quarta-feira, 23 de junho de 2010

22% dos universitários podem virar alcoólatras



De acordo com o 1º Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras, divulgado pelo governo federal nesta quarta-feira, entre os cerca de 18 mil estudantes entrevistados, 22% correm risco de desenvolver dependência de álcool e 8%, de maconha.
O estudo foi realizado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), em parceria com o Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (GREAFMUSP). A análise foi feita entre os estudantes matriculados no ano letivo de 2009 de 100 instituições públicas e privadas de ensino superior. As perguntas foram feitas por meio de um questionário preenchido pelos próprios entrevistados. O levantamento pesquisou o uso das substâncias nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias.
Os dados apontam que o risco de desenvolver dependência para a maconha é maior entre os homens. Entre as mulheres, o vício em anfetamínicos e tranquilizantes é o perigo maior, de acordo com a pesquisa.
ÁlcoolSegundo o estudo, se comparados com a população em geral, os universitários são os mais consomem álcool de forma abusiva. Para o governo, essa informação evidencia a necessidade de um conhecimento maior sobre o comportamento dos estudantes para o desenvolvimento de ações de prevenção e elaboração de políticas específicas.
Segundo os entrevistados na pesquisa, 36% disseram ter bebido em bingue (cinco doses em menos de duas horas para os homens, e quatro ou mais para mulheres) nos últimos 12 meses. O estudo levantou ainda o consumo de álcool ao volante: 18% disseram ter dirigido após beber e outros 27% disseram que pegaram carona com motorista alcoolizado.
DrogasNeste mesmo espaço de tempo, cerca de 40% dos universitários usaram duas ou mais drogas e 43% relataram ter tomado mais de uma droga simultaneamente em algum momento da vida. A justificativa do uso das substâncias para 47,8% foi: "simplesmente porque gostavam ou porque lhes possibilitava esquecer os problemas da vida".

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Suiça. Aprovado projeto para distribuição controlada de maconha

Terra Brasil

O Conselho Municipal de Zurique acaba de aprovar, por 67 votos contra 49, a proposta voltada à distribuição controlada de erva canábica para uso lúdico-recreativo.
Essa aprovada proposta foi apresentada em 2006 por dois deputados do partido Verde. E o governo municipal terá o prazo de dois anos para implantar ou vetar. Tudo deverá começar, segundo o Conselho, por um projeto-piloto estribado em estudo científico e integrado com medidas preventivas voltadas aos jovens.
Para os membros do partido socialista, “existem obstáculos legais e científicos” que poderão impedir a execução do projeto comunal (municipal).
Aos socialistas, respondem os liberais-verdes: “fumar maconha não é crime, mas uma opção individual”.
Contra o projeto de distribuição controlada, votaram os evangélicos e os católicos.
O porta-voz do partido Evangélico (PEV) disparou: - “No nosso país não existe nenhuma necessidade de legalizar o consumo de maconha”. Para o porta-voz, “ já houve iniciativa popular para aprovação e ela foi reprovada nas urnas em 2008”.
Pano Rápido. A Suíça, –que mantém as tradicionais Feiras da Maconha e nas suas políticas sanitárias implantou com sucesso salas para uso seguro de drogas–, ruma para uma nova experiência.
Esse país já experimentou a liberação de parques para consumo livre. Dado o insucesso, migrou para as chamadas “narcossalas”, ou seja, salas para uso (não distribuição), com acompanhamento médico e sanitário. Implantou, também, centros para atender usuários de heroína, com oferta de droga substitutiva (metadona) a fim de controle de crises de abstinência.
Com relação ao tema droga, os helvéticos buscam sempre o melhor caminho e não fogem às experiências.
Tudo, aliás, sem o oportunismo de um Fernando Henrique Cardoso (FHC) que, sem proposta e depois de criminalizar o uso e abraçar a política repressiva norte-americana, reúne grupos para sugestões com a meta de monopolizar os palanques.
FHC com a bandeira do oportunismo usa tema polêmico para tentar deixar o limbo dos que não conseguiram ser estadistas. Pior, depois de dois mandatos, FHC não logrou sucesso na avaliação do seu governo e a história reserva-lhe um lugar pouco prestigioso.
No momento, é o candidato José Serra, do mesmo partido, que foge de FHC. E o candidato Serra, que já disse uma bobagem com relação à Bolívia (confira entrevista abaixo), não quer ouvir perguntas sobre drogas proibidas. Aliás, como ministro da Saúde, esqueceu de dar atendimento digno aos que procuraram tratamento.
–Wálter Fanganiello Maierovitch.
Entrevista de Wálter Maierovitch ao caderno Aliás do jornal Estado de S.Paulo, em 13 de junho de 2010.
Flávia Tavares - O Estado de S.PauloWálter Maierovitch está cético. Não acredita que a discussão sobre drogas e narcotráfico levantada pelos pré-candidatos à Presidência seja abrangente. Por um lado, critica Dilma Rousseff por tratar a gravíssima epidemia de crack no Brasil de forma individualizada, transformada em problema do usuário. Por outro, acusa José Serra de hipocrisia ao apontar o governo boliviano como conivente com o tráfico; afinal, sem os insumos químicos brasileiros, o cloridrato de cocaína vindo da Bolívia sequer existiria. Nenhum deles compreende que a droga seja uma questão global.“O uso político do debate sobre drogas é canalha”, dispara o jurista, ex-secretário nacional antidrogas e presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais. É canalha, explica, porque é efetivo na conquista de votos, já que a população está cada vez mais sensível ao tema. “Há 20 anos, os drogados eram os vizinhos. Hoje, o problema está dentro de casa.”Geoproblemas“Os pré-candidatos não enxergam que o problema das drogas tem inúmeras multiplicações. É preciso conhecer sua geopolítica, geoestratégia e geoeconomia. Eles não conhecem isso e ficam em uma conversa pontual. Dilma fala do crack e Serra, da Bolívia, e só confundem o eleitor. O problema hoje é que há Estados com uma economia, um PIB, dependente das drogas. A Bolívia é um deles, mas isso não quer dizer que os governantes sejam narcotraficantes ou façam vista grossa.Questão de química“O que fazer com a Bolívia, a Colômbia, o Peru, o Equador, todos países dependentes da droga? Há 25 anos, fotos de satélite mostram que a área de cultivo da folha de coca se desloca, mas permanece do mesmo tamanho ? mesmo depois do Plano Colômbia. Isso quer dizer que não há crescimento da produção, apenas deslocamento. No governo Evo Morales, foi aumentado o tamanho da área de produção para cada cultivador individual, e assim, a oferta de folhas de coca no mercado. O problema não está com os que compram a folha para mascar, por conta da tradição milenar, mas com os que compram para fazer pasta básica. Eles precisam de insumos químicos e nenhum desses países tem indústria química. E importam 100% dos insumos.Consumidor e fornecedor“As organizações criminosas usam o Brasil como dupla mão. O Brasil é o lugar de consumo, 80% da produção boliviana é consumida aqui. Ao mesmo tempo, fornecemos os insumos químicos. Não somos santos. Como é feito no Brasil, onde está a maior indústria química da América Latina, o controle desses insumos? Essa indústria é de fácil fiscalização, está no eixo Rio-São Paulo, mas não há controle algum. Quando era secretário nacional antidrogas, fiz com o secretário de Justiça de São Paulo, Belisário dos Santos, um levantamento na Junta Comercial. Há empresas que comercializam insumos químicos, mas não têm endereço.A salvação do narcotráfico“Nenhum tráfico de cloridrato de cocaína dos países andinos sobrevive sem insumos químicos. Quando foi feito o Plano Colômbia, descobriu-se que os dois maiores fornecedores de insumos eram os EUA e Trinidad e Tobago, que nem indústria química tem. As operações eram triangulares, vinham de vários lugares. Em dezembro de 2009, o czar antidrogas da ONU, Antonio Maria Costa, deu uma entrevista ao Observer em que admitia que o sistema de compensações entre os maiores bancos do mundo foi socorrido pelo dinheiro das drogas durante a crise. Ele está falando de US$ 300 bilhões por ano. Dá para alguém apontar o dedo sem fazer um mea-culpa?Peso eleitoral“A discussão colocada pelos candidatos é míope. Só que ela ecoa no eleitor, porque há 20 anos, quando falávamos de drogas, pensávamos no vizinho. Hoje, o problema está dentro de casa. Então, o uso político desse assunto é canalha, é de busca de culpados. Se você diz que não haveria oferta se não houvesse consumo, também pode dizer que não haveria consumo sem oferta. E poderia incluir que não haveria drogas sintéticas ou elaboradas se não houvesse insumos químicos. Então, o que você faz? Fecha a indústria química brasileira?A culpa dos Estados“No Brasil, há esse discurso enganoso de que as fronteiras do País são de impossível fiscalização. Ora, um narcotraficante não sai do nada para lugar nenhum. Ele precisa de uma rota com banco, transporte, estradas. Que tal controlar a movimentação de bancos nas fronteiras? O que o Brasil faz? E o que o mundo faz para resolver esse problema? Os Estados não fazem um esforço para mudar porque há necessidade de unanimidade para se conseguir isso.Futuro sintético“O problema do Brasil não será o cloridrato de cocaína da Bolívia no futuro. Serão as drogas sintéticas. Trazer a cocaína de outros países é caro. A droga sintética pode ser feita aqui. Ela vai chegar a um preço baixo o suficiente para se popularizar. E com um risco adicional: as impurezas das drogas feitas no fundo de quintal, com dosagens erradas. Haverá um problema igual ao que aconteceu na Europa dois anos atrás.”

