segunda-feira, 2 de maio de 2011

OXI

Folha de São Paulo

O Denarc (departamento de narcóticos), da Polícia Civil de SP, apreendeu neste ano cerca de 60 kg do oxi, um novo tipo de droga feita com a pasta base de cocaína em forma de pedra oxidada, mais barata e mais letal do que o crack, com traficantes que atuam na região da cracolândia, centro da capital.Segundo o delegado Reinaldo Correa, a droga é facilmente confundida com o crack e, justamente por isso, hoje, os policiais do Denarc têm recebido treinamento para distinguir uma da outra.

"O oxi, quando queimado, deixa um resíduo de óleo. O crack não. Muitas vezes se apreende oxi e por ser uma droga ainda desconhecida, se pensa que é crack", afirma Correa.

A matéria-prima do oxi são folhas secas do arbusto Erythroxylum coca, cultivado na Bolívia, Peru e Colômbia. No preparo, os traficantes utilizam ácidos, querosene e oxidantes (daí o nome), que "empedram" a pasta base. Além da capital, a polícia paulista também já apreendeu oxi em Santos, no litoral do Estado. Em São Paulo, a pedra de oxi chega a ser vendida por R$ 2.

O oxi já está se espalhando na Amazônia. No Acre, que faz fronteira com os países produtores, Peru e Bolívia, a droga é conhecida desde a década de 1980. Nos últimos anos, porém, os usuários passaram a fumar o oxi em cachimbos como os usados com crack -antes, a droga era diluída e misturada à maconha. Em 2005, pesquisa do Ministério da Saúde e da Aredacre (Associação Acreana de Redução de Dano) deu o alerta sobre a disseminação do oxi no Estado.

CIRCULAÇÃO LIVRE

Por dois dias, a Folha esteve em Rio Branco e encontrou traficantes oferecendo a pedra de oxi por R$ 5. O movimento de pessoas fumando a droga nas ruas é restrito. Há, no entanto, jovens de classe média entre elas.

Nos últimos dois anos, a Polícia Federal do Acre apreendeu 1,4 tonelada da droga. De acordo com o delegado Maurício Moscardi, a droga entra por cidades de fronteira como Brasiléia (com a Bolívia) e Cruzeiro do Sul (com o Peru).

ÍNDIOS

A Polícia Civil do Amazonas diz que o oxi chegou à região há menos de dois anos. Indígenas estão sendo usados por traficantes como "mulas" para transportar pequenas quantidades da droga que serão vendidas.

No mês passado, uma índia foi presa com 600 gramas de oxi em Humaitá (AM).

Profissionais de saúde atuam nas ruas de Manaus e Belém atrás de usuários de oxi. "Saímos à procura deles para evitar que se chegue a "oxilândias'", diz a psicóloga Ane Louise Michetti, que participa de ação do Ministério da Saúde com usuários.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Deputado Paulo Teixeira e o tema drogas

Viomundo – Deputado, a Folha cita uma palestra do senhor. É daí que foram tiradas as informações que estão na matéria?
Paulo Teixeira — A Folha teve acesso às informações por meio de um vídeo que foi postado na internet, não sei se com a fala integral ou parcial. De qualquer forma, a matéria não expressa o que eu penso, mostra apenas uma parte, com uma abordagem sensacionalista, parcial, com frases pinçadas de um contexto. Há quinze anos acompanho este tema, em diferentes foros mundiais. Não estimulo o uso de drogas, mas acho que o problema precisa de uma abordagem menos preconceituosa.

Viomundo — Na chamada de capa, a Folha diz que o senhor defende o uso da maconha e ataca o Big Mac, dando a impressão de que estimula o uso. É isso mesmo?
Paulo Teixeira — É uma insinuação inadmissível da Folha. Toda vez que falo sobre a política de drogas, faço questão salientar os prejuízos à saúde e demais danos sociais que a droga pode causar.

Falo inicialmente do álcool, que, para mim, é o problema mais grave da sociedade brasileira. Causa acidente de trânsito, brigas com morte, violência contra mulher. A sociedade brasileira precisa proibir a propaganda do álcool na TV. Em relação à maconha, falo dos riscos à saúde do usuário, da necessidade de prevenir o seu uso. Muitos usuários podem, inclusive, desencadear doenças psíquicas pelo uso.

A realidade atual é gravíssima. Drogas ilícitas são oferecidas à luz do dia. Esse mercado é muito capitalizado. Diante desse quadro, o que fazer para torná-lo menos perigoso? Deixar os usuários consumir substâncias adulteradas? Permitir a crescente capitalização desse mercado?

Minhas propostas são retirar o usuário da esfera penal, descriminalizando o uso e a posse de drogas e esvaziar o poder econômico do tráfico. Em relação ao Big Mac, minha preocupação é estabelecer uma exigência para que os produtos alimentícios informem o teor de gordura, de sódio e gordura trans que contêm.

Viomundo — A Folha diz que o senhor defende o plantio de maconha por cooperativas de usuários. O que falou sobre isso?
Paulo Teixeira — Eu me referi a experiências de Espanha e Portugal, entre outros países, onde o problema foi abordado de uma forma pragmática. No caso da Espanha, o resultado foi importante para diminuir a exposição de usuários à convivência com traficantes e esquemas criminosos. Lá, especificamente, são permitidas cooperativas de plantio formadas por consumidores. Essa estratégia enfraquece a economia da droga.

Em Portugal, os resultados foram muito positivos também. Depois da descriminalização ocorrida há dez anos, diminuiu a violência associada ao uso de drogas, diminuiu inclusive o consumo. Lá o conhecimento por parte da autoridade policial do porte de qualquer droga pelo usuário está fora da órbita criminal e submetido a infrações administrativas, como advertências, cursos, multas, entre outras.

As experiências de Portugal e Espanha são apenas exemplos de estratégias mais pragmáticas. Não sei se servem para o Brasil, porém podem iluminar um novo caminho.

