perseguições a intelectuais militantes ou suspeitos de pertencerem a organizações de esquerda”, afirmou Cláudio Willer na introdução da versão brasileira de Uivo, Kaddish e Outros Poemas, de Allen Ginsberg.

“Eu acho que a marijuana é um instrumento político. É um estimulante catalítico para toda consciência ligeiramente ampliada”, afirmou Allen numa entrevista de 1960. Na mesma época, num depoimento para Gregory Corso, concluiu que “o negócio seria fornecer mescalina (alucinógeno extraído de um cacto) ao Kremlin e à Casa Branca, trancar os mandatários pelados num estúdio de televisão durante um mês e obrigá-los a ficarem falando em público até descobrirem o significado dos seus atos”. “É assim que a televisão poderia ser adaptada ao uso humano.”

Allen e companhia estavam, obviamente, contra a ordem do dia. E, contra eles, estava o establishment – de políticos a críticos. Uivo, quando publicado, em 1956, levou à cadeia seu editor, Lawrence Ferlinghetti, por venda de material obsceno. Liberado mais tarde, o livro se converteu num dos mais influentes da poesia americana do século 20. Além disso, abriu caminho para que On the Road (1957), escrito em três semanas e com 186 mil palavras num rolo de papel de telex, ficasse cinco semanas na lista dos livros mais vendidos. Só para lembrar: Kerouac precisou de muita benzedrina (estimulante), cigarro e café para pôr no papel suas frenéticas viagens pelos Estados Unidos e México embaladas pelo jazz.

À época, o bebop, uma variação “acelerada” do jazz, estava em voga. E Charlie Parker era um de seus representantes supremos. Bird, como o chamavam, tocava seu saxofone movido a vinho barato e muita heroína, a droga da moda e socialmente aceitável entre as pessoas ligadas à música. “Achava-se que usando heroína era possível tocar como Charlie Parker”, disse Frank Morgan, um dos companheiros de Charlie, num documentário sobre o saxofonista. O uso da droga ajudou-o a gravar discos sensacionais como Jazz at Massey Holl, mas também levou-o a uma morte prematura, aos 34 anos. Para se ter uma idéia do estrago que a droga lhe fez, o médico responsável pela autópsia – sem saber a idade real do músico – estimou que o corpo era de alguém entre 55 e 60 anos de idade. “Música é a sua própria experiência. Pensamentos, sabedoria. Se você não vive isso, não transmitirá com o seu instrumento”, afirmou Charlie certa vez.

No jazz, a heroína correu solta nas veias de muitos outros artistas. Entre eles, Billie Holiday, Chet Baker e Miles Davis, três nomes sagrados do gênero. Miles, dizem, teria criado o cool jazz ouvindo bebop e sendo auxiliado por algumas seringas. Mas nem sempre foi assim. No início do século 20, em Nova Orleans, o jazz era associado à maconha. Na década de 30, diversas músicas sobre o tema já haviam sido compostas e até Louis Armstrong falara bem a respeito da erva. Milton Mezzrow, um jazzista judeu de Nova York, fez o mesmo na década de 40 e afirmou em sua autobiografia, Really the Blues (algo como “O Verdadeiro Blues”, sem tradução para o português), que fumar maconha o ajudava a tocar melhor.

Anos depois, porém, a heroína é que passaria a dominar a cena. E seu uso se disseminou até o rock‘n’roll dos tempos atuais (Pete Doherty, vocalista da banda inglesa Libertines, já foi internado e preso por causa de sua dependência da droga). Nesse gênero musical, pouquíssimos chegaram ao nível de Keith Richards, guitarrista dos Rolling Stones. Na década de 70, por exemplo, por conta do vício em heroína, ele chegou até a ter de “trocar de sangue” numa clínica suíça. “Trocar” é exagero. Na verdade, seu sangue foi filtrado numa máquina para que substâncias tóxicas fossem retiradas. Apesar da dependência de Keith (Jagger também não escapou), os Stones produziram alguns de seus melhores álbuns entre 1969 e 1971. Let It Bleed, de 69, pode ser considerado o primeiro “disco de heroína” do grupo. De acordo com a crítica inglesa, “Gimme Shelter”, uma das faixas, teria sido composta por Keith numa “temporada” de algumas horas no banheiro de casa com a guitarra e um saquinho de heroína. Exile on Main Street, gravado em 1971 ( lançado em 72) e considerado a obra-prima dos Rolling Stones, é pico do começo ao fim. “Eu estava pegando pesado com heroína”, afirmou Keith Richards no ano seguinte.

“A heroína alimenta o simbolismo de se viver no limite, do tipo ‘até onde eu consigo ir?’”, afirmou numa entrevista à revista britânica Q Harry Shapiro, autor de Waiting For the Man: The Story of Drugs and Popular Music (algo como “Esperando pelo Homem: A História das Drogas e a Música Popular”, sem tradução para o português). Eric Clapton, Steven Tyler, Lou Reed e Iggy Pop chafurdaram nela, mas sobreviveram. Kurt Cobain e Janis Joplin, entre outros, foram além do limite.