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Luanda : Comite Interministerial vai realizae campanha de prevenção contra drogas

Angola Press
Luanda – O Comité Interministerial de Luta contra as Drogas (Cilad) vai realizar, em Luanda, uma jornada de prevenção em alusão ao Dia Mundial da Luta contra as Drogas, a ser assinalado a 26 de Junho.

A informação foi avançada hoje à Angop pela directora da instituição, Ana Graça, confirmando que o evento, a decorrer de 19 a 26 do corrente mês, será repartido em 3 encontros massivos.

A abertura oficial vai acontecer no dia 19, estando depois previstas duas caminhadas, uma no município do Kilamba Kiaxi e outra no Cazenga, por considerar serem os mais populosos, sendo a outra no Largo das Escolas, esta última com queima de drogas.

Segundo a responsável, a actividade visa divulgar as acções do Cilad e prevenir as pessoas do uso das drogas, reconhecendo haver necessidade do combate para evitar que mais pessoas entrem no mundo das drogas.

“Sabemos que as drogas não são benéficas para saúde nem para o desenvolvimento de nenhuma nação, pretendendo assim combater todas as formas de drogas. Normalmente quando se fala de drogas refere-se a cocaína e liamba, mas o Cilad neste momento preocupa-se mais com o álcool que é o que mais circula no país”, referiu

Durante a jornada serão realizadas ainda palestras, seminários e debates. Tendo como palestrantes os activistas e membros do Cilad. Em debate estarão temas como “A cidade e as drogas”, “Droga e a juventude”, “Doenças e outros males causados pelas droga”.

Participarão no encontro estudantes, membros das igrejas e jovens da sociedade civil.

O Cilad é um comité interministerial, afecto ao Ministério da Justiça, criado pelo Decreto-lei 13/ 10 a 21 de Setembro de 2001. Está vocacionado ao combate e prevenção contra o uso de drogas. Tem representantes nas 18 províncias do país, coordenado pelo Ministério da Justiça e tem como membros o Ministério da Saúde, a Direcção dos Medicamentos, Ministério do Interior, a Direcção Nacional de Investigação Criminal, Ministério da Comunicação Social, da Agricultura e Alfândegas.

Política atrapalhou a segurança no Rio - José Mariano Beltrame

José Mariano Beltrame : “Política atrapalhou a segurança no Rio”
André Balocco, Jornal do Brasil
RIO - Em meio ao caos da Central da Brasil, bem pertinho da estação de transferência entre trens e metrô da Av. Presidente Vargas, trabalha o homem que vem fazendo uma revolução silenciosa no Rio de Janeiro. Gaúcho de Santa Maria, “dependente químico de chimarrão”, como ele mesmo brinca sobre a mania típica do Rio Grande, José Mariano Beltrame abriu seu gabinete ao Jornal do Brasil na segunda-feira passada. Em pouco mais de 40 minutos, o tira que quebrou a tradição de secretários de segurança que cumpriam seus mandatos e depois saíam candidatos, falou sobre o que leva o ser humano a usar drogas, criticou a descriminalização sem que o Estado propicie condições de recuperação ao dependente, pediu maior presença nas favelas libertas pelas UPPs, garantiu que os números da violência na Tijuca são descendentes e anunciou que, se Cabral não for reeleito, sai com ele. Para Beltrame, a situação da violência no Rio só chegou ao nível atual por questões políticas.
Em 2008, quando o entrevistei, o senhor garantiu que não seria candidato e cumpriu, quebrando uma longa sequência de secretários que terminavam eleitos. Qual a importância desta atitude?
Isso ajudou a dar credibilidade ao trabalho, mas acho que o grande paradigma a ser quebrado era o do planejamento. A instituição dá o exemplo é pelo planejamento, pois hoje a polícia sabe onde chegar. Não fazemos mais nada por achismo ou empirismo. A gente trabalha o planejado.
Se o governador Sérgio Cabral for reeleito, o senhor continua à frente da secretaria?
Tenho a intenção de continuar sim, mas é cedo para falar e o cargo é dele. Porém, aqui se trabalha para a frente e tenho um plano para bom tempo.
E se ele não se reeleger?
Em tese, não continuo. Sou muito grato ao governador, e ele tem um valor muito grande porque é uma pessoa que não se mete...Não há interferência política na Secretaria de Segurança, e ele confia no trabaho. É como um bom juiz de futebol, que passa despercebido. Mas qualquer atitude ou ação que tome, dou ciência.
A segurança no Rio sempre foi um problema, e o senhor falou que, hoje, não há ingerência política na secretaria. A política atrapalhou a segurança no Rio?
Entendo que sim. A estrutura do serviço público estadual ficou muito abandonada. A segurança é importante, mas tem que ver a saúde, o transporte. No Rio, não se fazia planejamento prospectivo do que vai ser a cidade em 2015, 2020. O Estado não se organizou para atender à demanda...
Fale mais sobre isso...
Antes, nestas comunidades, havia a desculpa da atuação do tráfico para não haver professor, médico... Agora que os muros da violência caíram, o Estado não tem a velocidade que gostaríamos para atender a demanda.
Nas comunidades pobres, o traficante se transformou no exemplo. E nas UPPs, os policiais já são ídolos, referência para estas comunidades?
É o que pretendemos. Os resultados são muito positivos porque o policial que vai trabalhar lá é sem vício, mas não é só o vício da corrupção. Ele vai para lá gerenciar uma situação de paz, diferente de outros locais, onde o policial na rua tem que estar agarrado a um fuzil para defender a vida, pois corre riscos. Além de se cuidar, tem que cuidar das pessoas, observar colégio, trânsito.
Há algum segredo na UPP?
Sim. Na UPP o policial vai tranquilo, sabe que lá não há arma e pode interagir. Em lugares conflagrados ele não se entrega de corpo e alma ao serviço. Já o policial da UPP escreve diário, faz desenho....
Sobre a descriminalização das drogas, uma corrente aponta a classe média como financiadora do narcotráfico. Ela é a arma do bandido?
É muito filosófico, mas a droga tem um mercado que ela movimenta. O consumidor é um doente pela legislação brasileira. Nossa pretensão não é terminar com o tráfico de drogas, mas ele caiu porque eles (traficantes) estão desarmados. Podemos fazer o trabalho de prevenção. Quem movimenta o mercado é consumidor, de classe média ou alta.
Droga é uma questão de segurança ou de saúde pública?
Das duas coisas. Se temos facções distintas e elas vendem drogas em seus territórios limitados, se armam para não perder territórios e porque o estado quer combater a droga. No Rio, as duas coisas correm juntas.
É possível, então, deduzir que a queda nos índices de criminalidade ajuda a mudar o foco da questão de segurança para a questão de saúde?
Tem de ser assim. Veja o problema com o crack. As pessoas dizem “prende, tira da esquina”. Não posso fazer isso. O que a policia pode fazer é recolher. O detido tem que ser tratado, hospitalizado. Não é questão de botar na cadeia. Mas a dimensão que atingiu aqui no Rio é enorme. Um absurdo ter de parar o carro longe de casa porque há um ponto de tráfico em frente.
O governador Cabral, ao assumir, falou em descriminalização das drogas. O que acha da ideia?
Temos outras demandas antes de descriminalizar, como tratar o drogado, o menor. Se o Estado quer descriminalizar a droga, tem que dar oportunidade ao viciado de largá-la. Quem consome droga e tem boa estrutura econômica e social pode ir para casa, alimentar-se, ir para a aula. E quem está na rua com fome, vê o pai bater na mãe, os parentes abusarem da irmã?
Seus quatro anos na secretaria ajudaram a buscar este equilíbrio social que fala ao libertar comunidades com as UPPs?
Lembro de uma frase do Tony Blair, de que a segurança é o primeiro dos direitos do cidadão. Nestes lugares em que foram instaladas UPPs, restaurarmos esse direito. Agora venham o segundo, o terceiro... Com as UPPs a gente identificou estas ilhas e derrubou os muros de violência.
Conhece alguém ou algum parente que já tenha tido problemas com álcool ou drogas?
Sim, sim, tenho amigos envolvidos, que inclusive faleceram, amigos de fora da corporação. E na polícia já vivenciei isto. Nas delegacias do interior, principalmente, as famílias procuram a gente, pois não sabem mais o que fazer com seus parentes.
Existem casos de uso de drogas na polícia?
Temos casos sérios, mas de alcoolismo, que são tratados, seja pela polícia civil ou militar. Quando detectamos que a pessoa é doente, tratamos, principalmente a PM, que tem um hospital próprio.
O senhor acha que o policial, sujeito ao estresse da violência, fica mais vulnerável às drogas?
Ele pode ficar vulnerável a qualquer coisa, até à corrupção porque ganha pouco. Mas o grande esteio é o que nós trazemos de casa. Se a gente tem uma boa formação familiar, resiste a uma série de coisas.
Já se pode dizer que a criminalidade caiu na Tijuca?
Os índices dizem que sim. Mas a UPP não é a solução de todos os problemas. É o elo de uma corrente dessa solução. As delegacias da área têm metas a serem atingidas, os policiais circulam mais nas ruas. São mais flagrantes, prisões. Mas não tem nada ganho.
Como assim “não tem nada ganho”?
O problema aqui é sério e antigo. Para vermos se está funcionando, precisamos de um corte de seis, oito meses. Mas os resultados são animadores. Este carro tem que continuar andando.
Esta queda na criminalidade tem a ver com as UPPs?
Claro que sim. O Rio também tem hoje uma delegacia de homicídios que é uma das maiores do país. Tínhamos índices baixíssimos de resolução, a taxa era de 3%, 4%. Hoje, já ultrapassamos 10%. A delegacia de homicídios tem 200 policiais sem turno, sem escala. Tomou notícia de um homicídio, sai um time com papiloscopista, rabecão etc.
O que leva as pessoas a usarem droga?
Uma gama de motivos. É uma sensação de poder, em que a pessoa se desinibe e entende que, com aquilo, pode exercer um falso poder. Isto pode levar, por consequência, à criminalidade.
Existe droga leve e droga pesada?
Para mim existe droga...
Há um mito na classe média de que a maconha é uma droga leve e que a cocaína é pesada. O que acha disso?
O segredo de tudo isso é a formação, a cabeça das pessoas, do usuário e de quem não quer usar. Isto tudo vem muito da formação, do conhecimento, da cultura, do preparo que você tem para enfrentar isto. Na minha concepção não existe diferença entre drogas, mas pode haver na farmacologia.
Ou seja, o que leva a pessoa a usar droga é mesmo a falsa ilusão?
Sim, sim. A droga, as pessoas fazem uso exatamente no aspecto desinibidor que pode gerar uma sensação de poder para que tomem alguma atitude que invoque o poder.
O Rio está pronto para sediar a Copa de 2014? O senhor planeja o evento?
Não estamos preparando a cidade para estes eventos, mas para o cidadão, com estrutura de segurança, que são as UPPs, frota terceirizada para agilizar a polícia; delegacia especializada de homicídios, backbone para integrar os batalhões. Precisamos de polícia técnica, perícia, um ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), que será feito com dinheiro do BNDES; um novo IML, que já funciona.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Droga não é o demônio - Eliane Brum