Viomundo – No Brasil, há especialistas que defendem a descriminalização da maconha. As cooperativas seriam o caminho para viabilizar essa proposta?
Paulo Teixeira – Acho importante analisar as estratégias adotadas por outros países e os resultados. A experiência Portugal, que eu acabei de citar, é muito interessante. Ao descriminalizar o usuário, distinguindo-o claramente do traficante, descapitalizou grande parte do mercado de drogas ilícitas em geral. Com isso, ajudou a diminuir a violência associada a esse mercado, com resultados fantásticos em relação à diminuição das doenças associadas ao uso de drogas.

Todos os países estão discutindo a questão das drogas leves, como a maconha, e o Brasil não pode ficar fora desse debate. Há muita hipocrisia. Quase todo mundo conhece alguma história de alguém que se envolveu com drogas. Há casos de pessoas que são apenas usuários e vão parar na cadeia em razão de um flagrante armado ou fruto de uma legislação que ainda está longe da dos países que resolveram encarar o problema de frente.

Viomundo – Nós temos uma epidemia de crack, que é uma droga devastadora, vicia rapidamente… O fato de no momento as atenções estarem focalizadas principalmente nele atrapalha o debate sobre as drogas em geral?
Paulo Teixeira – O crack é uma droga que se desenvolveu a partir do controle das substâncias químicas destinadas ao refino da cocaína. Assim, o crack é o refino da cocaína feito com substâncias muito pesadas e nocivas à saúde. Ele é produto da política de guerra às drogas.

Temos que prevenir o seu uso e tratar os eventuais usuários, o que não é fácil.

Por isso, acho importante que o tema das drogas seja discutido à luz do dia para que não cheguemos a esse absurdo que é o crack. É uma questão de saúde pública.

Viomundo — Drogas devem ser assunto de saúde pública ou de polícia?
Paulo Teixeira – O uso de drogas não pode ser assunto de polícia. Deve ser unicamente de políticas públicas.

Insisto: o usuário deve ser tratado fora da esfera penal. Isso ajuda a mudar de mãos quem cuida do assunto. Em lugar da polícia e dos traficantes, teremos a família, a escola, as atividades culturais e esportivas e a saúde para cuidar dos usuários.

Viomundo – O senhor acompanha a discussão sobre as drogas há muito tempo. O que acha da nossa da legislação?
Paulo Teixeira – Realmente, é um tema, que me preocupa muito e trato bastante. Já participei de conferências no Canadá, nos EUA, no México, em vários países da América Latina, Europa e Ásia e em vários estados brasileiros. Acho que precisamos rever rapidamente a legislação brasileira.

Viomundo – O modo de o Brasil combater as drogas está dando certo?
Paulo Teixeira — Nossa política sobre drogas é um entroncamento das políticas norte-americana e europeia. Temos muitos problemas, principalmente carcerários. Há uma grande massa de presos, que são pequenos infratores enquadrados na lei de drogas. Segundo os estudos, o perfil desses presos é o seguinte: réus primários, agiram sozinhos e sem emprego de armas. Os presídios são locais privilegiados para organização da violência no país. E esses presos, pequenos infratores por causa de drogas, são recrutados para ações criminais mais danosas à nossa sociedade.

Viomundo – Que outras consequências acarretam essa forma de se lidar com as drogas?
Paulo Teixeira — A nossa realidade é preocupante em relação ao abuso de drogas. Temos um foco na repressão, que consome grande quantia de recursos e que dilui os esforços das forças de segurança no combate ao pequeno delito de drogas, impedindo que as ações se concentrem no crime organizado. Diante disso, não conseguimos diminuir o número de usuários. A aquisição dessas substâncias dá-se no mercado ilegal, resultando em perigos de todos os tipos. Como ainda está sob a lei penal, o usuário tem risco permanente de uma abordagem desproporcional da polícia.

Viomundo – A atual política está conseguindo prevenir o uso de drogas?
Paulo Teixeira – De acordo com estudos publicados, o consumo de drogas no Brasil aumenta a cada dia.

Viomundo – Estados Unidos ou Europa, qual a melhor direção?
Paulo Teixeira — A política de guerra às drogas é hegemônica no mundo. O Brasil desenvolve políticas mais criativas em comparação aos EUA. A Europa tem conseguido resultados muito mais favoráveis com a política de redução de danos. Creio que essa é a direção mais correta.

Redução de danos é uma estratégia que busca prevenir o uso de drogas, mas atende o usuário na perspectiva de conseguir resultados progressivos para a saúde e a vida social dele enquanto ainda estiver nessa condição. Educar para evitar que seja infectado pelo vírus da Aids, da hepatite. Educar também para evitar overdose, perda do emprego, de vínculos sociais. Essas são estratégias da política de redução de danos.

Oferecer tratamento para a superação do uso e tratar das motivações que levam o usuário ao abuso são outras estratégias dos programas de redução de danos.

Viomundo — Como deveria ser a política de combate às drogas?
Paulo Teixeira — Defendo uma política democrática, com livre circulação de informações, prevenção, melhor distribuição de renda, educação, cultura e lazer. Ampliar os horizontes das pessoas.

Em relação às drogas, temos de convencer os jovens sobre a repercussão em sua saúde pelo uso ou abuso. Buscar promover espaços para o fortalecimento político da nossa juventude, para que exerçam plenamente a sua cidadania. Temos de buscar convencê-los a não usar drogas. Mas, caso usem, evitar o abuso e maiores danos à sua saúde e à sua vida. Mas, antes de tudo, é preciso convencê-los e apoiá-los.

Viomundo — A matéria diz que o senhor tem uma visão diferente da presidenta Dilma. Seria uma forma de intrigá-lo e dificultar a sua posição como líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados?
Paulo Teixeira — Tais posições são exclusivamente minhas. A presidenta está concentrada no assunto, acelerando a atenção aos usuários, aumentando os leitos hospitalares… Esse esforço terá resultados positivos. Noutra ponta do tema, o governo vem aumentando a eficácia das ações contra o crime organizado. Não tenho divergências com a presidenta Dilma Rousseff . O repórter tentou usar a questão como fonte de potencial intriga, mas se esqueceu de que tanto a presidenta como eu estamos preocupados com a questão das drogas.

