Um estudo publicado na sexta-feira passada pelo prestigioso periódico médico britânico The Lancet pediu que as drogas - lícitas e ilícitas - sejam classificadas pelo dano que causam ao invés das divisões artificiais expressas na Lei de Mal-Uso de Drogas [Misuse of Drugs Act] da Grã-Bretanha. Como a Lei de Substâncias Controladas [Controlled Substances Act] dos EUA está escrita de uma maneira muito similar, o estudo dialoga com as políticas de drogas estadunidenses também.
O estudo, Desenvolvimento de uma Escala Racional para Avaliar os Danos das Drogas de Possível Mal-Uso [Development of a Rational Scale to Assess the Harms of Drugs of Potential Misuse], também procurava chegar a uma avaliação científica dos danos comparativos das várias substâncias, tanto lícitas quanto ilícitas. Os resultados serão surpreendentes só para aqueles que confiam nos meios de comunicação de massa para obterem o seu conhecimento sobre as drogas.
Os pesquisadores britânicos, liderados pelo dr. David Nutt, catedrático de psicofarmacologia na Universidade de Bristol, e o dr. Colin Blackmore, catedrático de fisiologia, anatomia e genética na Universidade de Oxford, avaliaram os possíveis danos das diferentes drogas em três escalas diferentes: o dano físico ao usuário causado pela droga, a tendência da droga a induzir a dependência e os efeitos deletérios do consumo de drogas nas famílias, na comunidade e na sociedade.
Quando sopesados com base no dano causado, os pesquisadores descobriram que tanto o álcool quanto o tabaco são mais nocivos do que a maconha ou o êxtase. A heroína e a cocaína foram as primeiras da lista de mais nocivas, seguidas pelos barbitúricos, pela metadona de rua e pelo álcool. Das 20 substâncias avaliadas, a maconha ficou em 11ª, atrás da buprenorfina, o sucedâneo da heroína, e à frente dos solventes. De maneira interessante, o LSD e o êxtase obtiveram muito poucos pontos na escala de danos, ficando nos 14º e 18º lugares, respectivamente. O khat, o suave estimulante do Oriente Médio, foi classificado como a menos nociva das substâncias avaliadas.
Os pesquisadores observaram que as ordenações por dano tinham pouco a ver com o jeito pelo qual as substâncias eram classificadas no Reino Unido. Embora se achasse que tanto o LSD quanto o êxtase, por exemplo, não fazem muito mal, são classificados como drogas de Classe A na Grã-Bretanha - a classificação mais séria. Igualmente, o álcool e o tabaco, embora apareçam em posições relativamente altas na escala do dano, continuam sendo substâncias legais.
A situação é parecida com a Lei de Substâncias Controladas [Controlled Substances Act (CSA, sigla em inglês)] dos EUA. Segundo a CSA, a maconha, o LSD, o khat e o êxtase são todos drogas de Classe I, uma designação que compartilham com a heroína e a cocaína, drogas muito mais nocivas. A lei sobre as drogas dos EUA designa estas drogas leves como mais perigosas do que drogas como os barbitúricos e as anfetaminas, que são drogas de Classe II, apesar de as segundas aparecerem em posições muito mais elevadas na escala de nocividade do Lancet.
Tal classificação ruim é um problema, disseram os pesquisadores. "Acima de tudo, as políticas de drogas visam a reduzir o dano aos usuários individuais, às suas famílias e à sociedade", disse o dr. Blackmore em uma declaração que acompanhava o lançamento do estudo. "Mas, atualmente, não há método racional e provado para avaliar o dano das drogas. Temos tentado desenvolver tal método. Esperamos que os legisladores percebam o fato de que a ordenação resultante das drogas difere consideravelmente da classificação delas na Lei de Mal-Uso de Drogas e que o álcool e o tabaco são considerados mais nocivos do que muitas substâncias ilegais".
"O mal-uso e o abuso de drogas são problemas de saúde de suma gravidade", disse o dr. Nutt. "A nossa metodologia oferece um arcabouço e processo sistemáticos que podem ser usados por entidades reguladoras nacionais e internacionais para avaliarem o dano das drogas de abuso atuais e futuras".
Embora os ativistas pró-reforma das políticas de drogas dos EUA elogiassem o estudo e as suas conclusões em geral, eles levantaram preocupações com a classificação da maconha diretamente no meio em termos de danos. "Parece eminentemente razoável sim, quando olhamos as leis acerca da maconha, que partimos do fato bem-documentado de que a maconha é mais segura do que o álcool e o tabaco", disse Bruce Mirken, diretor de comunicação do Marijuana Policy Project (MPP). "Como isso é o que acontece, as nossas leis atuais, tanto nos EUA quanto na Grã-Bretanha, pareceriam fazer pouquíssimo sentido. A própria noção de que as leis sobre as drogas devam manter alguma relação com os perigos reais das drogas é completamente esclarecedora", disse ele à Crônica da Guerra Contra as Drogas.