Revista Época


Droga não é demônio
Então por que é tratada pela sociedade como se fosse?
Eliane Brum



ELIANE BRUM ebrum@edglobo.com.br Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).
É possível que nunca tenha se falado tanto em drogas como hoje, pelo menos como caso de polícia ou de saúde pública. Nos anos 60, quando as drogas faziam parte do movimento de contracultura, o olhar sobre elas e a função que desempenhavam era outro. E os “malucos beleza” eram vistos de forma muito diversa dos consumidores de crack de agora. A própria diferença de linguagem é reveladora, já que antes se “experimentava” drogas, com a ideia de ampliação de consciência – e hoje se “consome”, como tudo. Um verbo expressa uma vivência – outro o uso. O que mudou, para que o crack tenha se tornado tema de campanha eleitoral, assunto para candidatos à presidência do país? Ao acompanhar o debate travado em várias instâncias, me parece empobrecedor que um tema tão amplo e cheio de nuances seja reduzido a apenas dois discursos, duas maneiras de olhar: ou é caso de polícia/segurança ou é caso de saúde pública – ou de ambos. Será que estas duas abordagens – repressão e cura – dão conta da complexidade da questão? Desconfio que não. Por outro lado, me parece bastante curioso que o debate sobre as drogas ilegais atinja esse nível de decibéis justamente numa época em que há um consumo massivo de drogas lícitas, na forma de antidepressivos, ansiolíticos e hipnóticos, receitadas por médicos das mais variadas especialidades. Drogas para ser feliz, para ficar calmo, para dormir. Sem contar as drogas para perder o apetite e aumentar o desejo sexual. Por que algumas se tornam um problema e outras são vendidas como solução? Quem determina o que o indivíduo pode consumir? E com quais argumentos? E por que aquela que possivelmente seja a droga que causa mais estrago na nossa sociedade – o álcool – é abordada com muito menos estridência? Ao acompanhar o debate, me chama a atenção o fato de a droga ser encarada como uma espécie de alienígena, desenraizada da sociedade em que é usada e produz sentidos. É como se ela fosse um demônio ou um vírus que entra no corpo à revelia de todo o contexto – desligada de tudo e de todos. E que bastaria ou exorcizá-la, do ponto de vista religioso, ou extirpá-la, no campo da medicina, para que o problema acabasse. Ou ainda reprimir, na visão policial. Parece que não é tão simples assim – ou o problema já seria menor. Se os mais diversos tipos de drogas sempre foram usados por todas as sociedades, em diferentes momentos históricos, por que a nossa não consegue lidar com elas? Será que não valeria a pena, além de reprimir e tentar “curar”, pensar um pouco mais nos porquês?
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É exatamente por ser uma questão que produz muito sofrimento é que acho importante refletirmos sobre ela com mais amplidão – e alargar nosso campo de visão. Em busca de respostas – não definitivas, mas possibilidades de respostas –, procurei o psicanalista Eduardo Mendes Ribeiro. Ele é membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa), mestre em Filosofia pela PUC/RS, doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e consultor do Ministério da Saúde na Política de Humanização do SUS. Estuda o tema das drogas desde os anos 90 e tem vários artigos publicados sobre o assunto. Nesta conversa, ele nos ajuda a pensar sobre uma questão tão crucial – para além dos estereótipos.
Eu – Hoje, as drogas ou são caso de polícia ou de cura. É como se toda a complexidade da questão coubesse nesses dois modos de ver e não existisse outra possibilidade de abordagem. Por quê? Eduardo Mendes Ribeiro – Por ao menos duas razões: a primeira é a tendência à simplificação do problema, o que, em tese, ajudaria a entendê-lo e enfrentá-lo. Por essa via, elege-se a droga como a causa do mal e os traficantes como os agentes promotores deste mal. Ora, sendo assim, é fácil concluir que o que devemos fazer é, por um lado, tentar evitar que o mal nos atinja: repressão. E, por outro, se fracassarmos no primeiro intento, temos de extrair o mal de nossos corpos: desintoxicação e abstinência. Essa visão também nos poupa dos complexos e incômodos questionamentos acerca das razões pelas quais tantas pessoas decidem se drogar.
Eu – E quais seriam esses questionamentos tão incômodos? Afinal, por que tantos se drogam, legal e ilegalmente? Ribeiro - São questionamentos relacionados aos conflitos psíquicos que cada um de nós vivencia: inibições, frustrações, angústias, etc. É muito mais incômodo enfrentar estes fantasmas do que usar uma droga que pode fazer nosso humor melhorar quase imediatamente. O problema é que os fantasmas continuam lá – e nem sempre em silêncio.
Eu – Em sua opinião, quem é mais drogado? O consumidor de crack do centro de São Paulo ou uma faixa significativa da população mais idosa – assim como muitos jovens – que consome tranquilizantes todo dia? Ribeiro - Atualmente, há uma tendência de se avaliar o grau de gravidade de uma dependência não mais através de escalas quantitativas de intensidade e frequência, mas a partir dos efeitos que essa prática produz na vida de cada sujeito. Nesse sentido, é provável que aquelas pessoas que passam o dia fumando pedra vivenciem um empobrecimento maior de suas interações sociais, além de se manterem em situações de maior vulnerabilidade. Mas, por outro lado, não há razão para acreditarmos que aqueles que vivem uma vida entorpecida estejam em uma situação muito melhor.
Eu – Mas por que o crack incomoda e a população que vive uma vida entorpecida não? Ribeiro - O usuário de crack, ao menos o usuário estereotipado, com maior visibilidade, é alguém que expõe tudo o que nossa sociedade quer evitar: descontrole, desamparo, vulnerabilidade, improdutividade, laços sociais frágeis, ausência de projeto de futuro, etc. O sujeito entorpecido é muito mais identificado com as crenças e valores que nos orientam: ele é visto como um doente em tratamento, ou seja, ele tem um problema que nossa sociedade, através de seus saberes e especialistas, está tratando. Está tudo em seu lugar...
Eu – Por que o crack virou, hoje, um tema da política, como podemos ver nesse início de campanha eleitoral entre os candidatos a presidente? Ribeiro - Talvez porque o crescimento rápido do número de dependentes e sua visibilidade pública façam com que se concentrem nesse fenômeno os temores relativos à fragilização de nosso laço social. Os crackeiros espelham, paradoxal e simultaneamente, nossos maiores sonhos e pesadelos: ansiamos por prazer e descompromisso, mas sabemos que precisamos de um conjunto de relações sociais que nos sustentem enquanto sujeitos. Infelizmente, a maior parte dos discursos político-eleitorais é dirigida à promessa de medidas voltadas ao fortalecimento do aparato repressivo e à criação de mais vagas para internação/desintoxicação de dependentes, que é o que responde aos anseios imediatos dos eleitores.
Eu – E como ampliar a abordagem dessa questão, para além da repressão e da cura? Ribeiro - Nenhum país do mundo resolveu o problema da dependência de drogas por uma razão muito simples: não se trata de um problema de drogas, mas, sim, dos efeitos do tipo de laço social que construímos. Acho que o que podemos fazer é aumentar o repertório de alternativas através das quais as pessoas possam produzir para si um lugar social. Isto pode se dar de várias formas: através da educação, do esporte, da arte ou mesmo da religião. Mas, é claro que precisamos também de políticas de saúde para acolher e tratar aqueles que não conseguem mais controlar seu uso de drogas. Nessa direção, é preciso avançar na implementação do que já está previsto na Reforma Psiquiátrica e na atual Política de Saúde Mental do Ministério da Saúde. Quando recebo um usuário de drogas em busca de tratamento, costumo propor que falemos de qualquer coisa, menos de drogas. Acho que é disso que eles precisam: encontrar outras coisas capazes de lhes interessar. De drogas eles já falam bastante.
Eu – Praticamente todas as sociedades usaram drogas, mas parece que só na nossa elas se tornaram um problema. Pelo menos um problema nessas proporções. Por que nossa sociedade, diferentemente de outras, não sabe como lidar com as drogas? Ribeiro - Na maior parte das sociedades conhecidas, as drogas eram consumidas com alguma forma de controle social. Isto não significa que havia mecanismos repressivos para coibir abusos. Ao contrário, significa que havia um conjunto de entendimentos compartilhados que orientava o uso, em determinadas situações e com determinadas finalidades. Isso poderia se dar em rituais de cura, de mediação com o sagrado ou mesmo com finalidades orgiásticas, para aliviar tensões e produzir prazer. O conhecimento que temos acerca do uso de drogas em outras sociedades nos mostra que, se ele ocorresse com alguma forma de controle social, não trazia problemas pessoais ou para a comunidade. Provocar alterações dos estados de consciência representava algo de extraordinário que acontecia em situações muito específicas. Em nossa sociedade, este tipo de uso ocorre, por exemplo, no Carnaval, quando muitas pessoas se autorizam a fazer coisas que não fazem em seu cotidiano, o que inclui um consumo maior de drogas. E depois voltam à rotina.
Eu – E o que aconteceu na sociedade ocidental moderna para que a droga passasse a se integrar ao cotidiano e ser usada para o gozo individual? Ribeiro - O desenvolvimento do liberalismo político e econômico trouxe consigo a constituição de um ethos fortemente individualista. A modernidade rompeu com o passado, afirmando o poder de autodeterminação dos indivíduos. No início, ainda se manteve orientada por um ideal coletivo, representado pelo progresso da ciência. Acreditava-se então que a ciência seria capaz de nos revelar, cada vez mais, o que era real e verdadeiro. Entretanto, no decorrer dos últimos séculos, esse ideal não cumpriu com suas promessas, como tampouco o fizeram outros ideais sociais, como o socialista e aqueles propostos pelos movimentos contraculturais. É nesse contexto que os laços sociais construídos a partir da tradição – passado – ou de projetos coletivos – futuro – se encontram desgastados, produzindo um achatamento do tempo e a percepção de que o que há para ser vivido tem que ocorrer agora. Os interesses pessoais e a pressa são elementos presentes em nosso cotidiano. E é nessa realidade que proliferam diferentes modalidades de uso de drogas: ora para aliviar tensões, ora para potencializar desempenhos.
