O Conselho Municipal de Zurique acaba de aprovar, por 67 votos contra 49, a proposta voltada à distribuição controlada de erva canábica para uso lúdico-recreativo.
Essa aprovada proposta foi apresentada em 2006 por dois deputados do partido Verde. E o governo municipal terá o prazo de dois anos para implantar ou vetar. Tudo deverá começar, segundo o Conselho, por um projeto-piloto estribado em estudo científico e integrado com medidas preventivas voltadas aos jovens.
Para os membros do partido socialista, “existem obstáculos legais e científicos” que poderão impedir a execução do projeto comunal (municipal).
Aos socialistas, respondem os liberais-verdes: “fumar maconha não é crime, mas uma opção individual”.
Contra o projeto de distribuição controlada, votaram os evangélicos e os católicos.
O porta-voz do partido Evangélico (PEV) disparou: - “No nosso país não existe nenhuma necessidade de legalizar o consumo de maconha”. Para o porta-voz, “ já houve iniciativa popular para aprovação e ela foi reprovada nas urnas em 2008”.
Pano Rápido. A Suíça, –que mantém as tradicionais Feiras da Maconha e nas suas políticas sanitárias implantou com sucesso salas para uso seguro de drogas–, ruma para uma nova experiência.
Esse país já experimentou a liberação de parques para consumo livre. Dado o insucesso, migrou para as chamadas “narcossalas”, ou seja, salas para uso (não distribuição), com acompanhamento médico e sanitário. Implantou, também, centros para atender usuários de heroína, com oferta de droga substitutiva (metadona) a fim de controle de crises de abstinência.
Com relação ao tema droga, os helvéticos buscam sempre o melhor caminho e não fogem às experiências.
Tudo, aliás, sem o oportunismo de um Fernando Henrique Cardoso (FHC) que, sem proposta e depois de criminalizar o uso e abraçar a política repressiva norte-americana, reúne grupos para sugestões com a meta de monopolizar os palanques.
FHC com a bandeira do oportunismo usa tema polêmico para tentar deixar o limbo dos que não conseguiram ser estadistas. Pior, depois de dois mandatos, FHC não logrou sucesso na avaliação do seu governo e a história reserva-lhe um lugar pouco prestigioso.
No momento, é o candidato José Serra, do mesmo partido, que foge de FHC. E o candidato Serra, que já disse uma bobagem com relação à Bolívia (confira entrevista abaixo), não quer ouvir perguntas sobre drogas proibidas. Aliás, como ministro da Saúde, esqueceu de dar atendimento digno aos que procuraram tratamento.
–Wálter Fanganiello Maierovitch.
Entrevista de Wálter Maierovitch ao caderno Aliás do jornal Estado de S.Paulo, em 13 de junho de 2010.