Viomundo — Para finalizar, o que o senhor diria aos pais?
Paulo Teixeira – Não adianta a gente enfiar a cabeça no buraco, fazer de conta que as drogas nunca vão afetar os nossos filhos. Talvez muitos pais não saibam, mas cada vez mais as drogas são adulteradas, ficando ainda mais perigosas à saúde. Sabem que têm essa informação? Os traficantes. Sabem nas mãos de quem os jovens usuários estão hoje em dia? Nas mãos dos traficantes e da polícia.

Se quisermos mudar o rumo das coisas, temos que começar a discutir essa questão às claras, sem hipocrisia nem preconceito.

Sou pai de seis filhos. Eu e a minha esposa sempre proporcionamos ambiente aberto para dialogar com nossos filhos. Sempre que eles tiveram crises de adolescência, paramos tudo para cuidar deles. Valorizamos suas iniciativas. Sou vinculado à Igreja Católica em São Paulo. Para a construção das minhas posições, consultei teólogos, bispos, padres e leigos na área religiosa. Construí minhas posições ouvindo também médicos, sociólogos, políticos, antropólogos, cientistas sociais e demais profissionais. Aconselho a todo o pai o diálogo.


A evolução da luta contra as drogas

La evolución de la lucha antidrogas y sus consecuencias

Cuarenta años después

Por: Alejandro Gaviria / Daniel Mejia

Cuando Richard Nixon la declaró, en junio de 1971, tuvo quizás una motivación coyuntural, pero sus efectos son permanentes y de largo plazo.



En junio de 1971, hace ya 40 años, el presidente de EE.UU. Richard M. Nixon declaró la “guerra contra las drogas”. En un famoso discurso, Nixon reiteró el compromiso con la prohibición del consumo de drogas psicoactivas y anunció un paquete de ayuda militar a los países productores y exportadores de drogas ilícitas. “El consumo de drogas ha asumido las dimensiones de una emergencia nacional… el peligro no pasará con el fin de la guerra de Vietnam. Existía antes de Vietnam y existirá después”, dijo Nixon de manera enfática.

Entonces nadie previó las consecuencias devastadoras de una decisión política motivada por factores coyunturales, por el aumento del consumo de drogas entre los soldados y veteranos de la guerra de Vietnam y por la antipatía de Nixon hacia los jóvenes que se oponían a su cruzada anticomunista, muchos de ellos consumidores habituales de marihuana y otras drogas psicoactivas. Los motivos del presidente Nixon están perdidos en la historia, en los archivos de su presidencia. Las consecuencias de la guerra contra las drogas, por el contrario, son evidentes, aparecen registradas a diario en los medios de comunicación de todo el mundo. La guerra contra las drogas tuvo probablemente una motivación coyuntural, pero ha tenido efectos permanentes, de largo plazo.

En particular, la guerra contra las drogas desencadenó una serie de eventos que, a la vuelta de algunos años, llevaron a la consolidación de Colombia como el principal exportador de cocaína a EE.UU. En 1971 comenzó a escribirse la historia contemporánea de Colombia. O, mejor, a torcerse, de manera lenta pero definitiva, el destino de nuestro país.

Paradójicamente, la guerra contra los drogas produjo un aumento considerable en el consumo de cocaína en EE.UU. Las primeras medidas represivas aumentaron las multas y las penas para el consumo de marihuana, LSD y heroína, no para el de cocaína. En 1975 un documento oficial de la Casa Blanca decía que la cocaína tenía una prioridad baja: “No tiene consecuencias serias tales como el crimen, la hospitalización o la muerte”.

El consumo de cocaína se toleró abiertamente por parte del gobierno de Nixon y por parte la sociedad estadounidense. A comienzos de los años setenta, la cocaína era percibida como una droga domesticada para consumidores glamourosos, hombres de negocios, actores de Hollywood y estrellas de rock, para lo que hoy llamaríamos (cabe el anacronismo) la clase creativa. La demanda creció con la aceptación gubernamental y social. Los consumidores tenían poco que temer. No había castigo. Ni estigma. Todo lo contrario: la cocaína era percibida como la champaña de las drogas. Las fiestas en Manhattan comenzaban con martinis y terminaban con “a hit of coke”.

Al mismo tiempo que crecía la demanda de cocaína, la oferta de marihuana, heroína y otras drogas psicoactivas disminuía sustancialmente como resultado de las medidas represivas puestas en marcha por el gobierno de Estados Unidos. Miles de hectáreas de marihuana fueron fumigadas en México en los años setenta. Varias redes internacionales de distribución de heroína, entre ellas la famosa “French Connection”, fueron desmanteladas por la misma época. La marihuana comenzó a escasear en las calles de Estados Unidos. Lo mismo ocurrió con la heroína y el LSD. La caída en la oferta le abrió espacio al surgimiento de la cocaína.

El ascenso de la cocaína (y la correspondiente caída de otras drogas psicoactivas) puede estudiarse cuantitativamente. El gráfico adjunto muestra la frecuencia de aparición, en cientos de miles de publicaciones en inglés, de las palabras cocaine, LSD y marihuana. Hasta comienzos de los años setena, la palabra cocaine apenas figuraba en la literatura y en los reportes de la prensa escrita anglosajona. Una década más tarde, a comienzos de los años ochenta, su frecuencia de aparición ya superaba a la de las palabras LSD y marihuana. Desde el punto de vista del interés mediático y literario, la cocaína desplazó rápidamente a otras drogas psicoactivas. Su auge comienza, paradójicamente, con la declaración de la guerra contra las drogas.

Al principio, la creciente demanda por cocaína fue atendida por traficantes sin mucha experiencia que aprovechaban la ausencia de controles en los aeropuertos de origen y destino. Los traficantes compraban la materia prima a los cultivadores, la procesaban y la exportaban a través de mensajeros espontáneos, reclutados entre viajeros de clase media. Los chilenos dominaron inicialmente el negocio. Su preeminencia tuvo final abrupto tras el golpe de Estado de septiembre de 1973. Diecinueve narcotraficantes chilenos fueron extraditados por el nuevo gobierno militar en cuestión de meses. Bastó una insinuación de las autoridades de EE.UU. en el sentido de que los traficantes podrían financiar las actividades de los grupos de izquierda que habían entrado en la clandestinidad. La guerra contra las drogas y la lucha anticomunista tuvieron inicialmente muchos vasos comunicantes.