Eu – Hoje há uma satanização das drogas, como se elas possuíssem a pessoa à revelia. Como se o processo de se drogar fosse externo ao indivíduo – e não algo movido por questões e necessidades internas, que começou pela escolha daquela pessoa de usar determinada droga, ainda que depois possa ter perdido o controle. Por quê? Ribeiro - Diante de certos efeitos indesejáveis da ordem social moderna, tendemos a produzir práticas e representações originadas nos tempos pré-modernos. Explicando melhor: mesmo considerando que nossa sociedade se constituiu em torno de uma ética da responsabilidade – temos autonomia para pensar e agir, mas precisamos responder por nossos atos –, a consagração da visão simplista que sataniza as drogas representa um retorno às velhas crenças animistas que atribuem poderes e intenções a substâncias inanimadas. Algumas interpretações antropológicas evolucionistas defendiam que, no campo religioso, haveria um processo de “evolução” das sociedades. Ou seja: em seu início atribuíam poderes sobrenaturais a seres ou forças da natureza, depois teriam vindo as sociedades politeístas e, finalmente, as monoteístas. Estas teses evolucionistas encontram-se desacreditadas no campo antropológico, mas é fato que muitas sociedades “simples” acreditavam no poder sobrenatural de certas substâncias naturais. É um pouco como alguns setores da sociedade enxergam as drogas hoje.
Eu – Em um de seus artigos, você diz que, no início, as igrejas viam as drogas, todas elas, como coisa do demônio. Já a ciência se contrapunha a esta visão, apostando na autonomia das consciências. Hoje, ambas parecem demonizar as drogas. O que isso significa? Ribeiro - Na Idade Média, a Igreja condenava o uso de drogas por razões teológicas: “só Deus tem o poder de curar”. Mas também por disputas de mercado envolvendo fé e poder, pois não lhe interessava permitir o crescimento da influência de feiticeiras e curandeiros. Hoje, esse discurso mudou e a condenação que grande parte das igrejas faz ao uso de drogas é fundamentada em sua suposta associação a práticas libertinas, hedonistas e promíscuas. Assim como também é uma eficaz estratégia de marketing para algumas denominações. Basta observar que muitos dos pastores se apresentam como ex-usuários de drogas que, com a ajuda de Deus – e da igreja, através dos dízimos –, conseguiram se libertar. Esse trânsito, das drogas para a religião, é muito frequente.
Eu – E a ciência? Ribeiro - O deslocamento operado no campo científico é mais sutil. Partiu da afirmação do direito de qualquer um poder usar a droga que quiser e de uma posição liberal, em que o direito de experimentação fazia parte do processo em que se dava o progresso da ciência. Vale a pena lembrar que até o início do século passado todas as drogas conhecidas eram vendidas livremente em farmácias. Partiu-se disso para uma pretensão de controle e prescrição de uso. Ou seja, as drogas são instrumentos importantes no combate a doenças e na produção de bem-estar, mas seu uso deve ser orientado pelo saber científico, o quer exclui, evidentemente, as modalidades de uso espontâneas.
Eu – A abordagem atual das drogas parece intimamente ligada à questão do poder e do controle. Como você vê essa relação? Ribeiro - Atualmente, a forma hegemônica de abordar a questão é resultante de um conjunto de fatores que pouco ou nada tem a ver com os que determinam o consumo. As estratégias de controle e repressão social defendidas por grupos orientados por ideais religiosos e/ou totalitários é um deles. Mesmo considerando que vivemos em uma sociedade fundada a partir de uma ética da responsabilidade – somos responsáveis pelos nossos atos e respondemos por eles – ou justamente por isso, convivemos com grupos que temem os efeitos dessa liberdade. Em vez de uma multiplicidade de formas de pensar e agir, eles prefeririam que todos agissem conforme seus princípios e crenças. Essa posição não se manifesta apenas no campo estritamente religioso, podendo estar presente em diferentes segmentos sociais. Nesse sentido, combate-se o uso de drogas porque ele seria potencialmente subversivo, pouco controlável. Outro fator são os interesses políticos e econômicos de laboratórios e setores da corporação médica, que reivindicam a exclusividade do direito de manipular corpos e mentes. Com o passar do tempo, no contexto da modernidade, o uso de drogas passou a ser cada vez menos controlado socialmente, seja por rituais tradicionais e/ou religiosos, seja por saberes autorizados, como médicos, curandeiros, etc. Este uso “individual” e espontâneo foge ao controle, não podendo ser utilizado como instrumento de poder político ou econômico. Daí a insistência em manter a produção e autorização de consumo de drogas sob o controle de laboratórios e médicos, respectivamente.
Eu – Você não acredita que a repressão possa causar a redução do consumo? Ribeiro - Os conflitos oriundos da marginalização do comércio e consumo de algumas drogas acabam por produzir um senso comum que evita a complexidade da questão e produz a estigmatização dos usuários e a defesa de medidas paliativas – ainda que necessárias –, como a repressão do tráfico e o tratamento de dependentes. Basta lembrar o episódio da Lei Seca, nos Estados Unidos, para concluir que as estratégias repressivas pouco ou nada contribuíram para a diminuição do consumo. Pelo contrário, seu efeito foi de outra ordem: expansão da corrupção policial, aumento do número de problemas de saúde em função do consumo de drogas de má qualidade, criação de um mercado marginal e violento, etc. Essa avaliação foi feita pelo próprio governo dos Estados Unidos, por ocasião da promulgação do ato que aboliu a Lei Seca. Hoje, há um entendimento largamente difundido de que as drogas são a encarnação do mal em nossa sociedade. Trata-se de uma poderosa aliança entre os discursos religioso, científico e o da segurança pública. O mais produtivo seria abordar frontalmente o problema e reconhecer que o uso de drogas em nossa sociedade faz parte de nossa cultura, como fez de tantas outras. E que, em vez de lançar cruzadas antidrogas, hipócritas e inúteis, deveríamos discutir as diferentes modalidades de usos, lícitas e ilícitas, e encontrar formas de minimizar seus efeitos danosos, individuais e sociais. Acredito que essa realidade se constitui no campo das disputas simbólicas, onde se definem valores e sentidos.
Eu – Como assim? Ribeiro - O que faz com que o uso de drogas assuma determinado valor e determinada função para algumas pessoas? Como intervir nessa realidade? É evidente que não bastam campanhas publicitárias afirmando que “fumar é brega” ou que o “crack mata”. Não são mais os saberes tradicionais, passados de pai para filho, que orientam nossa compreensão do mundo. Vivemos em uma sociedade fragmentada e individualista, mas que se articula através de uma complexa rede de relacionamentos, presenciais e virtuais. É nesse universo que os sentidos vão se definindo e se modificando. Sendo assim, é possível afirmar que, quanto maior for a troca de idéias e experiências, menor será a possibilidade de um ou mais discursos assumirem uma posição de domínio. Acredito que ganharíamos muito se “gastássemos” essa discussão sobre as drogas, diminuindo sua importância, fazendo com que elas deixem de ser vistas como solução de todos os problemas ou como causadora de todos os males.
Eu – Vivemos numa sociedade onde se consome muitas drogas legais, parte delas receitada por médicos das mais variadas especialidades. A mesma sociedade que parece ficar um pouco histérica com o crack, por exemplo, não parece ver nenhum problema na massificação do uso de antidepressivos e ansiolíticos. Por que algumas drogas podem ser usadas e outras não? Umas são desejáveis e “terapêuticas” e outras são demonizadas? Qual é a diferença, afinal? Se tomamos drogas para dormir, para ficar feliz, para ficar calmo, para não sentir fome, para ter tesão, por que é ruim cheirar coca, fumar maconha e usar crack? Não estou dizendo que é bom, apenas questionando a lógica de que uma pode e a outra não, uma está incluída e a outra é marginal... Ribeiro - Do ponto de vista do funcionamento subjetivo, não há nenhuma diferença entre cheirar cocaína, fumar maconha, usar crack ou beber cachaça, consumir antidepressivos, anfetaminas, ansiolíticos. É a mesma lógica: se faz uso de uma substância para produzir uma desejada alteração do estado de consciência e humor. É importante que se diga que as razões pelas quais algumas drogas são proibidas e outras não são proibidas não tem qualquer fundamento epidemiológico, médico, psicológico ou antropológico. Certas drogas são proibidas não por serem mais “fortes” ou “pesadas”, nem por terem maior potencial de criar dependência, ou por causarem mais problemas orgânicos. As origens da proibição podem ser buscadas em um conjunto de preconceitos morais e sectários do início do século XX. Nos Estados Unidos, por exemplo, a proibição de algumas drogas esteve ligada à desconfiança que os puritanos manifestavam com relação à massa de imigrantes que chegava às grandes cidades americanas no início do século. Assim, diferentes drogas foram associadas a diferentes etnias: a condenação do uso de ópio resultou das acusações de corrupção infantil feitas aos chineses; a cocaína era associada à permissividade sexual atribuída aos negros; a maconha à “invasão” dos mexicanos; e o álcool às “imoralidades” de judeus e irlandeses. É evidente que, posteriormente, os interesses econômicos – indústria de bebidas alcoólicas, de cigarros e laboratórios – passaram a atuar fortemente com vistas à manutenção de sua reserva de mercado. É sabido que hoje o maior número de dependentes de drogas é alcoolista. E o álcool é uma droga legal.
Eu – Por que está tudo certo se as drogas são receitadas por médicos, mas tudo errado se não? O problema estaria no controle, as que são consideradas ilegais seriam aquelas que não podem ser controladas por ninguém? Ribeiro - Os remédios vendidos apenas sob prescrição médica não são as únicas drogas legais, nem as mais usadas. As bebidas alcoólicas não estão sob controle e podem produzir efeitos da mesma intensidade que os provocados por outras drogas lícitas e ilícitas. Portanto, o “controle” se refere muito mais a questões relativas à produção, circulação e, evidentemente, acumulação de lucros. Neste sentido, as drogas ilegais estão “fora do controle”.