Paul McCartney admitiu ter experimentado heroína também, mas sem saber do que se tratava. “Não me dei conta do que havia usado. Me deram algo para fumar e eu fumei”, afirmou em 2004 à revista britânica Uncut. Na publicação, Paul relembrou quando ficou preso por dez dias no Japão, em 1980, por estar com 225 gramas de maconha na bagagem. “Estava prestes a ir para o Japão e não sabia se conseguiria fumar alguma coisa por lá”, disse. “O negócio era bom demais para jogar na privada, então eu resolvi levar comigo.”

Quanto aos Beatles, é inegável que a maconha e o ácido lisérgico (LSD) foram fundamentais na criação de determinados trabalhos, especialmente em Revolver, Rubber Soul e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Ringo Starr conta na série de documentário Beatles Anthology que no período de Rubber Soul a atitude do grupo mudou. “Acho que a maconha teve muita influência nas nossas mudanças”, afirmou. Na mesma série, Paul disse: “Mudamos de ‘She Loves You’ para canções mais surrealistas”. Já a influência do LSD foi escancarada em “Lucy in the Sky with Diamonds” e “Day Tripper”, além da história de que o produtor George Martin teve de levar Lennon para tomar um ar no telhado da gravadora por causa de uma viagem de ácido. Os Beatles, porém, como afirmou Ringo, não conseguiam fazer músicas se estivessem alterados demais. “Sempre que abusávamos a música que fazíamos era uma bosta total”, disse ele.

O LSD foi o combustível fundamental para os anos 60, época do amor livre, da Guerra do Vietnã e dos festivais. Na terceira edição do festival da ilha de Wight, em 1970, na Inglaterra, drogas e música proporcionaram algo inusitado: um show de Gilberto Gil, Gal e Caetano para cerca de 200 mil pessoas. Os três e mais umas 20 pessoas tocaram no mesmo palco onde dias depois (foram cinco dias no total) estiveram Jimi Hendrix, The Doors e The Who.

A apresentação aconteceu graças a Cláudio Prado, membro do grupo que gravou uma jam session ocorrida à base de LSD e maconha na barraca do hoje ministro Gilberto Gil. Ele levou a fita até a organização do festival, que autorizou os brasileiros a tocarem no segundo dia – dedicado a artistas pouco conhecidos. O show durou cerca de 40 minutos. No repertório, “London, London”, “Aquele Abraço” e muito improviso. “O ácido nos deixou entusiasmados”, diz o escritor Antonio Bivar, que foi ao palco tocar reco-reco. Co-tradutor da edição brasileira de On the Road, ele contou a experiência da ilha de Wight em seu livro Verdes Vales do Fim do Mundo. “Caetano e Gal não haviam tomado LSD.”

Nesse caso, o alucinógeno ajudou a catalisar um momento da expressão artística. Mas nem sempre nem com todo mundo é assim, do tipo experimente alguma droga e saia escrevendo poemas de qualidade, pintando belos quadros e fazendo boa música por aí. Veja o que o escritor Aldous Huxley, autor de As Portas da Percepção (em que relata seu uso da mescalina), de 1954, e protagonista de experiências com LSD, disse numa entrevista à Paris Review em 1960. Perguntaram se ele via relação entre o processo criativo e o uso de drogas como o ácido lisérgico. Trecho da resposta: “Para a maioria das pessoas é uma experiência significativa e eu suponho que de um modo indireto pode ajudar no processo criativo. Mas não acredito que alguém possa se sentar e dizer ‘Eu quero escrever um poema brilhante e por isso vou tomar ácido lisérgico’. Não acho, de maneira alguma, que você vai atingir o resultado esperado.”

SANTA TRÍADE

William Burroughs (foto), Jack Kerouac e Allen Ginsberg foram os principais nomes do movimento beat, iniciado na década de 1950. Formados em Columbia (Kerouac e Ginsberg) e Harvard (Burroughs), rejeitaram a concepção de literatura vigente na época e criaram uma nova maneira de escrever

ERVA OU Pó?

Apartamento de Raul Seixas. Ele, defensor da cocaína, e Tim Maia, amante da maconha, engatam uma discussão acalorada sobre os prós e contras de cada droga. Ânimos exaltados, Tim encerra o papo dizendo que pó “afrouxa o brioco”. Por fim, acende mais um, Raul estica mais uma e quase fazem uma música juntos. A história está no livro Noites Tropicais, de Nelson Motta

GURU? EU?