Los traficantes colombianos no dominaron inmediatamente el mercado de exportación de cocaína. Los cubanos radicados en EE.UU., argentinos e italianos, entre otros, participaron activamente en el tráfico tras la desaparición de los chilenos. En mayo de 1974, en uno de sus primeros informes sobre el tema, el diario colombiano El Tiempo reportó que varios estadounidenses, argentinos, chilenos, italianos y venezolanos fueron detenidos en el aeropuerto Eldorado de Bogotá mientras intentaban embarcarse con cocaína hacia EE.UU. (El Tiempo, 1974, 10 de mayo). Usualmente llegaban a Colombia por unos días, compraban la droga en Leticia u otra ciudad de frontera y salían cargados de cocaína hacia EE.UU. o Europa. Los traficantes colombianos eran un grupo más entre muchos otros. “En el mapa mundial del tráfico de drogas, Colombia es uno de los tres o cuatro países más importantes”, informó el mismo diario por aquella época (1973, 13 de mayo).

En pocos años, por razones todavía no plenamente entendidas, los traficantes colombianos se convirtieron en los principales exportadores de cocaína al mercado de EE.UU. Algunos estudiosos citan razones geográficas, otros mencionan causas sociológicas (el supuesto gusto de los colombianos por la ilegalidad). Pero el determinismo, geográfico o cultural, no es del todo convincente. La primacía colombiana bien pudo haber obedecido a eventos fortuitos, a accidentes históricos perpetuados por razones económicas, por cuenta de la ventaja competitiva que deviene del aprendizaje y la especialización.

La naturaleza azarosa, contingente, de la primacía colombiana hace más trágica la historia subsiguiente, los muchos efectos adversos del narcotráfico sobre la vida política, social y económica del país. El narcotráfico disparó la violencia. La tasa de homicidios pasó de menos de 30 por 100.000 habitantes en 1978 a más de 70 en 1990. Otros fenómenos criminales, entre ellos la extorsión, el tráfico de armas y el robo de vehículos, también florecieron como resultado de la consolidación del crimen organizado y el consecuente debilitamiento de la justicia. El narcotráfico produjo, en suma, un crecimiento acelerado del crimen violento, primero en algunos departamentos, más tarde en todo el país.

Pero el narcotráfico también afectó las instituciones. Inicialmente, infiltró los partidos tradicionales, después emprendió una guerra abierta contra el Estado y los medios de comunicación, más tarde financió la expansión de los grupos guerrilleros, posteriormente pagó por el crecimiento de los grupos paramilitares y más recientemente por el surgimiento de las llamadas bandas criminales, como bien lo ha dicho el expresidente César Gaviria. En los últimos 30 años, los mayores desafíos a las instituciones colombianas han venido directamente de grupos de narcotraficantes o han sido financiados por el dinero del narcotráfico.

El narcotráfico corrompió, desde muy temprano, la justicia, la política y muchas actividades públicas y privadas. En marzo de 1978, en medio de la elección presidencial de entonces, un reportero del New York Times escribió un extenso informe en el que señalaba, entre otras cosas, que “los narcotraficantes han surgido no sólo como una nueva clase económica, sino también como una poderosa fuerza política, con enlaces corruptos en todos los niveles de gobierno… Los dineros ilícitos afectaron las elecciones del Congreso, en las cuales muchos votos fueron comprados a diez dólares por unidad, particularmente en la costa atlántica”. Más de 30 años después su poder corruptor sigue siendo tan evidente como entonces.

Pero las consecuencias no pararon allí. Las relaciones internacionales del país se “narcotizaron”, pasaron a estar completamente dominadas por el tema de la droga. Colombia comenzó a ser percibida simplemente como un país productor y exportador de cocaína. Cada exportación, cada movimiento de capitales y cada viaje al exterior de un colombiano eran considerados sospechosos. La exportación de cocaína no sólo transformó la realidad interna: también distorsionó las percepciones del mundo sobre el país.

En síntesis, el narcotráfico transformó profundamente la sociedad colombiana. En palabras de la historiadora Mary Roldán, el tráfico de cocaína “rompió la tradición, transformó las costumbres sociales, reestructuró la moral, el pensamiento y las expectativas”. Las consecuencias son todavía visibles, forman parte de la realidad económica, social e institucional de Colombia. Las causas son más difíciles de precisar. Son parte de una historia compleja, no plenamente resuelta, una historia que comenzó hace ya 40 años con la declaratoria de la guerra contra las drogas.

Colombia ha sufrido más que ningún otro país las consecuencias de la guerra antidrogas y, 40 años después, puede decirse, sin salvedades, con la certeza que dan muchos años de padecimientos, que fue la principal víctima de una guerra absurda que aún no termina.

El capítulo Colombia
El 13 de julio de 2000 el Congreso de Estados Unidos aprobó el Plan Colombia, una iniciativa que venía siendo discutida por las administraciones de Andrés Pastrana y Bill Clinton con la intención de promover el proceso de paz, la lucha contra el narcotráfico, la reactivación de la economía colombiana y el fortalecimiento de los pilares democráticos de la sociedad colombiana.

Once años después de haber sido puesto en práctica son muchas las voces que aseguran que fue un fracaso ya que no cumplió con el objetivo de reducir en 50% el cultivo, procesamiento y distribución de drogas ilegales. Sin embargo, hay quienes sostienen que su principal logro fue asentar las bases de la “seguridad democrática”.

Lucha antidrogas en Colombia: éxitos y fracasos
Hoy será lanzado en la Universidad de los Andes de Bogotá el libro Política antidroga en Colombia: éxitos, fracasos y extravíos, un documento dividido en 15 capítulos que analiza el problema del tráfico de estupefacientes en el país desde la perspectiva de la producción, el tráfico y las políticas públicas que han adelantado los gobiernos para combatirlo.