Eu – Qual é a aposta que se faz na droga? Como a droga se aproxima da sociedade de consumo na medida em que promete – e por um tempo realiza – a possibilidade de ser feliz ou do gozo pleno, tão caro à nossa época? Ribeiro - Se considerarmos que o capitalismo produziu algo que seria da ordem de uma perversão no campo das relações sociais, na medida em que promoveu o que Marx chamou de “fetichismo das mercadorias”, poderíamos pensar que o aumento significativo de casos de dependência de drogas seria efeito de uma nova perversão, que se constitui como desdobramento da primeira. Ou seja: a lógica da sociedade de consumo se encontra orientada para um progressivo aumento na produção e consumo de bens, que, neste contexto, operam como mediadores das relações sociais, índices de prestígio e elementos produtores de identidades sociais. Entretanto, quando certas modalidades de uso de drogas fazem com que elas se tornem o objeto único de desejo, subverte-se a lógica capitalista. Paradoxalmente, a crença no poder dos objetos pode se constituir numa ameaça a um sistema alicerçado em torno do consumo. Na lógica capitalista, o prazer ou a felicidade que supostamente poderia ser alcançado através da posse de um objeto deve ser sempre parcial e efêmero, fazendo com que o desejo deslize para outros objetos, retroalimentando o sistema, que se constitui numa forma de laço social. O prazer derivado do uso de drogas, mesmo podendo ser intenso, também é parcial e efêmero. Mas, exatamente por sua intensidade e exclusividade, tende a deslocar o sujeito do contexto socialmente regulado de produção e consumo. Quando o sujeito passa a desejar um único objeto, ele deixa de consumir todos os demais. Além disso, dependentes de drogas também não costumam se manter atuantes em atividades laborais, o que faz com que ganhem pouco e consumam menos.
Eu – Nesse sentido, a droga é antissocial, como nós mesmos o somos, preocupados apenas com a satisfação dos nossos desejos, independentemente do desejo do outro – e não de um projeto coletivo, mais amplo, que inclui o outro? A droga, portanto, se encaixa perfeitamente no modelo individualista, que não está nem aí para o que não é a sua vida ou a vida de uns poucos ao seu redor? Ribeiro - Exatamente. Mas é importante que fique claro que não se trata de um entendimento fundado em algum tipo de imperativo moral de fraternidade. O risco do uso de drogas em uma sociedade individualista se dá em função de um equívoco, socialmente produzido, de pensar que somos – ou deveríamos ser – radicalmente livres. Segundo esse ideal, não deveríamos depender de ninguém. Por exemplo: deveríamos desfazer qualquer casamento, aliança ou sociedade no momento em que não mais nos conviesse. O problema é que só nos constituímos e nos sustentamos enquanto sujeitos a partir das relações que mantemos com outros sujeitos. Quanto mais frágeis forem estas relações, mais instáveis nos tornamos. E seremos mais dependentes de outras estratégias para nos prover de alguma consistência identitária. Nesse sentido, é possível afirmar que o uso de drogas pode passar a ser um problema para aqueles sujeitos que não assumem ou constroem relações sociais de dependência.
Eu – Para estes, a droga toma o lugar do que? Ribeiro - Eles dependem da droga para não depender das relações com outras pessoas. É uma tentativa extrema e paradoxal de manter sua independência.
Eu – As drogas legais, que mantêm o indivíduo produzindo e consumindo, não parecem ser vistas como um problema. Já as ilegais tornam-se um problema de polícia e/ou de saúde pública. Como você vê essa dicotomia de abordagem? Ribeiro - Creio ser disseminado um equívoco intencional na abordagem dessa comparação entre os efeitos produzidos pelas drogas lícitas e ilícitas. Não há na literatura especializada nem nos estudos epidemiológicos qualquer evidência que fundamente o entendimento de que as drogas legais mantenham os sujeitos engajados socialmente, enquanto as ilegais produzam improdutividade. As estatísticas demonstram que a droga que mais incapacita seus usuários é o álcool, cujo consumo é legal. Além disso, faltam estudos que investiguem o quanto a prescrição excessiva de psicofármacos, por parte de médicos de diferentes especialidades, condena um grande número de sujeitos a uma vida anestesiada, desvitalizada. Se o médico está apenas preocupado em eliminar o sintoma de seu paciente, este é um processo que pode ir muito longe, porque dificilmente o sujeito apresenta uma única queixa. E, muitas vezes, novas queixas surgem como efeito das primeiras medicações. Assim, passado algum tempo, não há mais como saber o que está se passando com essa pessoa: o que é produto de sua história, de seus conflitos, e o que é efeito desta profusão de remédios. Na maior parte das vezes, o objetivo dessa orientação terapêutica é que o sujeito não sinta nada considerado indesejável. E esse objetivo é alcançado: o paciente não sente mais nada. Por outro lado, basta analisar as pesquisas epidemiológicas e as estatísticas policiais para comprovar que apenas uma ínfima parcela dos consumidores de drogas ilícitas se torna um dependente, incapaz de manter seus laços sociais, incluindo aí os laborais.
Eu – Não é curioso que o mesmo médico que receita drogas legais para anestesiar o sofrimento, já que sofrer parece ter virado uma anomalia, pretende “curar” os viciados em drogas ilegais? Ribeiro - Temos aqui duas perspectivas diferentes: a do sujeito que busca uma ajuda para enfrentar seus sofrimentos, que podem ter múltiplos determinantes; e a destes médicos, que tendem a ver apenas o sintoma. Se o sujeito está deprimido, prescrevem-lhe um antidepressivo, se está ansioso, um ansiolítico. E assim por diante. Isso ocorre nos mais diversos contextos clínicos, não apenas no tratamento de dependentes de drogas. Por outro lado, a estratégia de prescrição de drogas de substituição, para combater a dependência a uma determinada droga, é muito antiga e largamente utilizada, principalmente nos Estados Unidos. Ela costuma funcionar quando a dependência é produzida por circunstâncias específicas e episódicas, como a utilização de morfina em feridos de guerra. Nos demais casos sua eficácia é muito duvidosa, pois parte da suposição de que foi a droga que viciou o sujeito.
Eu – E não foi a droga que o viciou? Ribeiro - Esta é a principal questão: nenhuma droga vicia. São as pessoas que, eventualmente, se viciam com alguma droga. Isso lembra aquelas advertências de nossas avós, para que não aceitássemos balas de estranhos na saída do colégio, porque elas poderiam conter maconha e nós ficaríamos viciados. Ao contrário do que é veiculado pela maioria das campanhas, qualquer um de nós poderia experimentar até mesmo o crack algumas vezes, sem se viciar. É sempre um sujeito que decide usar uma droga e pode, ou não, optar por levar essa relação mais longe. É claro que existem sujeitos cujas circunstâncias fazem com que eles corram um maior risco na relação com a droga, mas as drogas não fazem nada, são substâncias inertes.
Eu – As substâncias podem não ter poderes sobrenaturais, como acreditavam e acreditam algumas culturas, mas está provado que algumas substâncias causam dependência, em menor ou maior grau. O que você quer dizer, exatamente, quando afirma que a drogas não viciam? Ribeiro - Ninguém questiona a existência da dependência de drogas, mas faz muita diferença quem é o sujeito da frase. Dizer que as drogas viciam é diferente de dizer que pessoas se viciam com drogas. O que afirmo é que, para se estabelecer uma dependência, alguém decidiu usar drogas. E é esta motivação, e a história da relação do sujeito com a droga, no contexto mais amplo de suas circunstâncias, que vai definir se ele se tornará um dependente – ou não. Também é importante observar que, no contexto do tratamento de uma dependência de drogas, a primeira etapa, a desintoxicação, é a mais rápida e fácil. Em duas ou três semanas já não há mais nenhuma substância com princípio psicoativo atuando no corpo do sujeito. E todos sabem que ele não está curado de sua dependência. Permanece uma espécie de "memória", que não é exclusivamente orgânica, nem exclusivamente psíquica, e que se encontra associada a certas situações e sensações que fazem parte da vida do sujeito. Assim, diante de determinado conflito familiar, ou determinada frustração, ele pode voltar a sentir uma "necessidade" de usar a droga a que costumava recorrer.
Eu – Hoje há uma droga legal, adquirida com receita médica, para cada sentimento humano de desconforto ou conflito. Em que medida o fato de nossa sociedade considerar qualquer sofrimento um sintoma que precisa ser abafado e anestesiado com drogas influencia no uso das drogas ilegais? Ribeiro - É verdade que os sintomas podem produzir sofrimento, mas, ao contrário do que acontece com as dores orgânicas, em que na maioria das vezes não há razão para não tentarmos eliminá-las, as dores psíquicas cumprem uma função importante de sinalizar a existência de um conflito que está exigindo uma resposta. Eliminar esse sinal apenas nos condena à impotência frente à causa de nosso sofrimento. E ao inevitável deslizamento, com a formação de outro sintoma, com o agravante de termos ainda que suportar os efeitos colaterais da medicação. Um conflito psíquico pode produzir sintomas, inibições, angústias e outros desconfortos. Geralmente isso perturba nossa vida, fazendo com que soframos com coisas que, para os outros, parecem banais. Esses conflitos podem ser tratados, mesmo que nunca completamente eliminados. Isso faz parte da vida de todos nós, mesmo fora do contexto de um tratamento psicológico: a gente tenta superar certas dificuldades, consegue alguns sucessos, volta a deparar com limites e carências, e a vida vai andando. Dá certo trabalho e não nos poupa de vários momentos de mal-estar, mas é a forma como assumimos a direção de nossas vidas – e pode também produzir muita satisfação. Algo diferente ocorre quando se busca evitar esse trabalho psíquico e o mal-estar que o acompanha: sofremos menos em um primeiro momento, mas perdemos a possibilidade de superar aquilo que está nos aprisionando: contornamos nossos conflitos sem nunca conseguir fazê-los mudar de lugar.