Ex-ator e diretor de teatro, Fauzi Arap ficou conhecido por Navalha na Carne e Perto do Coração Selvagem, ambas peças encenadas na década de 1960. Naquele período, realizou experiências com o LSD, mas abandonou-as quando começaram a vê-lo como um guru

HEROÍNA

Gerenciados por Andy Warhol, Lou Reed e companhia lançaram The Velvet Underground & Nico em 1967. Entre as faixas, “I’m Waiting For The Man” e “Heroin” faziam referências explícitas às drogas – num tempo em que o tema ainda era tabu

PILEQUE

Zeca Pagodinho não seria páreo para Nelson Cavaquinho. O compositor de “Juízo Final” e “A Flor e o Espinho” tomava todas e mais algumas, compunha no bar e, no dia seguinte, só conseguia se lembrar das melodias que gostava de verdade

INFERNO

Coppola viveu seu próprio Vietnã de insanidades e abuso de drogas durante as filmagens de Apocalypse Now. Alguns atores usaram álcool, maconha e ácido para atuar. Martin Sheen, o protgonista, sofreu um infarto. Na trilha, “The End”, dos Doors

METEORO

Jean-Michel Basquiat, nascido em Nova York, foi um meteoro no mundo das artes. Sua carreira durou apenas oito anos e começou com grafites nos trens de subúrbio. Mais adiante, suas telas o ajudaram a exorcizar os demônios pessoais – como o vício em heroína, que o matou aos 27 anos

NA MENTE

“Tudo que escrevi até hoje foi sob o efeito de drogas, principalmente haxixe. Só uso drogas psicodélicas, não gosto das outras. Cogumelo eu também tomo bastante. Fumo cerca de 50 gramas de haxixe por semana.” Palavras de Alan Moore, criador de Watchmen, à extinta revista General

ROMANTISMO

Rimbaud (a lápis) e Baudelaire, poetas franceses do século 19, foram os expoentes da tradição romântica. Viviam em desacordo com os valores burgueses vigentes. Ambos tiveram experiências com haxixe e as colocaram no papel. Baudelaire em Os Paraísos Artificiais, livro que contém poemas dedicados ao haxixe e ao ópio, e Rimbaud em poemas como “Manhã de Embriaguez”

TROPICAL

Inventor do termo Tropicália, o artista plástico Hélio Oiticica era um transgressor por excelência. Apologistadas drogas, criou em 1973 juntamente com o cineasta Neville D’Almeida a polêmica série Cosmococas, que traz imagens de ícones como Marilyn Monroe modificadas por trilhas de cocaína

O teste do ácido do refresco elétrico

Embarque no coloridoônibus de Ken Kesey

Foi uma viagem louca. Começou em junho de 1964 nos arredores de São Francisco e terminou depois de um mês em Nova York. O veículo? Um ônibus escolar de 1939 pintado com cores berrantes. No volante, Neal Cassidy, o beatnik que inspirara Jack Kerouac a escrever On the Road. No comando, Ken Kesey, cujo objetivo era contestar a sociedade americana e propagandear o uso do ácido lisérgico, legal na época. A viagem, na verdade, começara bem antes, em 1959, ano em que Kesey, então estudante em Stanford, se voluntariou para pesquisas do governo sobre drogas psicoativas. A partir dessas experiências, ele escreveu seu livro mais celebrado: Um Estranho no Ninho. Com o dinheiro ganho com a obra, comprou umas terras, montou o grupo musical Merry Pranksters e iniciou os seus próprios testes psicodélicos, conhecidos por “Acid Tests”. Em 1964, teve de ir a Nova York para o lançamento de seu segundo livro. Foi aí, então, que teve a idéia de comprar e reformar o velho ônibus e embarcar com Cassidy e os Merry Pranksters. Ao longo do caminho, cruzaram com Allen Ginsberg, Kerouac e o “papa” do ácido, Timothy Leary, que, segundo consta, não se entusiasmou muito com o circo todo. A aventura de Ken Kesey foi reconstruída por Tom Wolfe no livro O Teste do Ácido do Refresco Elétrico.

Para saber mais

Na livraria:

The Road of Excess A History of Writers on Drugs - Marcus Boon, Harvard University Press, EUA, 2002

Waiting For the Man: The Story of Drugs and Popular Music - Harry L. Shapiro, Helter Skelter Books, Grã-Bretanha, 1999

Confissões de um Comedor de Ópio - Thomas De Quincey, L&PM, Porto Alegre, 2001

Alma Beat - Vários, L&PM, Porto Alegre, 1984

Drogas: 5 mil anos de viagem

O homem tem uma longa história de convivência com psicotrópicos - há milênios eles são usados desde em ritos indígenas até animadas festas romanas. Conheça a trajetória das principais drogas na nossa cultura.

por Texto Marco Antônio Lopes

Há cerca de 5 mil anos, uma tribo de pigmeus do centro da África saiu para caçar. Alguns deles notaram o estranho comportamento de javalis que comiam uma certa planta. Os animais ficavam mansos ou andavam desorientados. Um pigmeu, então, resolveu provar aquele arbusto. Comeu e gostou. Recomendou para outros na tribo, que também adoraram a sensação de entorpecimento. Logo, um curandeiro avisou: havia uma divindade dentro da planta. E os nativos passaram a venerar o arbusto. Começaram a fazer rituais que se espalharam por outras tribos. E são feitos até hoje. A árvore Tabernanthe iboga, conhecida por iboga, é usada para fins lisérgicos em cerimônias com adeptos no Gabão, Angola, Guiné e Camarões.