Alejandro Gaviria y Daniel Mejía fueron los compiladores del informe, que analiza los impactos de la lucha nacional antidroga en los aspectos social, económico e institucional. Inspirados en el mismo trabajo hicieron la versión que publica hoy este diario.

  • Alejandro Gaviria / Daniel Mejia | Elespectador.com

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tarso Genro

O Estado de São Paulo


O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), acredita que a sociedade poderia ser mais tolerante com o uso de determinados tipos de drogas, como a maconha, mas em circunstâncias diferentes das atuais e somente depois de estudos que avaliassem as consequências de uma eventual liberação. A posição foi manifestada durante a resposta à pergunta de um estudante, depois de uma aula magna na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O tema da palestra era Universidade e o Futuro da República. Inicialmente, Tarso ressaltou que não defende a descriminalização do uso de drogas, mas admitiu a hipótese de alguma liberalidade mediante determinadas circunstâncias. "Se a gente pudesse regular a questão da droga de forma que ela não fosse um componente econômico dessa decadência civilizatória, vamos chamar assim, eu não vejo problema de que ela pudesse ser liberada em circunstâncias muito específicas", argumentou. "As pessoas terem tolerância com a Cannabis sativa é diferente do que com a heroína. Eu nunca vi alguém matar por ter fumado um cigarro de maconha", disse. "Acho que tem de fazer uma distinção científica sobre o que é comprometedor efetivamente à saúde e à sanidade mental para trabalhar essa questão de maneira equilibrada."

Cisne Negro


Natalie Portman contou em entrevista ao jornal "The Sun" que fumou maconha quando ainda estava na faculdade. "Eu adoro comédias sobre maconha. Eu fumei quando estava na faculdade, mas já não fumo há anos", disse. "Estou muito velha agora. Eu durmo às 22h", completou. Sobre a carreira, a atriz contou que se sentiu lisonjeada pelo convite para um papel cômico em "Your Highness". "É muito diferente de tudo que já fiz", disse. As informações são do Ego.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Praça Santos Andrade é palco de movimento contra a liberaçãoa da maconha

[24-03-2011] Jovens e lideranças religiosas do Movimento Contra a Liberação da Maconha se reuniram nas escadarias da Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba, na manhã de hoje (23/03). O objetivo foi criticar as organizações que defendem a legalização e a descriminalização da maconha no Brasil. O vereador Pastor Valdemir Soares, um dos idealizadores do movimento no estado do Paraná e coordenador da Campanha Curitiba te Quero Sem Drogas, afirma que os argumentos para a legalização da maconha são infundados, "hoje temos inúmeros exemplos do poder destruidor da maconha, muitas famílias estão sendo desfeitas por intermédio da droga”. Vestidos com camisetas pretas, com a inscrição “Maconha não”, os manifestantes cantaram músicas famosas em versão gospel. Na ação foram distribuídos materiais reflexivos sobre os efeitos negativos das drogas.

terça-feira, 1 de março de 2011

Políticas de redução de danos, Despenalização e Descriminalização


As políticas de redução de danos consistem numa estratégia que trata o consumo de drogas como uma questão de saúde pública, na qual o dependente é visto como pessoa que precisa ser auxiliada ao invés de criminoso que deve ser castigado. O objetivo inicial dos países que desenvolveram a política de redução de danos foi regulamentar a distribuição de seringas, agulhas e cachimbos aos usuários de drogas, com a finalidade de reduzir o número de casos de doenças como AIDS e hepatite, cujo risco de contaminação é alto quando há o compartilhamento de seringas. Posteriormente esta política passou a incluir programas de apoio e tratamento de pessoas dependentes.

A despenalização é definida por Cervini como “o ato de diminuir a pena de um ilícito sem descriminalizá-lo, quer dizer sem tirar do fato o caráter de ilícito penal”. Ou seja, a proibição legal do uso e porte de entorpecentes continua vigente no direito penal, mas o ilícito deixa de ser sancionado com a privação de liberdade. O problema colocado pela despenalização do consumo, mantendo sua criminalização, é que ela ainda outorga à autoridade policial um alto poder discricionário. Em países onde a corrupção da força policial é endêmica, a criminalização pode ser utilizada para chantagear o usuário de drogas, prática comum em países da América Latina.

A descriminalização retira o status de lei criminal daqueles atos aos quais se aplica. Isso significa que certos atos deixam de ser considerados crimes. Em relação às drogas, geralmente se refere à demanda; atos de aquisição, posse e consumo. De acordo com a descriminalização, ainda é ilegal usar, possuir, adquirir ou, em alguns casos, importar drogas, mas esses atos deixam de ser crime. Entretanto, ainda podem ser aplicadas sanções administrativas; essas podem ser uma multa, suspensão da licença de dirigir ou do porte de armas, ou apenas uma advertência. Ao contrário, a legalização é o processo de trazer para o controle da lei uma atividade específica que foi previamente ilegal e proibida ou estritamente regulada.