Eu – Mas o quanto a visão contemporânea de que o sofrimento é sinônimo de fracasso e deve ser suprimido da vida tem a ver com o uso de drogas ilegais? Ribeiro - Acredito que isso tem a ver com o uso de drogas em geral, e não apenas das drogas ilícitas. As estatísticas médicas e farmacêuticas indicam que vivemos em tempos de depressão. Nada de novo nessa constatação. Entretanto, chama a atenção o fato de outras avaliações de nossa sociedade apontarem para a direção oposta: cada vez mais percebemos a existência de uma cultura dinâmica, voltada para a busca de prazeres imediatos, que reconhece e valoriza quase todas as formas de gozo. Tornamo-nos maníacos e depressivos, mas não necessariamente ciclotímicos. Talvez seja mais preciso afirmar que uma sociedade maníaca tende a produzir subjetividades depressivas, pois se o ideal social que nos serve de referência preconiza que todo sofrimento deve ser superado, encontra-se desvalorizado todo aquele que não consegue se ajustar aos modelos de felicidade propostos. Não é difícil entender o quanto o uso de drogas se “encaixa” bem nesse contexto: ele pode tanto nos aliviar de nossas frustrações quanto nos ajudar a melhorar nossos desempenhos. Basta escolher a droga certa para o momento certo.
Eu – Você faz, em seus artigos, uma afirmação muito interessante – e bastante polêmica – sobre como o saber médico e o toxicômano veem a droga da mesma maneira. Você afirma que a teoria médica coincide com a do toxicômano, na medida em que procura isolar o aparelho psíquico para gozar dele como um órgão. Ou seja, com o auxílio de determinadas drogas pretende-se tanto curar um corpo doente como uma vida doente, sem problematizar as modalidades de relação com o outro. Como é isso? Ribeiro - Tomemos o exemplo fictício, mas não incomum, de um adolescente que cotidianamente observa seu pai chegar em casa meio estressado e tomar umas doses de cachaça ou uísque; sua mãe consumir religiosamente seu ansiolítico; o médico da família, frente ao primeiro sinal de tristeza e abatimento, receitar um antidepressivo. Esse adolescente, diante das angústias próprias de sua idade, teria alguma razão para se recusar a fazer uso de um cigarro de maconha de vez em quando? Qual seria a diferença? Nesse exemplo, estamos longe de uma toxicomania, mas percebemos uma mesma lógica, que pode vir a ser acionada em situações extraordinárias, como a de uma dependência de drogas. Isso nos lembra do Millôr, que afirmava ter nascido com duas doses de uísque a menos, pois, quando as tomava, se sentia muito melhor. É a mesma coisa: se a psique é vista como um órgão, e se o remédio faz com que este órgão funcione melhor, deduz-se que era ele o que estava faltando. Ou seja, depois de procurar curar o corpo, o órgão doente, hoje se pretende curar a vida doente.
Eu – O crack é a droga do momento, a grande epidemia. Você acha que o crack é diferente das outras drogas e deve ter uma abordagem diferente? Ribeiro - Mesmo que se faça uma crítica a muitas abordagens acerca do uso de drogas e às propostas hegemônicas para enfrentar o problema – e é importante que a crítica seja feita –, não há como deixar de reconhecer que se trata de um problema social que exige respostas urgentes. Entretanto, independentemente do tipo de droga utilizada, e mesmo que se reconheça a enorme diferença que existe entre os efeitos do consumo de maconha e de crack, por exemplo, não acredito que devamos nos dedicar à proposição de “estratégias para combate do uso de drogas” ou de uma “clínica da dependência de drogas”. Da mesma forma que não acredito em uma “clínica da depressão” ou uma clínica da “síndrome do pânico”. Em vez de reduzirmos o sujeito ao seu sintoma, ganharíamos mais diversificando nossas estratégias para operar uma “clínica do sujeito”, levando em consideração os contextos sociais em que essas subjetividades são produzidas.
Eu – E como seria uma “clínica do sujeito”? Ribeiro - Parto do entendimento de que cada sujeito é absolutamente singular, o que faz com que o trabalho terapêutico também tenha que ser construído caso a caso. É nesse sentido que recuso a idéia de uma “clínica da toxicomania”, como se esses sujeitos compusessem um conjunto, com problemas e saídas semelhantes. Mas é possível propor algumas estratégias e linhas de ação. Nos casos menos graves, atendidos em consultórios e ambulatórios, entendo que o uso de drogas deva ser abordado no contexto da história e do conjunto de relações mantidas por cada pessoa. Não é o uso de drogas que define sua posição subjetiva e o seu sofrimento, mas o contrário: a relação que ele estabelece com as drogas é resultante da forma como ele vivencia seus conflitos e relações. Já nos casos mais graves, em que há uma perda de autonomia do sujeito, se torna necessária uma vinculação institucional, de preferência sem internação, através da qual ele possa contar com o apoio de uma equipe multiprofissional que lhe auxilie em seu processo de reinserção social.
Eu – Como você vê os tratamentos oferecidos para “curar” a drogadicão, que em geral partem de uma oferta da medicina ou da religião ou de uma aliança entre ambas? Ribeiro - A maioria dos dependentes de drogas que procuram – ou são levados a – tratamento se encontra em uma situação de fragilidade de suas inserções sociais. Normalmente não estão trabalhando ou estudando e vivenciam conflitos no âmbito familiar. Experimentam um sentimento de anomia, em uma errância que tem como únicos pontos de referência os caminhos que levam à droga. Ora, essa situação produz muita angústia, e não raro desespero. Diante dessa realidade, não é de surpreender que as ofertas de certas comunidades religiosas exerçam forte sedução, afinal elas prometem uma pertença comunitária, uma visão de mundo estruturada e uma função revestida de importância e dignidade – “a construção da Obra do Senhor”. Mas essa “solução” cobra seu preço, e não é barato: espera-se do sujeito que ele seja capaz de abrir mão de seus conflitos, ou seja, de sua história, e se engaje incondicionalmente em um projeto coletivo, que ele já recebe pronto. As correntes mais biológicas da psiquiatria, muitas vezes aliadas a determinadas versões da psicologia cognitivo-comportamental, apresentam outro entendimento do problema, de onde deriva outra proposta terapêutica. Esta é direcionada a uma reprogramação da mente e do comportamento, visando sua “normalização”. O que há de comum entre essas ofertas são as certezas de que partem. Não há lugar para dúvidas acerca do que é certo e do que é errado. Para quem está totalmente perdido, isso não é pouca coisa.
Eu – Mas, a longo prazo, funciona? A pessoa consegue manter esse engajamento no projeto, que, por sua vez, a mantém longe das drogas? Ribeiro - Dificilmente. Essa reprogramação exige que o sujeito assuma uma nova vida, e sabemos que nossa liberdade de escolha é limitada: não podemos escolher quem queremos ser. Somos o produto de uma história, que não se deixa ignorar. Mas, embora hegemônicos, esses campos, felizmente, não detêm a exclusividade no tratamento da dependência química. “Felizmente” não porque eles sejam sempre ineficazes ou mal-intencionados, longe disso, mas porque muitos dependentes não se adaptam a suas propostas. Há muitas clínicas, ambulatórios e CAPS-ad (Centros de Atenção Psicossocial a usuários de substâncias psicoativas) que assumem um maior respeito à liberdade de escolha dos sujeitos, tomam como referência a estratégia de redução de danos e trabalham a partir de uma escuta das singularidades de cada caso.
Eu – Como você vê o jogo de culpa que se faz na abordagem das drogas: é culpa da família, é culpa do traficante, é culpa do Estado, é culpa dos amigos viciados, é culpa de um mundo sem valores ou há tantos culpados que ninguém mais tem culpa? A culpa cumpre algum papel nesse jogo? Ribeiro - A culpa é um dos sentimentos – ou acusações – mais inúteis e produtores de sofrimento com que temos de conviver. Ela nada produz além de recriminações e ressentimentos. Além disso, a atribuição de culpa costuma ser utilizada por discursos autorizados – o científico, o policial ou o religioso – como estratégia de imposição autoritária de seus pontos de vista. Mais interessantes são as tentativas de produção de consensos mínimos sobre os problemas que envolvem o consumo de drogas e a pactuação de responsabilidades no que se refere à forma como o problema deverá ser enfrentado. Isso vale tanto para um contexto familiar, quanto para a elaboração e implementação de políticas públicas.
Eu – Qual é a sua opinião sobre a descriminalização das drogas, no geral, e a descriminalização só da maconha, como propõem alguns, inclusive o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso? Ribeiro - Não vejo razões pelas quais consumir drogas deva ser considerado um crime, o que não é o mesmo que defender sua liberação irrestrita. É interessante notar que as origens da proibição ao uso de determinadas drogas não estão relacionadas a qualquer avaliação de ordem médica, psicológica, epidemiológica ou antropológica. Estão associadas de forma muito mais direta às pressões exercidas por certos segmentos sociais, a partir de preconceitos morais e estigmatizações sectárias. Deveríamos ser capazes de aprender com nossos erros e, no momento em que se evidenciam as contradições de nossa política proibicionista, investir em estudos multidisciplinares e promover um amplo debate, depurado de moralismos e respostas fáceis.
Eu – E quais seriam as questões centrais deste debate? Ribeiro - Questões que discutam poder e responsabilidade. O que legitima que alguém legisle ou defina o que posso ou não consumir? Se é uma questão que extrapola o âmbito das liberdades individuais, envolvendo problemas de saúde pública, quais são os critérios para definir quem pode e quem não pode consumir tais e tais drogas? Repressão e marginalização são boas estratégias para a produção de saúde?
Eu – Qual é a sua opinião sobre a campanha nacional contra o crack lançada pelo Ministério da Saúde (e recentemente ampliada pelo presidente Lula)? Ribeiro - A campanha promovida pelo Ministério da Saúde promove grandes avanços, entre eles o de respeitar os direitos dos usuários, o de operar a partir da lógica de redução de danos, o de priorizar a abordagem do problema no território em que vive o usuário e o de evitar internações prolongadas. Entretanto, é sabido que esse tipo de abordagem enfrenta fortes resistências de parte daqueles que se opõem a Reforma Psiquiátrica e se mostram saudosos dos antigos manicômios. Para estes, o melhor seria ampliar o número de leitos de internação, segregar e “tratar” o maior número possível de usuários, para depois “devolvê-los” – se possível – para o convívio social. Infelizmente, através dessa estratégia, muitos psiquiatras evitam a abordagem da intensidade dos dramas humanos - preferindo a calmaria dos sedativos.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Prevenção de drogas na adolescência deve focar drogas lícitas

