sexta-feira, 3 de julho de 2009

Paisagens do Medo


O livro “Paisagens do Medo”[1], do autor Yi-fu Tuan (professor emérito da Universidade de Wiscosin-Madison) discorre sobre os temores humanos do passado e do presente propondo uma reflexão sobre o momento atual de nossa sociedade. Essas paisagens incluem um sentimento complexo no qual se distinguem dois componentes: sinal de alarme e ansiedade.

“O sinal de alarme é detonado por um evento inesperado e impeditivo no meio ambiente, e a resposta instintiva do animal é enfrentar ou fugir. Por outro lado, a ansiedade é uma sensação difusa de medo e pressupõe uma habilidade de antecipação. Comumente acontece quando um animal está em um ambiente estranho e desorientador, longe do seu território, dos objetos e figuras conhecidas que lhe dão apoio. A ansiedade é um pressentimento de perigo quando nada existe nas proximidades que justifique o medo. A necessidade de agir é refreada pela ausência de qualquer ameaça.”[2]

O medo na cidade, uma das paisagens analisadas no livro, assunto diário nos jornais e nas discussões cotidianas em qualquer ambiente próximo à informação possui causa eficiente, causa final, causa material e formal. Interliga-se ao crime como também a outros fatores:

“emerge na forma de tribunais de justiça, mercados financeiros, poder público e a arrogante ostentação da riqueza.”[3]

A origem, a razão de ser, os elementos e a análise formal, constantemente revisada para procurarmos entender o fenômeno criminal e o enfrentar, estão presentes nas ciências criminais. Procura-se entender o crime na busca do bem comum.
Cidade e ordem perfeita constituem uma das aspirações da humanidade. A desordem na cidade detona o “sinal de alarme” e produz a sensação de “ansiedade” no ser humano. Este fenômeno (desordem social), longe de ser inédito na civilização, sempre existiu e sempre existirá, assim como os esforços na busca da ordem social.

“Já na Londres do século XVIII o crime era corrente. Após escurecer os cidadãos relutavam em ir às ruas pouco iluminadas. O delegado da cidade de Londres observou em 1718:
A queixa de todos os taberneiros, donos de casas de diversão, lojistas e outros é que seus fregueses estavam temerosos de sair de suas casas e lojas quando escurecia, de medo que lhe surrupiassem seus chapéus e perucas de suas cabeças...ou que os deixassem cegos, fossem derrubados, feridos ou esfaqueados; nem as carruagens escapavam, também eram interceptadas e roubadas nas ruas públicas.(citado em GEORGE, M.D.London Life, op. cit., p.10-1)”.

Atualmente a ansiedade e o sinal de alerta estão absolutamente presentes. Os cuidados para não sermos apanhados desprevenidos pelo crime são constantes. Nossa família, nossos amigos, profissionais de várias áreas, pessoas famosas, gente simples, meio ambiente, enfim, toda a sociedade está participando, se não ativamente, passivamente desta paisagem do medo.
Qual o papel das drogas na contribuição dos índices alarmantes criminais que estamos vivendo? Crime e drogas são companheiros quase inseparáveis. Como combater esse mal? Repressão ou prevenção. Certamente não existe apenas uma causa ou uma só solução. A complexidade do tema deve ser um primeiro princípio na busca de uma ou mais soluções.
[1] “Paisagens do medo? Se pararmos para refletir quais são elas, certamente inúmeras imagens acudirão à nossa mente: medo do escuro e a sensação de abandono quando criança; ansiedades em lugares desconhecidos ou em reuniões sociais; pavor dos mortos e do sobrenatural; medo das doenças, guerras e catástrofes naturais; desconforto ao ver hospitais e prisões; medo de assaltantes em ruas desertas e em certos bairros; ansiedade diante da possibilidade de rompimento da ordem mundial. Os medos são experimentados por indivíduos e, nesse sentido são subjetivos; alguns, no entanto, são, sem dúvida, produzidos por um meio ambiente ameaçador, outros não”. Paisagens do Medo / Yi-fu Tuan; tradução Lívia de Oliveira. – São Paulo: Editora UNESP, 2005.
[2] Ibidem, pág. 10.
[3] WILLIAMS, R. The Country and the City. New York: Oxford University Press, 1973. p.49.

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