Palestras que alienam professores

Correio Educação
Seg, 28 de Fevereiro de 2011

Palestras que alienam professores
José Antônio dos SantosProfessor de Filosofia e mestre em Educação Palestras que diretores contratam para motivar professores têm sido como anestésico. Mais alienam e adiam problemas por não discutirem soluções educacionais. Comem o mingau pela beirada, pois palestrantes desconhecem o projeto pedagógico das escolas. Elas entorpecem a mente; geram pequenez da atividade educativa. Docentes apáticos, alienados e passivos gostam delas, pois adiam a dor do momento de assumir de frente e com coragem a mudança da prática escolar. Leia a receita pronta do Içami Tiba, abaixo: “Cada início de ano letivo, cada mês, cada semana, cada dia, cada aula é uma oportunidade que o professor tem para estimular o aluno a abrir as portas que o aprisionam na ignorância. Um dos poderes negligenciados pelo professor é o de que ele é um dos mais importantes integrantes na formação do papel de aluno. Um bom professor desenvolve bons alunos. Um mau desencaminha os bons e lesa os mais fracos, faz do desanimado um excluído.”Que romântico senhor, Içami Tiba. Eu lhe agradeço muito por nos atribuir qualidades de heróis. O senhor aceitaria participar desse heroísmo, deixando de ganhar de R$ 15 mil a R$ 60 mil, ou mais, por suas palestras, para encarar uma turma daquelas bem sem base cognitiva, sem sonhos, tanto nas escolas públicas, quanto em particulares; filhos da classe trabalhadora e média? Por sinal, que tal o senhor motivar seus filhos a serem ‘importantes integrantes da formação de alunos’? Ou, acha que eles também ‘negligenciam esse poder’, senhor? Eminência parda, né?!!“Se cada professor se preparasse para dar a sua aula como os músicos que me precederam na palestra o fizeram, a receptividade dos alunos seria muito diferente daquela a que ele está acostumado. Talvez os alunos no início sejam espelhos do entusiasmo do professor para, mais tarde, tomarem um caminho próprio, o da indiferença, da perda da esperança em aprender traduzida como falta de vontade de estudar.”Por quantos dias o senhor acha que a “música” duraria? Sabe que hoje em dia a maioria dos alunos não distingue os que lhes querem bem dos que ‘não estão nem aí pra eles’? O senhor consegue entender que tratam todos com a mesma indiferença e banalizam as relações tanto com professores dedicados, quanto com os não-dedicados? Sabe até que dia os alunos ficam “na boa” com os professores, senhor? Até o dia que recebem a primeira nota baixa. Senhor, acho que suas palavras são fantásticas. Mas, se eu estivesse nessa sua palestra, eu me sentiria agredido. “O professor, além do conteúdo da aula, passa o entusiasmo através da sua Performance. Se o conteúdo nutre a competência, a Performance anima a alma, eleva a autoestima de cada aluno e o transforma em animador.”Eu o convido, Tiba, a dedicar sua Performance em uma escola pública com alunos de periferia, sem base cognitiva e sem sonhos; com um salarinho bem ridículo e sem nenhum incentivo pedagógico de órgãos superiores do Estado. O senhor aceita? Tem mais: Aceita viver na condição de ouvir o governador de Estado prometendo plano de carreira e incentivo à formação continuada apenas em véspera de eleições? “A motivação do professor deve permanecer além da aula, pelo curso, para a vida. Enquanto houver algo a ser ensinado ou alguém tiver algo a aprender não serão os estímulos contra a corrente que a extinguirão.” Que coisa angelical e imaculada! Eu sairia de uma palestra com esse palavrório. Isso é agressão! Insulto à minha inteligência que é abaixo da média. Imagine aos outros!“A Performance tem que ser proporcional aos desafios. Cada início é a grande oportunidade de animar o aluno a estudar e também de fortalecer a motivação de que o futuro dos seus alunos está agora em suas mãos.”Senhor, menos! Esse entusiasmo se justifica pelo que o senhor ganha por palestras, mas é cruel para um problema tão vital como a educação.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/colunas/icami_tiba/2011/02/01/feliz-aula-nova.jhtm.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Polícia Civil interdita farmácia e prende proprietário




Bragança Paulista - Sexta-Feira, 11 de Fevereiro de 2011
Notícias - Polícia
11/02/2011
Polícia Civil interdita farmácia e prende proprietário
Da redação
Fotos: Fabiano Costa / BJD

Fotos: José Archimedes B. Costa / BJD
Anderson Pires, da 2a Delegacia de Crimes Contra Saúde Pública e Lauro Mario Mello de Almeida, da Seccional de Bragança, durante a entrevista.
A Polícia Civil, por meio da 2ª Delegacia de Crimes Contra a Saúde Pública, de São Paulo lacrou e prendeu, nesta quinta-feira, 10, o proprietário de uma farmácia no Bairro do Cruzeiro por venda de medicamentos vencidos e controlados sem autorização da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Outras farmácias foram vistoriadas e receberam as notificações relativas às irregularidades encontradas.O farmacêutico, Ivan Sérgio da Costa foi preso e autuado em flagrante sob a acusação de tráfico de entorpecentes. Segundo Lauro Mario Mello de Almeida, delegado assistente da Seccional de Bragança Paulista, a fiscalização da ANVISA na farmácia Farma Viva, localizada no cruzamento das ruas Inverno e João Franco foi resultado de um pedido do Ministério Público (MP) que provocou a abertura de Inquérito Policial com objetivo de coibir o crime. “Para que pudéssemos apurar as denúncias, foi solicitado auxílio da 2ª Delegacia de Crimes Contra a Saúde, que em parceria com a ANVISA, pôde identificar que os medicamentos eram irregulares”. Ao todo, três estabelecimentos foram visitados. Na Farma Viva, estabelecimento alvo de denúncias, a Polícia Civil encontrou, além dos medicamentos cuja venda é controlada, outros com prazo de validade vencido sendo comercializados normalmente. “Ivan responderá por crime contra as relações de consumo por permitir a venda de produtos vencidos e também por tráfico de entorpecentes, já que praticou o comércio de medicamentos controlados sem a permissão da ANVISA”, explicou o delegado Anderson Pires Giampaoli, da 2ª Delegacia de Crimes Contra a Saúde Pública, de São Paulo. Uma segunda farmácia, cujo nome não foi citado durante a entrevista concedida no final da manhã desta quinta-feira, 10 na Delegacia Seccional, foi visitada e interditada, mas de acordo com o delegado Anderson Pires não foi encontrada nenhuma irregularidade. “Esse estabelecimento também foi interditado, pois não tinha autorização da Vigilância Sanitária do Município (VISA) para funcionamento. Foi uma interdição administrativa, sem nenhuma consequência criminal, portanto sem interesse da Polícia Civil”, disse Giampaoli. Já Maria Amália Gouvêa Oliveira, secretária municipal de Saúde, informou, via telefone, que foram interditadas a Drogaria Santa Cruz, no bairro Santa Libânia e a Reis Farma, no Parque dos Estados, também por não possuírem autorização de funcionamento da ANVISA.Um terceiro estabelecimento visitado foi a Farmácia da Rodoviária, de propriedade do ex-vereador Wanderley Luiz do Prado que em outubro de 2009 foi preso em flagrante sob acusação de comercializar remédios falsificados. O ex-vereador e a farmacêutica, Vanessa Ramos respondem ao processo em liberdade. Conforme as informações, a farmácia também foi autuada pela VISA Municipal por questões administrativas, mas continua em funcionamento. Sobre a acusação de falsificação de medicamentos, o delegado Giampaoli reforçou que não há dúvidas da falsificação dos lotes de medicamentos apreendidos na farmácia do ex-vereador. “A empresa que fabrica o produto Viagra confirmou que os lotes encontrados na Farmácia da Rodoviária não eram cadastrados e não haviam sido fabricados, portanto eram falsificados”. O delegado disse também que em breve a justiça deve sentenciar os acusados. Sobre a vistoria feita na farmácia do ex-vereador, Maria Amália explicou que foram apreendidos fitoterápicos sem autorização da ANVISA e ração humana com validade vencida. O que resultou numa notificação da AANVISA e poderá ser multado.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Drogas - a mão que salva

