terça-feira, 25 de maio de 2010

Guerra às Drogas: US$ 1 trilhão gastos inultilmente. Balanço de 40 anos feito pela Associated Press


1. A agência norte-americana Associated Press (AP) é a mais antiga do mundo e está entre as três maiores difusoras de informação e conteúdo jornalístico.
Além de difundir informação, a AP apresenta, na seção Impact, análises políticas. E essas análises são capazes, pelo prestígio editorial, de mexer com a cabeça dos americanos e influenciar a opinião pública.
Para a AP, os 40 anos de War on Drugs promovida pelos EUA resultaram em trilhões de dólares jogados no ralo e milhares de vidas perdidas sem nenhum resultado útil. Pelos cálculos da AP, foram gastos inutilmente US$ 1 trihão.
Com base em dados, o editorial-balanço da AP destaca que a War on Drugs (iniciada na presidência de Richard Nixon depois do fracasso no Vietnã e para justificar as centenas de soldados americanos que voltaram ao país dependentes de heroína) resultou no aumento do consumo e da violência, esta cada vez mais brutal.
Na matéria Impact, um dos alvos é o presidente Barack Obama e o seu czar antidrogas Gil Kerlikowske, um ex-policial. E Obama é atacado pela sua “nova estratégia para enfrentar a questão das drogas”, lançada em 11 de maio passado.
Segundo a AP, a estratégia de Obama é enganosa. Ou seja, o presidente diz uma coisa e realiza outra. Na verdade, Obama muda apenas no discurso. Isto porque, conforme ressalta a AP, dá prosseguimento à política de guerra às drogas dos seus antecessores:“A sua administração cuidou de aumentar – e virou recordista – os financiamentos às autoridades judiciárias e de polícia, seja em termos absolutos de dólares, seja em termos porcentuais. Neste ano de 2010, o aparato repressivo receberá US$10 bilhões dos US$15,5 bilhões disponíveis para enfrentar amplamente o problema representado pelas drogas ilícitas”.
Em outras palavras, Obama, no início do seu mandato presidencial, considerou a War on Drugs um grande equívoco dos seus antecessores. E prometeu mudanças. Só que o presidente, por exemplo, deu sinal verde para a construção de bases militares, voltadas ao combate militarizado às drogas, na Colômbia e próximas à fronteira com a Venezuela.
Como se nota, trata-se a mesma geoestratégia militarizada usada pelos antecessores, objeto da política de Guerra às Drogas fora do território norte-americano. A propósito, era intenção de Obama realizar, no Afeganistão, uma adaptação do Plan Colombia. Pretendia erradicar, manualmente (não com aviões a despejar herbicidas, como na Colômbia), as áreas de plantio de papoula. Como percebeu que os senhores da guerras (chefes de etnias) eram contrários, Obama mudou de idéia.
Até agora e com relação ao fenômeno representado pelas drogas ilícitas, a AP produziu as críticas mais contundentes contra o presidente Obama.
Só para recordar, o ponto fulcral da “nova estratégia” apresentada por Obama está na redução, nos próximos cinco anos (1) de 15% no número de usuários de drogas proibidas e (2) de 15% nas mortes logo após, ou logo depois, do consumo. Para isso, o governo promete incrementar e priorizar a prevenção e o tratamento.
PANO RÁPIDO. Apesar da mudança anunciada (a War on Drugs dar lugar à prevenção e ao tratamento), continuam a atuar os chamados tribunais para dependentes químicos.
Nesses tribunais, quem é encontrado com droga proibida para uso próprio é indagado se prefere ser submetido a tratamento compulsório ou se opta pela prisão. No primeiro caso, é avisado que se voltar a ser surpreendido com drogas para uso, cumprirá duas penas, com a última agravada pela reincidência.
Os tribunais para dependentes químicos, regiamente contemplados com recursos financeiros na estratégia Obama, nada mais são do que uma invenção do antecessor W. Bush e sua política de militarização. Trata-se de uma vertente judiciária repressiva da War on Drugs. É a vertente da criminalização e da prisão do usuário.
Tudo mudar para que rudo continue como está, é fórmula muito antiga e anunciada no livro O Gattopardo, do grande escritor Tomasi di Lampedusa. Pelo jeito, Obama leu e gostou.
Wálter Fanganiello Maierovitch

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