quarta-feira, 28 de maio de 2014
5 descobertas de Haddad na cracolândia e a queda dos mitos. Bruno Paes
sábado, 17 de maio de 2014
sábado, 3 de maio de 2014
Mújica explica !
Mujica explica legalização da maconha no Uruguai
Nos domínios da sua pequena fazenda a meia hora de carro de Montevidéu, José Mujica acabou de fazer sua colheita anual de acelga. Mas, como presidente do Uruguai, ele vai supervisionar um experimento sem precedentes e um cultivo muito mais controvertido: o país de 3 três milhões de pessoas em breve se tornará o primeiro no mundo a legalizar, regular e participar da produção, venda e taxação da maconha.
A “revolução da erva” do Uruguai está sob o escrutínio de todo o mundo enquanto líderes internacionais lutam com a piora crítica da longa “guerra às drogas”.
Mujica, um ex-guerrilheiro e preso político de 78 anos, virou manchete depois de sua decisão de abster-se do palácio presidencial em favor de sua chácara em ruínas e de 90% de seu salário.
Mas em uma entrevista realizada com o Telegraph na sala da frente de seu mal iluminado bangalô, onde vive há 30 anos, o aquecimento fornecido por um antigo fogão a lenha, ele expressou surpresa com a polêmica internacional.
“Nós visamos o tráfico de drogas”, disse. “Não é uma lei de apoio ao vício. É uma maneira de lutar contra a economia do mercado negro”.
Mujica soa lírico, mesmo quando eu falo do flagelo das drogas. “Todo vício é uma praga, exceto o amor”, diz o presidente, cujo único flerte com abuso de substâncias é o hábito do cigarro.
“Se você tomar dois uísques todos os dias, isso é ok, embora não seja bom. Mas se você tomar uma garrafa inteira todos os dias, então você tem um problema e deve ser tratado.”
Sob a lei nova e radical, que entra em vigor neste mês, não só os cidadãos e empresas privadas estão autorizadas a criar, comprar e vender cannabis, como o governo entrará no negócio – cultivando e colhendo a safra, distribuindo, vendendo e tributando os lucros.
A legislação é muito mais radical do que na famosa Holanda liberal, onde o cultivo permanece proibido, ou nos novos acordos nos estados de Colorado e Washington, onde não há envolvimento direto do governo dos EUA.
Mujica e seus aliados argumentam que a nova política oferece uma alternativa inovadora para o que eles chamam de falhas da “guerra às drogas” defendida pelos EUA na América Latina, que já matou dezenas de milhares de pessoas em países produtores, enquanto pouco é feito nos países consumidores da Europa e nos Estados Unidos.
Com seu principal porto na cidade de Montevidéu e suas fronteiras com o Brasil, Argentina e Paraguai, o Uruguai tem uma experiência como ponto de trânsito do tráfico em todo o continente e para a Europa. “A droga é produzida principalmente na América Latina, mas os maiores consumidores são os países ricos”, diz Mujica, ecoando um lamento familiar aos líderes da região.
A lei tem como objetivo dar um golpe nos cartéis através da remoção de um dos seus maiores meios de ganhar dinheiro. “Se você quer mudar a realidade, é tolice continuar fazendo a mesma coisa em vez de mudar alguma coisa, mesmo que não seja bem-sucedido”, afirma Mujica.
Com a nova lei, os uruguaios serão capazes de comprar uma quantidade limitada de cannabis, que deverá ser de 40 gramas por mês, por um preço competitivo em farmácias ou em balcões normalmente utilizados para o pagamento de contas ou para trocar dinheiro.
Os usuários terão que se registrar em um banco de dados em poder do governo e aqueles que fazem pedidos excessivos serão encaminhado às autoridades de saúde para tratamento. O banco de dados também visa assegurar que só os habitantes do Uruguai comprem a mercadoria e assim reduzir os riscos de turismo da droga.
A lei da maconha é uma das três leis levaram o governo Mujica – em seu segundo mandato com a coalizão de esquerda Frente Ampla – a dar ao Uruguai a reputação improvável de país mais liberal da América Latina. O casamento entre pessoas mesmo sexo foi introduzido em setembro passado, enquanto um ano antes o aborto foi legalizado.
Mas, no país católico e conservador, as pesquisas de opinião têm mostrado que muitos uruguaios não gostam da “revolução da erva”. A oposição vem tanto daqueles que acreditam que isso vai incentivar o uso quando dos que simplesmente não apoiam a “nacionalização” do comércio de cannabis.
Seus críticos citam a recente reação na Holanda, onde a posse de até cinco gramas de maconha é legal desde 1976 e que recentemente proibiu a venda a estrangeiros em seus cafés.
Mujica diz que seus adversários estão simplesmente “assustados” com tal mudança dramática.
Também admitiu que a nova lei poderá abrir o caminho para a descriminalização de outras drogas.
Há, entretanto, desafios práticos para a implementação da política nova e ambiciosa porque, por enquanto, o Uruguai não produz o suficiente para atender a demanda.
Os líderes da Frente Ampla, incluindo a senadora Lucia Topolansky, que também é a primeira-dama, sugeriu que produtores canadenses de maconha medicinal preencherão a lacuna nesse ínterim. “Para começar, teremos que comprar cannabis”, disse ela recentemente. “Eu acho que vamos comprar do Canadá porque ali tem o produto de melhor qualidade”. Isso era novidade para o Canadá, onde um porta-voz do Ministério da Saúde disse que não havia “nenhum plano” para exportar a maconha para o Uruguai ou qualquer outro lugar.