Drogas - a mão que salva
10 de janeiro de 2011 0h 00
Carlos Alberto Di Franco - O Estado de S.Paulo
Retomo, amigo leitor, com tristeza e preocupação, o tema de recente artigo publicado neste espaço opinativo: o flagelo das drogas. O avanço da dependência química no Brasil é assustador. E o crack, brutalmente devastador, ocupa o primeiro lugar no mapa da morte. Em mais de 3.800 dos 5.500 municípios brasileiros há graves problemas de segurança pública, saúde e assistência social decorrentes do consumo do crack. Como lembrou recente editorial do Estado, o consumo da droga já se disseminou por todas as regiões do País, expandindo-se dos grandes centros urbanos para as cidades de pequeno e de médio portes e até para zonas rurais. As estimativas mais conservadoras são de que o consumo do crack leve cerca de 300 mil pessoas à morte nos próximos seis anos.
Essas informações foram divulgadas pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), com base num estudo de amplitude nacional. "O Brasil não tem nenhuma política de enfrentamento do crack, seja por parte de municípios, Estados ou União. Fizemos um grande esforço para a redução da mortalidade infantil, mas não há nenhuma política de prevenção da mortalidade juvenil. Estamos salvando nossas crianças, mas deixando-as morrer na juventude", diz o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, depois de classificar a expansão do consumo de crack como "epidemia nacional" e de reclamar da escassez de recursos para conter a disseminação do vício entre os jovens.
A verdade precisa ser dita. Não se pode sucumbir à síndrome da avestruz quando o que está em jogo é a vida das pessoas. O hediondo mercado das drogas está, de fato, dizimando a juventude. Ele avança e vai ceifando vidas nos barracos da periferia abandonada e no auê dos bares e boates frequentados pela juventude bem-nascida. Movimenta muito dinheiro. Seu poder corruptor anula, na prática, estratégias meramente repressivas. A prevenção e a recuperação, as únicas armas eficazes a médio e a longo prazos, reclamam um apoio mais efetivo do governo e da iniciativa privada às instituições sérias e aos grupos de autoajuda que lutam pela reabilitação de dependentes.
Não se faz jornalismo, nem mesmo matéria de opinião, fechado entre as quatro paredes de uma redação ou circunscrito ao rarefeito ambiente de um laboratório acadêmico. É preciso ver, ouvir, apurar, sentir, refletir e só então escrever. Nada supera o realismo da velha e boa reportagem. Com esse espírito, movido pelo dever de obter informação verdadeira, mergulhei numa pauta assustadora: a dependência química.
Cabeça baixa, olhos cravados no chão, coração encharcado de dor. "Será que Deus ainda olha para mim?" Paira no ar uma tristeza densa, que se pode cortar. A falência da autoestima e o sentimento de culpa, à semelhança de uma laje de chumbo, esmagam a alma. A cena, dura e forte, retrata o day after de um adicto de cocaína. O drama, tragicamente rotineiro no frio anonimato da cidade sem alma, não é um recurso ficcional. É real. Tem nome e sobrenome, obviamente preservados por razões éticas elementares. Recuperou-se na Comunidade Terapêutica Horto de Deus, em Taquaritinga, no interior de São Paulo (www.hortodedeus.org.br). Seus olhos recobraram a luz da esperança. Retomou os estudos, concluiu a faculdade de Publicidade e Propaganda e está batalhando. Com cabeça erguida e dignidade resgatada. Sua história, parecida com a de milhares de jovens, deve ser registrada. E a mão que o salvou, o Horto de Deus, merece uma matéria.
Com gravíssimas dificuldades financeiras e sem nenhum apoio dos governos, embora não faltem falsas promessas de ajuda de políticos oportunistas e de prefeitos de turno, a entidade tem sido responsável pela recuperação de inúmeros dependentes químicos. Os governos não se dão conta de que o trabalho dessas instituições repercute diretamente na qualidade da segurança pública e no custo da saúde. Elas rompem o círculo vicioso das drogas e criam o círculo virtuoso da recuperação e da ressocialização.
Reuni-me com internos do Horto de Deus. A conversa, franca e direta, foi ao cerne do problema, desfez inúmeros equívocos e me transmitiu a sinceridade afiada daqueles que conheceram o fundo do poço. Ao contrário, por exemplo, dos que defendem a descriminalização das drogas e proclamam o caráter supostamente inofensivo da maconha, todos afirmaram que o primeiro baseado foi o passaporte para as drogas mais pesadas. T. K. M., de 21 anos, fumou seu primeiro cigarro de maconha aos 12. Com 16 anos já tinha mergulhado na cocaína. Chegou à comunidade terapêutica dominado pela dependência do crack. Recupera-se bem, resgatou valores e recuperou a esperança. "Agora eu sonho com o futuro. Antes vivia só para as drogas." Seus olhos têm brilho. Um belo exemplo do que pode fazer um bom trabalho de recuperação.
Debates no Congresso Nacional sugerem que as comunidades terapêuticas, bem como as demais instituições idôneas que trabalham na recuperação de adictos, possam, num futuro próximo, receber recursos provenientes do Fundo Nacional Antidrogas e do Sistema Único de Saúde (SUS). Seria uma providência inteligente. É sempre melhor apoiar o que já funciona, e bem, do que cair na tentação de criar novas estruturas. Na verdade, as comunidades terapêuticas no Brasil, hoje, são responsáveis por boa parte da assistência ao dependente e a seus familiares.
O governo da presidente Dilma Rousseff precisa olhar o trabalho das comunidades terapêuticas com seriedade. Elas são, de fato, as grandes parceiras no cerco ao submundo das drogas. Impõe-se um decidido apoio às entidades idôneas que batalham pela recuperação dos dependentes. Afinal, um adicto recuperado é o melhor aliado na luta contra as drogas.
DOUTOR EM COMUNICAÇÃO,
É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO E-MAIL: DIFRANCO@IICS.ORG.BR

