José Antônio dos SantosProfessor de Filosofia e mestre em Educação Palestras que diretores contratam para motivar professores têm sido como anestésico. Mais alienam e adiam problemas por não discutirem soluções educacionais. Comem o mingau pela beirada, pois palestrantes desconhecem o projeto pedagógico das escolas. Elas entorpecem a mente; geram pequenez da atividade educativa. Docentes apáticos, alienados e passivos gostam delas, pois adiam a dor do momento de assumir de frente e com coragem a mudança da prática escolar. Leia a receita pronta do Içami Tiba, abaixo: “Cada início de ano letivo, cada mês, cada semana, cada dia, cada aula é uma oportunidade que o professor tem para estimular o aluno a abrir as portas que o aprisionam na ignorância. Um dos poderes negligenciados pelo professor é o de que ele é um dos mais importantes integrantes na formação do papel de aluno. Um bom professor desenvolve bons alunos. Um mau desencaminha os bons e lesa os mais fracos, faz do desanimado um excluído.”Que romântico senhor, Içami Tiba. Eu lhe agradeço muito por nos atribuir qualidades de heróis. O senhor aceitaria participar desse heroísmo, deixando de ganhar de R$ 15 mil a R$ 60 mil, ou mais, por suas palestras, para encarar uma turma daquelas bem sem base cognitiva, sem sonhos, tanto nas escolas públicas, quanto em particulares; filhos da classe trabalhadora e média? Por sinal, que tal o senhor motivar seus filhos a serem ‘importantes integrantes da formação de alunos’? Ou, acha que eles também ‘negligenciam esse poder’, senhor? Eminência parda, né?!!“Se cada professor se preparasse para dar a sua aula como os músicos que me precederam na palestra o fizeram, a receptividade dos alunos seria muito diferente daquela a que ele está acostumado. Talvez os alunos no início sejam espelhos do entusiasmo do professor para, mais tarde, tomarem um caminho próprio, o da indiferença, da perda da esperança em aprender traduzida como falta de vontade de estudar.”Por quantos dias o senhor acha que a “música” duraria? Sabe que hoje em dia a maioria dos alunos não distingue os que lhes querem bem dos que ‘não estão nem aí pra eles’? O senhor consegue entender que tratam todos com a mesma indiferença e banalizam as relações tanto com professores dedicados, quanto com os não-dedicados? Sabe até que dia os alunos ficam “na boa” com os professores, senhor? Até o dia que recebem a primeira nota baixa. Senhor, acho que suas palavras são fantásticas. Mas, se eu estivesse nessa sua palestra, eu me sentiria agredido. “O professor, além do conteúdo da aula, passa o entusiasmo através da sua Performance. Se o conteúdo nutre a competência, a Performance anima a alma, eleva a autoestima de cada aluno e o transforma em animador.”Eu o convido, Tiba, a dedicar sua Performance em uma escola pública com alunos de periferia, sem base cognitiva e sem sonhos; com um salarinho bem ridículo e sem nenhum incentivo pedagógico de órgãos superiores do Estado. O senhor aceita? Tem mais: Aceita viver na condição de ouvir o governador de Estado prometendo plano de carreira e incentivo à formação continuada apenas em véspera de eleições? “A motivação do professor deve permanecer além da aula, pelo curso, para a vida. Enquanto houver algo a ser ensinado ou alguém tiver algo a aprender não serão os estímulos contra a corrente que a extinguirão.” Que coisa angelical e imaculada! Eu sairia de uma palestra com esse palavrório. Isso é agressão! Insulto à minha inteligência que é abaixo da média. Imagine aos outros!“A Performance tem que ser proporcional aos desafios. Cada início é a grande oportunidade de animar o aluno a estudar e também de fortalecer a motivação de que o futuro dos seus alunos está agora em suas mãos.”Senhor, menos! Esse entusiasmo se justifica pelo que o senhor ganha por palestras, mas é cruel para um problema tão vital como a educação.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/colunas/icami_tiba/2011/02/01/feliz-aula-nova.jhtm.
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