Há milênios o homem conhece plantas como a iboga, uma droga vegetal. O historiador grego Heródoto anotou, em 450 a.C., que a Cannabis sativa, planta da maconha, era queimada em saunas para dar barato em freqüentadores. “O banho de vapor dava um gozo tão intenso que arrancava gritos de alegria.” No fim do século 19, muitos desses produtos viraram, em laboratórios, drogas sintetizadas. Foram estudadas por cientistas e médicos, como Sigmund Freud.

Somente no século 20 é que começaram a surgir proibições globais ao uso de entorpecentes. Primeiro, nos EUA, em 1948. Depois, em 1961, em mais de 100 países (Brasil entre eles), após uma convenção da ONU. Segundo um relatório publicado pela entidade em 2005, há cerca de 340 milhões de usuários de drogas no planeta. Movimentam um mercado de 1,5 trilhão de dólares. “Ao longo da história, as drogas tiveram usos múltiplos que alimentaram e espelharam a alma humana”, diz o professor da USP Henrique Carneiro, autor de Pequena Enciclopédia da História das Drogas e Bebidas. Elas deram origem a religiões, percorreram o planeta com o comércio, provocaram guerras, mudaram a cultura, música e moda. Acompanhe agora uma viagem pela história das substâncias mais famosas.

Ayahuasca

Índios da bacia Amazônica tomam esse chá alucinógeno há mais de 4 mil anos – um hábito que chamou a atenção de portugueses e espanhóis assim que eles desembarcaram por aqui, no século 16. Ao chegarem à Amazônia, padres jesuítas escreveram sobre o chá da “poção diabólica” e as cerimônias que os indígenas realizavam depois de consumir o ayahuasca. Durante todo esse tempo, a bebida provavelmente teve a mesma receita: um cozido à base de pedaços do cipó Banisteriopsis caapi.

O nome quem deu foram os índios quíchuas, do Peru. Ayahuasca quer dizer “vinho dos espíritos” – segundo eles, o chá dá poderes telepáticos e sobrenaturais. Mas os quíchuas são apenas um dos 70 povos na América Latina que tomam o chá com freqüência. Na maioria dos casos, o chá é visto como uma divindade. Mas a ayahuasca também serve ao prazer: ao final dos rituais, muitos índios transam com suas parceiras.

No século 20, a fama do chá correu o mundo. Escritores viajavam para a América do Sul, enfrentavam o calor e a umidade e dormiam em aldeias para ter experiências alucinógenas. Entre os pirados estavam o poeta beatnik William Burroughs. Burroughs esteve no Brasil e na Colômbia, em 1953. Quando voltou aos EUA escreveu o livro Cartas do Yagé (yagé é outro nome do chá, tomado na periferia de Bogotá). “Uma onda de tontura me arrebatou. Brilhos azuis passavam em frente de mim”, escreveu. Depois, recomendou a bebida ao amigo Allen Ginsberg, que veio para a Amazônia em 1960. Hoje o chá é tão divulgado na internet (mais de 400 mil sites) que existem até pacotes turísticos vendidos por entidades clandestinas. A pessoa paga hotel, avião e visitas a tribos que fazem o culto. O custo: entre 1 000 e 1 300 dólares.

Cacto peiote

Cerca de 10% das mais de 50 espécies de cacto têm propriedades alucinógenas. A mais conhecida é a Lophophora williamsi, que brota em desertos no sul dos EUA e norte do México. É usada em rituais há 3 mil anos e cerca de 50 comunidades indígenas a consideram sagrada. Os huichois, do norte do México, chegam a fazer uma peregrinação anual de mais de 400 km para colhê-la. Quando a encontram, fazem um ritual: em silêncio, agem como se estivessem diante de um cervo, até lançarem uma flecha na planta. Quando voltam com o peiote para a tribo, organizam rituais e celebrações sob efeito da droga.

Algumas tribos da região, no entanto, descobriram os poderes do peiote somente no século 19. “Depois da Guerra Civil Americana, os índios comanches e os navajos viveram uma terrível crise com o extermínio dos seus búfalos e os massacres que sofreram”, conta o pesquisador da USP Henrique Carneiro. Para amenizar a fase difícil, “aderiram ao consumo religioso do peiote”. Numa das cerimônias, chamada “dança fantasma”, os índios dançavam alucinados e diziam se comunicar com os mortos.