Prevenção de drogas na adolescência deve focar drogas lícitas, diz estudo
Agência Fapesp

Pesquisadores divulgaram levantamento inédito sobre o consumo de drogas entre estudantes de escolas privadas paulistanas. Segundo o estudo, álcool traz o maior risco e ações devem focar drogas lícitas.
Bebida e fumo
Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram, nesta segunda-feira (7/6), um levantamento inédito sobre o consumo de drogas entre estudantes de escolas privadas paulistanas.
O estudo contou com a participação de 5.226 alunos do 8º e 9º ano do ensino fundamental e dos três anos do ensino médio, em 37 escolas.
Dentre todas as drogas, o álcool se mostrou, de longe, a mais usada: 40% dos estudantes haviam bebido no mês anterior à pesquisa, enquanto 10% haviam consumido tabaco, a segunda droga mais prevalente.
O álcool é também a droga que começa a ser consumida mais cedo, com média de idade de 12,5 anos. O primeiro consumo de álcool ocorreu em casa para a maior parte dos entrevistados: 46%.
Álcool entre estudantes
Segundo a coordenadora do estudo, Ana Regina Noto, pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Unifesp, um dos dados que mais chamou a atenção no levantamento é que, no ensino médio, 33% dos alunos consumiram álcool no padrão conhecido como binge drinking - ou "beber pesado episódico" - no mês anterior à pesquisa.
O comportamento binge se caracteriza pelo consumo, na mesma ocasião, de cinco ou mais doses de 14 gramas de etanol - valor correspondente a cinco latas de cerveja (ou copos de vinho ou doses de bebida destilada).
"O estudo revelou padrões de consumo muito preocupantes entre os estudantes da rede particular, em especial em relação ao álcool. Um terço dos alunos do ensino médio relatou prática de binge drinking no mês anterior ao estudo, o que é uma porcentagem extremamente elevada. Esse comportamento traz alto risco, pois o adolescente embriagado fica em situação de vulnerabilidade em vários aspectos da vida, gerando brigas, acidentes de trânsito e sexo desprotegido, por exemplo", disse Ana Regina.
Prevenção precoce
De acordo com a pesquisadora, o estudo indica que ações preventivas contra drogas em ambiente escolar devem ser iniciadas em idades precoces, com ênfase em drogas lícitas como o álcool e o tabaco. E, no ensino médio, o padrão binge de consumo deve ter atenção especial.
"Muitas vezes as campanhas preventivas são focadas em drogas como maconha e cocaína. Mas essas são consumidas em faixas etárias mais altas e contextos sociais diferentes. O estudo mostrou que cerca de 80% dos estudantes do ensino fundamental e 70% do ensino médio nunca usaram qualquer droga exceto álcool e tabaco", disse Ana Regina.
Mesmo entre os adolescentes que utilizaram outras drogas, nada se aproximou do padrão de consumo caracterizado pelo comportamento binge relacionado ao álcool. "Se há uma droga que representa risco para o adolescente é, sem dúvida, o álcool e esse comportamento de se embriagar", afirmou.
Fatores de risco
O estudo também identificou fatores de risco e de proteção ligados ao consumo das drogas. No caso do comportamento binge, os principais fatores de risco foram faixa etária mais elevada, maior poder aquisitivo, maior número de saídas noturnas e presença de modelos em casa.
O Cebrid, fundado em 1978, realiza desde a década de 1980 levantamentos epidemiológicos sobre o consumo de drogas entre estudantes da rede pública, mas, até agora, havia uma lacuna do conhecimento em relação à rede privada. O estudo atual também é o primeiro a considerar o binge drinking e a envolver os fatores de risco.
"Os resultados mostram que a proporção de estudantes que relatou já ter consumido substâncias psicoativas é semelhante à registrada em estudos anteriores com alunos da rede pública de ensino, mas alguns padrões de consumo apresentaram diferenças. A frequência de consumo de álcool foi maior nas escolas públicas. Mas nas particulares, em compensação, quando os estudantes bebem estão mais sujeitos ao exagero", disse Ana Regina.
Outros fatores de risco para o comportamento binge, segundo a pesquisa, foram o sexo (o risco aumenta em 70% entre os meninos), idade (50% para cada ano a mais), pais separados (30% mais risco), não confiar em Deus (40%) e não conversar com os pais (60%). A condição socioeconômica também influencia: o risco é duas vezes maior entre os alunos das escolas com mensalidade acima de R$ 1,2 mil.
"Apesar de a condição socioeconômica ter sido um fator de risco em relação ao binge drinking, é impressionante a semelhança entre os padrões de consumo e os tipos de drogas presentes nas escolas privadas e públicas. Notamos grandes diferenças com resultados de outros países, mas os estudos feitos aqui sugerem que há uma cultura brasileira de consumo de drogas bastante bem definida", disse.
Bebida entre meninas e meninos
O estudo indicou que o comportamento binge drinking no mês anterior à pesquisa estava mais presente entre os meninos (26,8%), mas também foi elevado entre as meninas (21,7%). Cerca de 7,3% dos meninos e 5,4% das meninas relataram ter bebido no padrão binge de três a cinco vezes no último mês. "Isso sugere que a prática é comum entre adolescentes", disse Ana Regina.
A idade média de início de uso das substâncias psicoativas ficou em 12,5 anos para o álcool, 13,5 anos para o tabaco e para calmantes, 14 anos para inalantes e 14,5 anos para maconha, cocaína e estimulantes tipo anfetamina (ETA).
Vários fatores se mostraram associados à prática de binge drinking no mês que antecedeu a pesquisa, segundo o estudo. Entre alunos do ensino médio, por exemplo, morar com alguém que se embriaga aumentou duas vezes a chance de ocorrência desse comportamento. Sair à noite uma vez por semana aumentou as chances em 9,5 vezes. Sair à noite todos os dias aumentou as chances de comportamento binge em 20 vezes.
"Isso não quer dizer que se deva prender o adolescente em casa. Mas devemos dar atenção à negociação de limites e aos exemplos familiares. Esses fatores de risco não são causais, apenas indicam uma correlação. O adolescente que arrisca no consumo de drogas também se arrisca em outros aspectos da vida. As ações preventivas não devem focar apenas nas substâncias, mas o desenvolvimento do adolescente em relação a comportamentos agressivos, hiperatividade e dificuldades de aprendizado, por exemplo", afirmou a pesquisadora do Cebrid.
Inalantes
Segundo o estudo, o primeiro consumo de álcool ocorreu principalmente na casa do adolescente (46%), na casa de amigos (26%) e em casas noturnas (15%). A bebida foi oferecida pela primeira vez por familiares (46%) ou amigos (28%). Apenas uma parcela de 21% respondeu "peguei sozinho". Os meninos deram preferência à cerveja e as meninas às bebidas tipo ice, batidas, caipirinha e vinho.
O tabaco, assim como o álcool, esteve mais associado a alunos do ensino médio: 33% dos alunos experimentaram alguma vez na vida, contra 14,8% do ensino fundamental. Os fumantes regulares (que consomem tabaco mais de 19 dias no mês) correspondem a cerca de 4% dos estudantes do ensino médio e menos de 1% do ensino fundamental. Meninos e meninas fumam em quantidade e frequência semelhantes.
O consumo de inalantes apresentou diferença considerável de gênero: 16,2% dos meninos e 11% das meninas experimentaram alguma vez na vida. O padrão de consumo mais comum foi de um a cinco dias por mês. No ensino fundamental, os tipos de inalantes preferidos foram o esmalte e acetona (41,7%) e gasolina (38,4%). Já entre os estudantes do ensino médio, os mais comuns foram os inalantes ilegais: "lança" e "loló" (71,9%).
Maconha e cocaína
"O estudo indica diferenças de gênero e escolaridade em relação ao consumo de maconha. Cerca de 5% dos meninos fumaram a droga no mês anterior à pesquisa, contra 2,5% das meninas. A maior prevalência do uso de maconha esteve entre os estudantes do ensino médio: 16% já utilizaram alguma vez na vida, contra 3,8% do ensino fundamental", disse Ana Regina Noto.
Cerca de 3,2% dos meninos experimentaram cocaína pelo menos uma vez na vida. Segundo o estudo, a droga parece ser mais comum entre os meninos, mas o número de observações é baixo demais para garantir a validade dos dados.
O consumo de calmantes e anfetaminas, por outro lado, foi mais comum entre as meninas: 7,5% utilizaram calmantes alguma vez na vida, contra 3,2% dos meninos. No ano anterior à pesquisa, essas substâncias foram usadas sem prescrição médica por 5% das meninas e 2,5% dos meninos. O uso de calmantes esteve associado à família. Na primeira ocasião de consumo, a droga foi geralmente oferecida por algum familiar (50%). "Peguei em casa" foi a resposta de outros 38%.
Os adolescentes afirmaram ainda ter utilizado, pelo menos uma vez na vida, drogas como o ecstasy (4,3% dos meninos e 1,7% das meninas), benflogin (2%), anabolizantes (2,5% entre os meninos e 0,2% entre as meninas) e LSD ou chá de cogumelo (2% dos meninos e 1% das meninas).
O consumo "pelo menos uma vez na vida" - que segundo os pesquisadores não caracteriza o adolescente como usuário da droga - foi de 80% para o álcool, 24,6% para o tabaco, 13,6% para inalantes, 10,7% para maconha, 5,3% para calmantes, 3,6% para ETA e 2,2% para cocaína.