Flávia Tavares - O Estado de S.PauloWálter Maierovitch está cético. Não acredita que a discussão sobre drogas e narcotráfico levantada pelos pré-candidatos à Presidência seja abrangente. Por um lado, critica Dilma Rousseff por tratar a gravíssima epidemia de crack no Brasil de forma individualizada, transformada em problema do usuário. Por outro, acusa José Serra de hipocrisia ao apontar o governo boliviano como conivente com o tráfico; afinal, sem os insumos químicos brasileiros, o cloridrato de cocaína vindo da Bolívia sequer existiria. Nenhum deles compreende que a droga seja uma questão global.“O uso político do debate sobre drogas é canalha”, dispara o jurista, ex-secretário nacional antidrogas e presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais. É canalha, explica, porque é efetivo na conquista de votos, já que a população está cada vez mais sensível ao tema. “Há 20 anos, os drogados eram os vizinhos. Hoje, o problema está dentro de casa.”Geoproblemas“Os pré-candidatos não enxergam que o problema das drogas tem inúmeras multiplicações. É preciso conhecer sua geopolítica, geoestratégia e geoeconomia. Eles não conhecem isso e ficam em uma conversa pontual. Dilma fala do crack e Serra, da Bolívia, e só confundem o eleitor. O problema hoje é que há Estados com uma economia, um PIB, dependente das drogas. A Bolívia é um deles, mas isso não quer dizer que os governantes sejam narcotraficantes ou façam vista grossa.Questão de química“O que fazer com a Bolívia, a Colômbia, o Peru, o Equador, todos países dependentes da droga? Há 25 anos, fotos de satélite mostram que a área de cultivo da folha de coca se desloca, mas permanece do mesmo tamanho ? mesmo depois do Plano Colômbia. Isso quer dizer que não há crescimento da produção, apenas deslocamento. No governo Evo Morales, foi aumentado o tamanho da área de produção para cada cultivador individual, e assim, a oferta de folhas de coca no mercado. O problema não está com os que compram a folha para mascar, por conta da tradição milenar, mas com os que compram para fazer pasta básica. Eles precisam de insumos químicos e nenhum desses países tem indústria química. E importam 100% dos insumos.Consumidor e fornecedor“As organizações criminosas usam o Brasil como dupla mão. O Brasil é o lugar de consumo, 80% da produção boliviana é consumida aqui. Ao mesmo tempo, fornecemos os insumos químicos. Não somos santos. Como é feito no Brasil, onde está a maior indústria química da América Latina, o controle desses insumos? Essa indústria é de fácil fiscalização, está no eixo Rio-São Paulo, mas não há controle algum. Quando era secretário nacional antidrogas, fiz com o secretário de Justiça de São Paulo, Belisário dos Santos, um levantamento na Junta Comercial. Há empresas que comercializam insumos químicos, mas não têm endereço.A salvação do narcotráfico“Nenhum tráfico de cloridrato de cocaína dos países andinos sobrevive sem insumos químicos. Quando foi feito o Plano Colômbia, descobriu-se que os dois maiores fornecedores de insumos eram os EUA e Trinidad e Tobago, que nem indústria química tem. As operações eram triangulares, vinham de vários lugares. Em dezembro de 2009, o czar antidrogas da ONU, Antonio Maria Costa, deu uma entrevista ao Observer em que admitia que o sistema de compensações entre os maiores bancos do mundo foi socorrido pelo dinheiro das drogas durante a crise. Ele está falando de US$ 300 bilhões por ano. Dá para alguém apontar o dedo sem fazer um mea-culpa?Peso eleitoral“A discussão colocada pelos candidatos é míope. Só que ela ecoa no eleitor, porque há 20 anos, quando falávamos de drogas, pensávamos no vizinho. Hoje, o problema está dentro de casa. Então, o uso político desse assunto é canalha, é de busca de culpados. Se você diz que não haveria oferta se não houvesse consumo, também pode dizer que não haveria consumo sem oferta. E poderia incluir que não haveria drogas sintéticas ou elaboradas se não houvesse insumos químicos. Então, o que você faz? Fecha a indústria química brasileira?A culpa dos Estados“No Brasil, há esse discurso enganoso de que as fronteiras do País são de impossível fiscalização. Ora, um narcotraficante não sai do nada para lugar nenhum. Ele precisa de uma rota com banco, transporte, estradas. Que tal controlar a movimentação de bancos nas fronteiras? O que o Brasil faz? E o que o mundo faz para resolver esse problema? Os Estados não fazem um esforço para mudar porque há necessidade de unanimidade para se conseguir isso.Futuro sintético“O problema do Brasil não será o cloridrato de cocaína da Bolívia no futuro. Serão as drogas sintéticas. Trazer a cocaína de outros países é caro. A droga sintética pode ser feita aqui. Ela vai chegar a um preço baixo o suficiente para se popularizar. E com um risco adicional: as impurezas das drogas feitas no fundo de quintal, com dosagens erradas. Haverá um problema igual ao que aconteceu na Europa dois anos atrás.”
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