O escritor inglês Aldous Huxley tomou a mescalina, substância do cacto. Descreveu as viagens no livro As Portas da Percepção: “Foi como tirar férias químicas do mundo real”. Mas nem só o underground era seduzido pela droga. O físico inglês Francis Crick – que em 1953 descobriu a estrutura do DNA – provou o peiote várias vezes e gostou. Em 1967, quando lançou o livro Of Molecules and Men (“Sobre Moléculas e Homens”, sem tradução em português), o cientista colocou na epígrafe a frase “Este é o poderoso conhecimento, sorrimos com ele”, tirada do poema Peyote Poem, do escritor e doidão Michael McClure.

Cocaína

Quando chegaram à América, os espanhóis perceberam que os índios da região tinham adoração pela folha da coca. Pragmáticos, passaram a distribuí-la aos escravos para estimular o trabalho. Acontece que os brancos também tomaram gosto pela coisa. E as folhas foram parar na Europa.

No Velho Continente, a planta era utilizada na fabricação de vinhos. Um deles, o Mariani, criado em 1863, era o preferido do papa Leão 13, que deu até medalha de honra ao produtor da bebida. Foi nessa mesma época que o químico alemão Albert Niemann isolou o alcalóide cloridrato de cocaína. Como tantos outros cientistas que você vai conhecer nesta reportagem, ele usou o corpo como cobaia: aplicou a droga na veia e sentiu a força do efeito.

O psicanalista Sigmund Freud investigou o uso da droga. Achava que ela serviria como remédio contra a depressão e embarcou na experiência: “O efeito consiste em uma duradoura euforia. A pessoa adquire um grande vigor”. Até que um dos pacientes, Ernst Fleischl, extrapolou e morreu de overdose. Freud, então, abandonou a droga.

Era normal laboratórios fazerem propaganda sobre a cocaína. Dizia-se que era “excelente contra o pessimismo e o cansaço” e, para mulheres, dava “vitalidade e formosura”. Somente no começo do século 20 é que políticos puritanos começaram a lutar pela proibição da droga, que praticamente sumiu do país. Só voltaria no fim da década de 1970, quando a cocaína refinada na Bolívia e Colômbia entrou nos EUA. E, mesmo proibida, não saiu mais.

Crack

Feita pela mistura da pasta de cocaína com bicarbonato de sódio, leva em segundos a um estado de euforia intenso que não dura mais do que 10 minutos. Assim, quem usa quer sempre repetir a dose. O nome crack vem desse efeito rápido, que surge como estalos para o usuário.

O consumo de crack explodiu no meio dos anos 80, como alternativa barata à cocaína. Mas a droga aparecia também em festas de universitários e até de políticos. Um desses casos ficou famoso. Em janeiro de 1990, o prefeito de Washington, Marion Barry, foi preso numa operação do FBI quando estava num quarto de hotel com uma antiga namorada, cooptada pelos policiais. Assim que ele começou a usar crack, os agentes entraram no lugar e o prenderam. Barry renunciou e ficou detido por 6 meses numa prisão federal.

Em São Paulo, o crack ainda hoje é a droga mais vendida em favelas e entre os sem-teto. No Rio, demorou muito mais para circular. “A disseminação do crack é fruto de ação do vendedor de cocaína no varejo, que produz as pedras em casa. No Rio, a estrutura do tráfico não permitia essa esperteza”, afirma Myltainho Severiano da Silva, autor de Se Liga! O Livro das Drogas. Quem vendia crack era assassinado. Mas, em crise por causa de apreensões de drogas pela polícia, os chefões do tráfico passaram a permitir a venda de crack no Rio no fim da década de 1990.

Cogumelos

Existem cerca de 30 mil tipos de cogumelos no mundo, mas só 70 provocam viagens. São os cogumelos alucinógenos, com alcalóides que, quando ingeridos, dão barato. Um segredo, aliás, há tempos conhecido pelo homem: 5 mil anos atrás o cogumelo Amanita muscaria já era colhido ao pé de carvalhos no norte da Europa e na Sibéria. Quando não o encontravam, os nativos da região bebiam até a urina de renas que comiam o cogumelo, para assim conseguir o efeito entorpecente.

No Império Romano, o cogumelo utilizado era outro, o caesarea, consumido com vinho em festas que terminavam em orgias. Outra espécie, Claviceps pupurea, que nasce de parasitas do centeio, fez sucesso por acaso em regiões da Itália durante a Idade Média. Em algumas aldeias, os pães eram feitos com farinha do centeio onde o fungo crescera. Sob o efeito do cogumelo, as pessoas dançavam sem parar em festas. Os sábios, que não sabiam que era o pão que dava barato, diziam que a euforia era causada pela picada de uma aranha. Deram a essa sensação o nome de “tarantismo” (de tarântula). Dessas festas teria surgido uma dança famosa – a tarantela.