Allen St. Pierre, diretor-executivo da National Organization for the Reform of Marijuana Laws (NORML), recebeu bem as descobertas, mas também ficou preocupado com a classificação da maconha. "Eles lançaram as bases para uma melhor compreensão da classificação das drogas"Crônica. "Na pior das hipóteses, isto deve começar o processo inverso de levar a cannabis aonde deveria estar nas classificações sobre as drogas".
E onde seria isso? "Precisamos reconhecer que a maconha, o álcool, a cafeína e o tabaco são todos drogas leves", disse. "Qualquer coisa acima disso precisaria da classificação ou de algum tipo de regulação sobre a substância".
Os autores do estudo do Lancet discordaram ligeiramente. Em sua discussão da classificação científica das drogas, embora eles observassem que não há pontos de ruptura claros na escala de dano relativo, eles sugerem que mesmo um sistema de três níveis como o que está em vigor na Grã-Bretanha podia ser ordenado mais eqüitativamente agora. "Se uma classificação de três categorias fosse ser retida", escreveram, "uma possível interpretação das nossas descobertas é a de que as drogas com pontuações de dano iguais e superiores às do álcool poderiam ser de classe A, a cannabis e aquelas que estão abaixo poderiam ser de classe C e as drogas intermediárias poderiam ser de classe B. Nesse caso, é saudável ver que o álcool e o tabaco - as substâncias não classificadas mais usadas em geral - teriam classificações de dano comparáveis com as drogas ilegais das classes A e B, respectivamente”.
A colocação da maconha como se fosse mais nociva do que drogas como o LSD e o êxtase irritou um pouco os porta-vozes do movimento pró-maconha. "Eles a classificaram muito alto pela dependência, mas a dependência da maconha tende a ser muito suave", disse Mirken do MPP. "É possível dizer que a dependência de uma droga que não for nociva não é tão prejudicial como a dependência de uma for mais nociva. Não se estes pesquisadores fizeram essa distinção".
"Eles puseram peso demais no dano social que eles atribuem à cannabis e, notavelmente, no nível de intoxicação", disse St. Pierre da NORML. "Eles a classificaram como se fosse ligeiramente mais tóxica do que o LSD, mas fumar cannabis, mesmo na sua forma mais potente, não pode ser comparado com uma experiência de seis horas de LSD. Suspeito que os editores do Lancet estejam sendo deferentes demais à idéia de que, agora, a cannabis é tão potente quanto essas drogas outras".
"Posso ter algumas objeções à metodologia deles, mas é um passo razoável e é mais do que somos capazes nos EUA", disse Mirken. "Quando se está engatinhando e os demais estão caminhando, não dá para criticá-los por não correrem um quilômetro e meio em quatro minutos".
O estudo, Desenvolvimento de uma Escala Racional para Avaliar os Danos das Drogas de Possível Mal-Uso [Development of a Rational Scale to Assess the Harms of Drugs of Potential Misuse], também procurava chegar a uma avaliação científica dos danos comparativos das várias substâncias, tanto lícitas quanto ilícitas. Os resultados serão surpreendentes só para aqueles que confiam nos meios de comunicação de massa para obterem o seu conhecimento sobre as drogas.
Os pesquisadores britânicos, liderados pelo dr. David Nutt, catedrático de psicofarmacologia na Universidade de Bristol, e o dr. Colin Blackmore, catedrático de fisiologia, anatomia e genética na Universidade de Oxford, avaliaram os possíveis danos das diferentes drogas em três escalas diferentes: o dano físico ao usuário causado pela droga, a tendência da droga a induzir a dependência e os efeitos deletérios do consumo de drogas nas famílias, na comunidade e na sociedade.
Quando sopesados com base no dano causado, os pesquisadores descobriram que tanto o álcool quanto o tabaco são mais nocivos do que a maconha ou o êxtase. A heroína e a cocaína foram as primeiras da lista de mais nocivas, seguidas pelos barbitúricos, pela metadona de rua e pelo álcool. Das 20 substâncias avaliadas, a maconha ficou em 11ª, atrás da buprenorfina, o sucedâneo da heroína, e à frente dos solventes. De maneira interessante, o LSD e o êxtase obtiveram muito poucos pontos na escala de danos, ficando nos 14º e 18º lugares, respectivamente. O khat, o suave estimulante do Oriente Médio, foi classificado como a menos nociva das substâncias avaliadas.
Os pesquisadores observaram que as ordenações por dano tinham pouco a ver com o jeito pelo qual as substâncias eram classificadas no Reino Unido. Embora se achasse que tanto o LSD quanto o êxtase, por exemplo, não fazem muito mal, são classificados como drogas de Classe A na Grã-Bretanha - a classificação mais séria. Igualmente, o álcool e o tabaco, embora apareçam em posições relativamente altas na escala do dano, continuam sendo substâncias legais.