Para Mujica, o seu papel na vanguarda da política de drogas internacionais é outro capítulo de uma vida notável. Enquanto se prepara para deixar o cargo no próximo ano e planeja criar uma escola para ensinar agricultura em sua amada chácara, o autodeclarado ateísta refletiu sobre seu momento. “Eles dizem que eu sou um presidente pobre, mas eu não sou”, disse. “Eu sou um presidente sóbrio”.
“Eu me acostumei a viver por muitos anos em uma masmorra, onde nas noites em que eu tinha um colchão eu ficava feliz. Eu não consigo acreditar em Deus, mas acredito a cada dia um pouco mais na natureza. Aprendi essa lição muito simples: a vida é bela, então você tem que vivê-la com intensidade e buscar a felicidade”.
Florida e maconha para fins medicinais
A maconha para fins medicinais ganha a primeira batalha na Flórida
O Estado norte-americano aprova uma lei que autoriza o uso de um tipo de cannabis com baixos níveis de THC, para o tratamento de convulsões
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O uso da maconha para fins medicinais ganhou a sua primeira batalha legal na Flórida. Nesta sexta-feira, no último dia de sessões do ano legislativo, o Parlamento local aprovou uma lei que autoriza o uso de um tipo específico de cannabis que se caracteriza pelo baixo nível do principal princípio ativo da planta (THC), e que já é utilizado em outros Estados norte-americanos para o tratamento de câncer, espasmos musculares e convulsões crônicas, especialmente em crianças. O governador da Flórida, Rick Scott, se comprometeu a promulgar a norma tão cedo esta chegue ao seu gabinete. Em 4 de novembro, os eleitores participarão de um referendo para decidir se o uso medicinal da maconha será ampliado para uma categoria mais ampla de patologias.
Tão logo o governador Scott assine a lei, será licito o cultivo da espécie de cannabis conhecida nos Estados Unidos como “Charlotte’s Web”: um tipo com baixo nível de tetraidrocanabinol (THC) e uma concentração regular de canabidiol (CBD), uma substância química de eficácia comprovada no tratamento das convulsões crônicas. A planta foi batizada em homenagem a Charlotte Figi, uma criança de sete anos diagnosticada com a síndrome de Dravet quando tinha apenas dois. Charlotte costumava ter até 300 episódios de convulsões por semana, e em várias ocasiões o seu coração chegou a parar; desde que começou a tomar duas doses diárias de extrato de cannabis misturado a azeite por via oral, os ataques passaram a ocorrer apenas uma ou duas vezes por mês.
Na Flórida, mais de 125.000 pessoas sofrem de epilepsia crônica, entre elas várias crianças, e organizações como a People United For Medical Marijuana (Pessoas Unidas pela Maconha Medicinal, em tradução livre) reivindicaram fortemente junto aos legisladores durante o último ano o seu direito a se tratar com o extrato de cannabis. Em dezembro passado, eles conseguiram fazer com que a legalização de seu uso fosse tema de consulta entre a população por meio de um referendo a ser realizado em 4 de novembro, dia das eleições gerais. Até agora, as pesquisas indicam que 70% dos cidadãos da Flórida estão de acordo com a reforma, que já foi adotada em 21 Estados norte-americanos.
A evolução de casos como o de Charlotte fez com que as autoridades da Flórida mudassem a sua opinião, já que a maioria se opunha à legalização do uso médico da maconha, incluindo muitos dos 30 senadores que nesta sexta-feira votaram a favor da lei, contra nove votos contrários, e o próprio governador Rick Scott. “Sou pai e avô. E quero me assegurar de que meus netos tenham acesso à assistência médica que desejarem”, disse Scott na quinta-feira, ao informar sobre a sua disposição de promulgar a lei tão logo o Senado desse o seu sinal verde.
Uma vez que a lei entre em vigor, os médicos estarão autorizados a receitar cannabis como último recurso a pacientes que não experimentarem melhoras com outros tratamentos e que estejam conscientes dos riscos que correm ao se submeterem a esse novo protocolo. As doses só poderão ser administradas por via oral ou através de vaporizadores, em forma líquida, nunca fumadas. A sua venda será permitida unicamente em quatro locais em todo o Estado, sob a manipulação de cultivadores que tenham ao menos 30 anos de registro no Departamento de Agricultura e Serviços ao Consumidor. Já há pelo menos 35 produtores que atendem a esse requisito e estão dispostos a participar de uma concorrência para ficar com alguma das cinco concessões. A norma também autoriza a Faculdade de Farmácia da Universidade da Flórida a desenvolver novas linhas de pesquisa para a descoberta de tratamentos mais eficazes.
Os que se opõem à lei, como o representante republicano do condado de Ocala, Dennis Baxley, consideram que a norma poderia servir de “gatilho” para um efeito dominó rumo à descriminalização das drogas na Flórida, inclusive para o seu uso recreativo. “Rezo para que não seja assim. Rogo que essa reforma acerte o alvo, que responda a essas necessidades e mostre o bom caminho às pessoas. Mas eu, simplesmente, não posso apertar o gatilho”, disse o republicano na quinta-feira, enquanto a Câmara Baixa discutia a norma.