No hemisfério sul, a variedade mais comum é o psilocybe que nasce nas fezes do gado. A mesma espécie aparece na América Central, onde arqueólogos encontraram esculturas em forma de cogumelo misturadas com figuras humanas. Datam de 500 a.C. e estão em El Salvador, Guatemala e México.

Maconha

A Cannabis sativa, originária da Ásia Central, é consumida há mais de 10 mil anos. Os primeiros sinais de uso medicinal do cânhamo, outro nome da planta, datam de 2300 a.C., na China, numa lista de fármacos chamada Pen Ts’ao Ching – um estudo encomendado pelo imperador Chen Nong (a maconha servia tanto para prisão de ventre como para problemas de menstruação). Na

Índia, por volta de 2000 a.C., a Cannabis era considerada sagrada.

A planta apareceu no Brasil com escravos africanos, que a usavam em ritos religiosos. O sociólogo Gilberto Freyre anotou isso no clássico Casa Grande & Senzala, de 1933: “Já fumei macumba, como é conhecida na Bahia. Produz a impressão de quem volta cansado de um baile, mas com a música nos ouvidos”. No Brasil, até 1905, podia-se comprar uma marca de cigarros chamada

Índios. Era maconha com tabaco. Na caixa, um aviso curioso: “Servem para combater asma, insônia e catarros”.

No século 19, a erva foi receitada até para a rainha inglesa Vitória. Ela fez um tratamento à base de maconha contra cólicas menstruais, indicado pelo médico do palácio. Hoje, há uma cultura em torno da droga que se mantém com revistas especializadas, sites e ongs defendendo seu uso. A maconha tem até torneio anual, na Holanda: a Cannabis Cup, que avalia a qualidade da droga de todos os continentes. O país, aliás, não permite o comércio livre da erva. A droga pode ser vendida apenas nos coffee shops e o limite por pessoa é de 5 gramas – suficiente para 5 cigarros.

Haxixe

A pasta formada pelas secreções de THC, princípio ativo da maconha, é consumida há milênios na Ásia – na China, foram encontrados registros de seu uso medicinal em 2500 a.C. Mas foi o comércio de especiarias que fez do haxixe uma droga “global”. Acredita-se que por volta de 2 d.C. a substância seguiu para o norte da África e Oriente Médio pelas mãos de comerciantes que iam ao Oriente em busca de especiarias. Eles recebiam haxixe como cortesia nas operação de compra e venda.

O nome, no entanto, vem do árabe – hashish significa “erva seca”. Ficou conhecido assim quando Hassan bin Sabbab, líder de uma seita xiita da Pérsia no século 11, reuniu seguidores numa fortaleza para matar soldados das Cruzadas. Antes de entrar em ação, usavam a droga. Os homens de Hassan, conhecido como Velho da Montanha, eram chamados de aschinchin – alguém sob influência do haxixe. Daí derivou a palavra assassin, ou assassino.

A droga se espalhou pela Europa no século 18. O poeta francês Charles Baudelaire e seus amigos escritores Alexandre Dumas e Victor Hugo se reuniam para fumá-la. Baudelaire gostava tanto de haxixe que fazia parte de uma ordem, a Club des Haschichiens. Nos encontros, além de usar haxixe, os participantes tinham um estranho ritual: exaltar Hassan bin Sabbab. Todos vestiam roupas árabes e um dos integrantes era eleito o Velho da Montanha.

Ecstasy

Em 1912, um químico que investigava moderadores de apetite para a empresa alemã Merck desenvolveu uma droga de nome impronunciável: metilenedioxianfentamenia, ou MMDA. Experimentou, sentiu uma leve euforia, mas arquivou a descoberta. Na década de 1960, o cientista americano Alexander Shulguin procurava um remédio que estimulasse a libido. Encontrou os papéis da pesquisa da Merk e incluiu o MMDA na lista de mais de 100 substâncias que ele testou em tratamentos psiquiátricos. A que fez mais sucesso foi justamente a MMDA, que ganhou a fama de “droga do amor”. Os pacientes diziam que ela os ajudava a ser mais carinhosos – hoje, sabe-se que a droga estimula a produção de serotonina no cérebro, responsável pela sensação de prazer.

Não surpreende, portanto, o nome que fez a substância famosa: “ecstasy”, de êxtase mesmo. Em 20 anos, as pastilhas da droga estavam circulando nas ruas. Eram combinadas com o som da música eletrônica em festas chamadas raves, que atravessavam o dia e só terminavam à tarde. Em 1988, o êcstasy foi a febre no verão inglês, que acabou batizado de Summer of Love, ou “verão do amor” , mesmo nome que os hippies deram ao ano de 1967, quando eles se entupiram de LSD. A comparação não era exagerada: as duas drogas estiveram por trás de boa parte da produção cultural jovem de suas épocas.