A situação é parecida com a Lei de Substâncias Controladas [Controlled Substances Act (CSA, sigla em inglês)] dos EUA. Segundo a CSA, a maconha, o LSD, o khat e o êxtase são todos drogas de Classe I, uma designação que compartilham com a heroína e a cocaína, drogas muito mais nocivas. A lei sobre as drogas dos EUA designa estas drogas leves como mais perigosas do que drogas como os barbitúricos e as anfetaminas, que são drogas de Classe II, apesar de as segundas aparecerem em posições muito mais elevadas na escala de nocividade do Lancet.
Tal classificação ruim é um problema, disseram os pesquisadores. "Acima de tudo, as políticas de drogas visam a reduzir o dano aos usuários individuais, às suas famílias e à sociedade", disse o dr. Blackmore em uma declaração que acompanhava o lançamento do estudo. "Mas, atualmente, não há método racional e provado para avaliar o dano das drogas. Temos tentado desenvolver tal método. Esperamos que os legisladores percebam o fato de que a ordenação resultante das drogas difere consideravelmente da classificação delas na Lei de Mal-Uso de Drogas e que o álcool e o tabaco são considerados mais nocivos do que muitas substâncias ilegais".
"O mal-uso e o abuso de drogas são problemas de saúde de suma gravidade", disse o dr. Nutt. "A nossa metodologia oferece um arcabouço e processo sistemáticos que podem ser usados por entidades reguladoras nacionais e internacionais para avaliarem o dano das drogas de abuso atuais e futuras".
Embora os ativistas pró-reforma das políticas de drogas dos EUA elogiassem o estudo e as suas conclusões em geral, eles levantaram preocupações com a classificação da maconha diretamente no meio em termos de danos. "Parece eminentemente razoável sim, quando olhamos as leis acerca da maconha, que partimos do fato bem-documentado de que a maconha é mais segura do que o álcool e o tabaco", disse Bruce Mirken, diretor de comunicação do Marijuana Policy Project (MPP). "Como isso é o que acontece, as nossas leis atuais, tanto nos EUA quanto na Grã-Bretanha, pareceriam fazer pouquíssimo sentido. A própria noção de que as leis sobre as drogas devam manter alguma relação com os perigos reais das drogas é completamente esclarecedora", disse ele à Crônica da Guerra Contra as Drogas.
Allen St. Pierre, diretor-executivo da National Organization for the Reform of Marijuana Laws (NORML), recebeu bem as descobertas, mas também ficou preocupado com a classificação da maconha. "Eles lançaram as bases para uma melhor compreensão da classificação das drogas"Crônica. "Na pior das hipóteses, isto deve começar o processo inverso de levar a cannabis aonde deveria estar nas classificações sobre as drogas".
E onde seria isso? "Precisamos reconhecer que a maconha, o álcool, a cafeína e o tabaco são todos drogas leves", disse. "Qualquer coisa acima disso precisaria da classificação ou de algum tipo de regulação sobre a substância".
Os autores do estudo do Lancet discordaram ligeiramente. Em sua discussão da classificação científica das drogas, embora eles observassem que não há pontos de ruptura claros na escala de dano relativo, eles sugerem que mesmo um sistema de três níveis como o que está em vigor na Grã-Bretanha podia ser ordenado mais eqüitativamente agora. "Se uma classificação de três categorias fosse ser retida", escreveram, "uma possível interpretação das nossas descobertas é a de que as drogas com pontuações de dano iguais e superiores às do álcool poderiam ser de classe A, a cannabis e aquelas que estão abaixo poderiam ser de classe C e as drogas intermediárias poderiam ser de classe B. Nesse caso, é saudável ver que o álcool e o tabaco - as substâncias não classificadas mais usadas em geral - teriam classificações de dano comparáveis com as drogas ilegais das classes A e B, respectivamente”.
A colocação da maconha como se fosse mais nociva do que drogas como o LSD e o êxtase irritou um pouco os porta-vozes do movimento pró-maconha. "Eles a classificaram muito alto pela dependência, mas a dependência da maconha tende a ser muito suave", disse Mirken do MPP. "É possível dizer que a dependência de uma droga que não for nociva não é tão prejudicial como a dependência de uma for mais nociva. Não se estes pesquisadores fizeram essa distinção".
"Eles puseram peso demais no dano social que eles atribuem à cannabis e, notavelmente, no nível de intoxicação", disse St. Pierre da NORML. "Eles a classificaram como se fosse ligeiramente mais tóxica do que o LSD, mas fumar cannabis, mesmo na sua forma mais potente, não pode ser comparado com uma experiência de seis horas de LSD. Suspeito que os editores do Lancet estejam sendo deferentes demais à idéia de que, agora, a cannabis é tão potente quanto essas drogas outras".
"Posso ter algumas objeções à metodologia deles, mas é um passo razoável e é mais do que somos capazes nos EUA", disse Mirken. "Quando se está engatinhando e os demais estão caminhando, não dá para criticá-los por não correrem um quilômetro e meio em quatro minutos".
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