http://www.angelfire.com/on/drogas/drantiga.htmlO problema das drogas e tóxicos não é uma criação do século XX, apesar de que em sua última parte tenha alcançado um maior desenvolvimento. Poder-se-ia mesmo afirmar que as drogas acompanham o homem desde tempos bem remotos. Inúmeras referências ao uso de plantas, cujos efeitos alucinógenos foram registrados pela literatura contemporânea, são encontradas nos relatos históricos da trajetória do homem sobre a Terra.
A Origem do culto ao peiote (Espécie de cacto mexicano, do qual se extrai a mescalina. N. do A.) está perdida no tempo. Jamais alguém poderá dizer, com certeza, quais foram as circunstancias ou razoes que levaram a primeira pessoa a entrar em contato com as prioridades secretas desse cacto, nos escaldantes desertos do México. Podemos deduzir que o encontro da droga deu-se ao acaso; isto é, da procura de alimentos por parte de algum desgarrado que, reduzido ao extremo da fome e da fadiga, pôs-se a devorar o que quer que fosse, que lhe tivesse ao alcance das mãos. Podemos imaginar esse homem, há muito já esquecido, asteca ou pré-asteca, depois de ter mastigado alguns pedaços do cacto amargo e nauseante, deitando-se à sombra de um arbusto para descansar, e de repente sentir-se rodeado de visões fantásticas, que se apresentavam em formas, cores e até perfumes, com os quais jamais sonhara. Certamente, foi alguém assim que, ao chegar de volta ao seio de sua tribo, narrou a prodigiosa descoberta recém feita: a existência de uma divindade em determinado cacto, cuja polpa tinha o dom de colocar aquele que a comesse, no limiar de um mundo paradisíaco.
Dessa maneira, quando os espanhóis chagaram ao México, constataram que os astécas não somente veneravam alguns deuses, como Quetzaltcoatl e Huitzilpochtli, mas também uma planta chamada piote, também conhecida como a carne dos deuses.
Muito embora os sacerdotes de uma nova religião tivessem aparecido para pregar um Deus diferente, os astécas relutaram em abandonar o uso da maravilhosa essência, que lhes desvendava os segredos da alma. Assim, este povo primitivo realizou uma verdadeira mescla da religião crista com a religião mescalina. De Roop, narra em seu livro As Drogas e a Mente, o ritual que precedia e acompanhada a colheita do cacto sagrado:
" Em San Luis de Potosi, o cacto é colhido em outubro, antes que comece a estação seca. Mas uma planta assim sagrada não deve ser arrancada da terra sem o devido respeito, e todos quantos se embarafustam deserto a dentro para a colheita do piote, o fazem com perfeita consciência da natureza sacrossanta de sua missão. Durante diversas semanas antes da expedição, aqueles que devem tomar parte se preparam com rezas e jejuns. Impõe-se até mesmo abstinência sexual, visto que para o êxito do empreendimento se requer não só da força como também pureza. Cantando orações e recitando versículos sacros, seguidos pela tropa encarregada do transporte da colheita. Antes de atingirem o sítio sagrado, os membros da expedição se entregam a uma penitencia coletiva. Depois, evidenciando a máxima veneração, aproximam-se das plantas e, descobrindo as cabeças, prosternam-se, defumando-se com incenso de copal."
"Quando a expedição regressa, há demonstrações de grande júbilo em todas as aldeias por onde ela passa. Fragmentos de peiote são depostos em cima dos altares e oferecidos a todas as pessoas, guardando-se bastante quantidade para os festivais, e vendendo o resto da carga aos que não participavam da expedição".
Mais atrás na História, encontramos sobejas referências às liberações do Nilo, bem como muitas narrativas sobre os bacanais de Dioniso, os festins de César, e outras orgias, verificando-se também o consumo de drogas intoxicantes remonta a épocas muito primitivas.
O ópio, por exemplo, que é o suco coagulado da papoula (Papaver somniferum), estreitamente vinculado ao misticismo, é conhecido desde a muitos séculos pelas civilizações asiáticas; os derivados da coca, extraídos da folha de seus arbustos (Erythroxylum coca), eram usados pêlos incas como estimulante; a maconha e suas variedades como o haxixe e a marijuana, da planta cannabis sativa, obtida da resina de sua floração e do fruto situado na sua parte superior, medra nas mais distintas regiões tendo sido lembrada por Homero, que falou sobre a embriaguez a que se entregava os citas, inalando os vapores do cânhamo.
Uma bebida inebriante usada pêlos hindus é citada no próprio "Rig-Veda", obra considerada sagrada. Cerca de mil anos antes do nascimento de Cristo, os hindus já consideravam a cannabis como uma planta sagrada, certamente por causa das propriedades misteriosas da mesma. Na Idade Média, por volta do século XI, o cânhamo arraigou-se de tal maneira, que no norte da Pérsia surgiu uma seita, cujos membros, sob os efeitos da planta, se deleitavam em cometer os mais horrendos crimes.
O líder desta seita de fanáticos e viciados na droga, distribuía entre seus adeptos, como recompensa, a droga e mulheres. Cada tarefa bem cumprida era grandemente recompensada. O assassinato de inimigos políticos passou a ser uma rotina, e o bando, temido pela fama que adquiria dia a dia. Para agradecer ao chefe a dádiva que recebiam, chamavam-na "a dádiva de Hassan", ou seja, haxixe. Foi esta palavra que deu origem ao moderno termo "assassinato".
Seriam, porém, estas substâncias tóxicas realmente sagradas ou merecedoras da adoração por parte daqueles que se renderam aos seus efeitos sobre a mente? A resposta é um categórico não, pois, hoje, contamos com inúmeras provas que contrariam frontalmente esta posição. Na verdade, é de causar espécie que uma civilização altamente desenvolvida para o seu contexto histórico, como a asteca, tenha entronizado a mescalina como um objeto de culto. Somente um embotamento da percepção espiritual, causado pela própria droga pode ofuscar assim a mente do homem, a ponto de fazê-lo adorar o causador de sua própria ruína física e moral.
Há que se ponderar também a ausência absolutas de informações precisas sobre o tema religioso, naquele estágio do desenvolvimento humano - cada povo tinha uma religião diferente, e não era raro, muitas delas eram observadas em conjunto. Como o paganismo era pródigo na feitura de deuses, é fácil deduzir o motivo pelo qual os povos antigos, não somente adoravam o Sol, a Lua e as estrelas, mas também cultuavam uma farândola de ídolos de todas espécies e formato, e ainda algumas substâncias que produziam alucinações e modificações sensoriais, com a criação de cenas imaginárias, que traziam ao indivíduo uma transformação no aspecto real da existência.