Heroína

A substância foi descoberta em 1874, a partir de um aprimoramento na fórmula da morfina. Os trabalhos de pesquisa nessa área já haviam levado, por exemplo, à invenção da seringa, criada em 1853 por um cientista francês que procurava maneiras de melhorar a aplicação da morfina. Batizado de heroína, o novo remédio começou a ser vendido em 1898 para curar a tosse. A bula dizia: “A dose mínima faz desaparecer qualquer tipo de tosse, inclusive tuberculose”. O nome fazia referência às aparentes capacidades “heróicas” da droga, que impressionou os farmacêuticos do laboratório da Bayer.

Logo descobriram também que, injetada, a heroína é uma droga de efeito veloz, poderoso e que provoca dependência rapidamente. Viciados em crise de abstinência têm alucinações, cólicas, vômitos e desmaios. Assim, a heroína teve sua comercialização proibida em 1906, nos EUA. Em 1913, o fabricante alemão parou de produzi-la, mas ela manteve intensa circulação ilegal na Europa e, principalmente, na Ásia. A droga voltou a aparecer nos EUA somente no começo dos anos 70, quando soldados servindo na Guerra do Vietnã começaram a consumi-la com asiáticos. Estima-se que cerca de 10% dos veteranos voltaram para casa viciados. .

LSD

O químico alemão Albert Hofmann trabalhava no laboratório Sandoz, em 1938, investigando um medicamento para ativar a circulação. Testava a ergotamina, princípio ativo do fungo do centeio, que ele sintetizou e chamou dietilamida. Tomou uma dose pequena e sentiu um efeito sutil. Somente em 19 de abril de 1943 Hofmann resolveu testar uma dose maior. O químico, então com 37 anos, voltou para casa de bicicleta. Teve a primeira viagem de ácido de que se tem notícia: “Vi figuras fantásticas de plasticidade e coloração”, contou. Apresentou o LSD (iniciais em alemão de ácido lisérgico) a amigos médicos. Hofmann hoje tem 100 anos e é um dos integrantes do comitê que escolhe o Prêmio Nobel.

O americano Timothy Leary se encarregou de ser um dos embaixadores do LSD pelo mundo. Doutor em psicologia clínica de Harvard, ministrava a droga para seus pacientes e a recomendava a alunos do campus – até ser expulso pela universidade, em 1963. Na época a cidade de São Francisco começava a se tornar capital da cultura hippie. Uma das principais atrações eram shows de rock para uma platéia encharcada de ácido fabricado em laboratórios clandestinos. Os freqüentadores pregavam o amor livre, a vida em comunidade e veneravam religiões orientais. O lema deles você conhece: “paz e amor”.

Em 1967, o movimento era capaz de reunir até 100 mil pessoas num parque. As farras lisérgicas muitas vezes acabavam em sexo coletivo. Não é à toa que o ano tenha entrado para história como Summer of Love, o “verão do amor”.

Ópio

O suco leitoso tirado da papoula branca é consumido há cerca de 5 mil anos no sudoeste da Ásia, em ilhas do Mediterrâneo e no Oriente Médio. Fez parte até da mitologia grega – era usado para venerar a deusa Demeter. A lenda dizia que, após ter sua filha Proserpina raptada, Demeter passou a procurá-la. Encontrou e comeu sementes de papoula, diminuindo a dor da perda. A imagem da deusa, então, ficou ligada à papoula – e rituais em sua homenagem incluíram o uso da droga. O nome ópio vem do grego opin, ou suco. A chegada da civilização romana não diminuiu a sua popularidade, inclusive para fins medicinais. “O ópio era a aspirina de seu tempo. No ano 312, havia na cidade de Roma 793 estabelecimentos que o distribuíam”, afirma Antonio Escohotado, em O Livro das Drogas.

Na época das navegações, a Inglaterra chegou a monopolizar a venda mundial de ópio. Entre os principais importadores estava a China, apesar de o produto ser proibido lá desde 1729. A luta contra o contrabando levou a um conflito militar entre os dois países, que durou de 1839 a 1842 e ficou conhecido como Guerra do Ópio. Os ingleses venceram e obrigaram a China a permitir o comércio da droga. Ficaram também com o território de Hong Kong, que só foi devolvido em 1997.

Para saber mais

Pequena Enciclopédia da História das Drogas e Bebidas - Henrique Carneiro, Elsevier, 2005

O Livro das Drogas - Antonio Escohotado, Dynamis, 1995

Se Liga! O Livro das Drogas - Myltainho Severiano da Silva, Record, 1997

Álcool e Drogas na História do Brasil - Org. Renato Pinto Venâncio e Henrique Carneiro, Alameda e PUCMinas, 2005

http://www.neip.info/

http://www.erowid.org/psychoactives/psychoactives.shtml

Por que gostamos tanto de drogas?