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ministro da Justiça vai discutir uso de drogas




O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que é a favor de uma discussão pública sobre a descriminalização do uso de drogas. Durante gravação do programa 3 a 1, da TV Brasil, o ministro declarou que o assunto “precisa ser colocado para a sociedade”. O programa vai ao ar nesta quarta-feira (5/1), às 22 horas. As informações são da Agência Brasil.
Cardozo não deixou clara sua posição a respeito da descriminalização, e chegou a afirmar que “posições muito vanguardistas são desastrosas”. À Agência Brasil, ele afirmou que a discussão pode evoluir para uma consulta, por meio de plebiscito ou de referendo. O novo governo transferiu a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) para o Ministro da Justiça.
Reformas judiciaisDurante o programa, Cardozo também falou sobre mudanças no Judiciário. Ele defendeu a redução da possibilidade de recursos processuais, a informatização da tramitação dos processos e o acesso mais barato e democrático à Justiça.
O ministro afirmou que os problemas enfrentados nessa área são “do sistema” e “não dos juízes”. Cardozo disse ainda que pretende mudar o nome da Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça para “Secretaria do Judiciário” ou “Secretaria de Assuntos Judiciários”.
Comissão da VerdadeO ministro afirmou ser a favor do Projeto de Lei 7.376/2010, que cria a Comissão Nacional da Verdade para apurar crimes contra os direitos humanos – sequestro, tortura, estupro e assassinato – praticados por militares e policiais durante a ditadura militar (1964-1985).
A proposta provocou uma indisposição entre as pastas de Defesa e de Direitos Humanos no governo Lula e aguarda tramitação na Câmara dos Deputados desde maio de 2010. “Reparação da verdade é fundamental”, disse Cardozo, ao apontar que, se houver divergência interna no governo, quem decide sobre a questão é a presidente Dilma Rousseff.
Ele acredita também que a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos, de condenar o país por impedir a penalização de autoridades envolvidas com os desaparecimentos e torturas pode levar o Supremo Tribunal Federal a rever sua posição.
Para a Corte Intereamericana houve violação de direitos fundamentais de 62 pessoas desaparecidas durante a Guerrilha do Araguaia (ocorrida no início dos anos 1970) e o país não prestou esclarecimentos aos parentes sobre o paradeiro dos corpos dessas pessoas. O Supremo Tribunal Federal considerou que a Lei de Anistia, editada em 1972, anistiou atos tanto de guerrilheiros contrários ao governo quanto de agentes públicos durante o regime de exceção.
“Como isso vai se desdobrar, não cabe a mim antecipar”, afirmou, ao ressaltar que a sua opinião era uma “interpretação jurídica” e não um questionamento de decisão do STF. Ainda sobre a ditadura militar, o ministro se posicionou favoravelmente ao “acesso garantido, conforme a lei” aos arquivos sobre o período.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Drogas, debate e ação

por Fernando Gabeira Seção:
06.janeiro.2011
O Estado de São Paulo
O Ministro José Eduardo Cardozo manifestou-se pela abertura de um debate sobre a política de drogas. Já vi esse filme, no governo Fernando Henrique. Os debates convergiram para uma nova lei, que não é perfeita, mas, de uma certa forma, expressou a visão da maioria no Congresso. Os debates devem ser feitos sempre. Um deles deveria ser prioritário: a reforma da policia. É um tipo de discussão que traz à mesa temas incômodos para o governo, como por exemplo, a PEC 300, que aumenta os salários de policiais e bombeiros
Compreendo a importância de um orçamento equilibrado, mas é inegável que a polícia, em muitos estados do Brasil, ganha muito pouco. Que tipo de policia queremos? Quanto estamos dispostos a pagar por ela?
Seria ingênuo supor que aumento de salários resolve por si o problema. É apenas uma condição necessária. O tema deveria interessar às duas pontas do debate sobre drogas. Uma policia ineficaz não consegue reprimir a produção, comércio e uso, nem consegue conter os efeitos colaterais de uma legalização.
Num ato simbólico, a presidente Dilma transferiu a Secretaria Nacional Antidrogas da Casa Militar para o Ministério da Justiça. Dilma quis mostrar que o problema não é militar. Concordo com ela. Mas é preciso deixar claro que isso é simbólico, pois o general Paulo Roberto Uchoa foi um batalhador dedicado. Não avançou o que poderia ter avançado , por falta de investimento nacional em prevenção e tratamento. Dificilmente alguém faria melhor que ele. Mostrou-se sensível ao problema do alcoolismo e o colocou na agenda. Pessoalmente, depois de uma visita aos guaranis aos xavantes , fui solicitar a ele um programa para algumas comunidades indígenas que estão sendo devastadas pela cachaça. O general Paulo Roberto Uchoa respondeu bem. Além disso, participou de todos os debates para os quais foi convidado. Chega um ponto em que os debates ficam cansativos, sobretudo quando não se acompanham de investimento e ação concreta.