Por que gostamos tanto de drogas?

Elas detonam neurônios, geram dependência, acabam com a sua vida. Mas imitam as moléculas que seu cérebro cobiça

por Texto Marília Juste

Pelo mesmo motivo que gostamos de comer, de sexo e de exercício físico. Nosso organismo, não por acaso, é particularmente sensível às sensações de prazer, e nosso cérebro foi configurado para sempre querer mais do que é gostoso. O que não parece nada mau, não é? O problema foi que o feitiço virou contra o feiticeiro quando as drogas e seus efeitos colaterais deram as caras.

Essa “configuração cerebral” é chamada de sistema de recompensas e foi muito importante para nossa sobrevivência ao longo dos séculos. Quando nossos ancestrais faziam sexo, era gostoso, e o cérebro os estimulava a fazer mais daquilo. Mais sexo é igual a mais oportunidades de reprodução, a mais descendentes e a mais chances de sobrevivência para a espécie como um todo. Quando eles comiam, esse sistema os estimulava a comer mais. Mais comida é mais saúde e maior resistência a doenças e acidentes. E, na natureza, comida é algo escasso. O prazer, então, é só um suborno para continuar praticando o que faz bem.

Esse estímulo na verdade é uma substância chamada de endorfina, que tem o adequado apelido de “hormônio do prazer”. Esse processo todo é bastante primitivo biologicamente e pode ser encontrado mesmo em espécies bem menos complexas que um ser humano, tal como os insetos.

As drogas que viciam agem exatamente nesse mecanismo do cérebro para nos fazer cair na armadilha dos entorpecentes. Elas alteram a função do sistema de recompensas, fazendo o organismo parar de se preocupar com o próprio bem-estar e só dar atenção à alimentação do vício. Todas as fontes de prazer deixam de ter a mesma importância e só o consumo do entorpecente passa a ser agradável e desejável. Quem não entende a dificuldade que um dependente tem de abandonar o seu vício pode imaginar o seguinte: o quanto você sofre quando fica sem comida? Se estivesse morrendo de fome, o que seria capaz de fazer por comida? É uma sensação parecida com o que a ausência da droga causa em quem está viciado.

São diversas as substâncias que causam essa deturpação de um mecanismo com função tão nobre. É o caso da cocaína, do álcool, da nicotina, da heroína e também da maconha. O LSD, no entanto, apesar de causar danos cerebrais consideráveis, não age nessa área e, portanto, não vicia.

Drogas Internas

O controle da liberação de endorfina quando comemos, fazemos sexo e exercícios, dormimos ou mesmo nos protegemos do frio é feito por um sistema cerebral conhecido como sistema opióide. O nome vem do ópio, porque essa droga afeta exatamente os mesmos receptores, ou “fechaduras químicas”, dos neurônios. Essa é uma característica comum a muitas outras drogas: provavelmente por acaso, sua composição química e a estrutura de suas moléculas “encaixa” de forma suficientemente precisa em receptores dos neurônios de humanos e outros animais afetados por elas. Não é que os neurônios tenham sido “fabricados” para absorver drogas: o que acontece é que, por azar, elas são parecidas com moléculas que o organismo produz naturalmente e que funcionam como sinalizadoras no cérebro, além de cumprir outras funções, em certos casos.

O mesmo fenômeno levou à descoberta do chamado sistema endocanabinóide. É isso mesmo: todo um conjunto de sinalizadores e receptores que se assemelham ao princípio ativo da Cannabis sativa, a popular maconha. O sistema dos endocanabinóides está tanto associado a sensações de bem-estar quanto ao controle da fome, o que explica a “larica”, ou fome exacerbada, de quem fuma um baseado. Por isso, remédios contra obesidade estão começando a explorar essa propriedade.

A cafeína é a substância psicoativa (ou seja, com efeitos sobre o sistema nervoso) mais consumida do mundo. Em média, toda pessoa toma uma dose de cafeína por dia no planeta.

A forma é a função

Conheça as drogas fabricadas no interior do seu cérebro

Anandamida

Uma das principais substâncias do sistema endocanabinóide, ou seja, é um análogo do princípio ativo da maconha. Tem funções no sistema nervoso e no sistema imune (de defesa) do organismo.

Dopamina

Essencial para uma série de funções neuronais, a dopamina fica em falta no cérebro de pessoas com mal de Parkinson. Um dos efeitos do LSD afeta os receptores dessa molécula.

Endorfina

Molécula cujo nome quer dizer “morfina endógena”, ou seja, produzida pelo próprio organismo. Sua ação é a mesma das drogas da família do ópio, ligadas ao famoso sistema opióide.