Reeleccíon de Evo como líder cocalero es mala señal para el país

Miércoles, 9 de junio de 2010 - Bolivia - NacionalRedacción Central, 8 (ANF).-

Sponsor de la páginaLa ratificación del presidente Evo Morales como máximo líder de las Seis Federaciones de Cocaleros se constituiría en una mala señal para la democracia ya que confirma que el actual gobierno representa los intereses de una minoría sindical antes que al interés general de la sociedad boliviana, según afirmó el analista y sociólogo César Arellano Mamani.Para el analista cochabambino, tras las tragedias de Caranavi y Uncía el país esperaba una señal de “desarme espiritual y pacificación”, pero las últimas decisiones del Jefe de Estado ratifican su apego a la línea de bélica y sectaria que ha marcado los pasados Cuatro años de su gobierno.“Se ve que lo sucedido en Uncía no le enseñó nada a Morales, ya que decidió aceptar la ratificación como máximo líder de los cocaleros del trópico, dándole a este sector la señal de que tendrá impunidad y más poder, cuando debía dar una señal de que él representa primero al Estado, rechazando ese nombramiento”, dijo.“Hay conflicto de intereses entre ser máximo dirigente de las seis federaciones de los cocaleros, cuyo cargo ocupa desde hace 20 años y desempeñar el cargo de Mandatario del Estado Plurinacional cuya misión es luchar contra el narcotráfico y controlar la materia prima que va a ese flagelo”, manifestó.Considera que mientras el Jefe de Estado sea el presidente de los cocaleros no tendrá el interés y la voluntad política para frenar y castigar las actividades de comunidades volcadas al tráfico de drogas y al contrabando. “Y las muertes de Epizana y Uncía pasaran a la historia como antecedentes de la impunidad y el omnímodo poder de cierto sindicalismo volcado a lo ilícito”, sostuvo.Arellano fundamentó su análisis en la versión de que el líder del ayllu que victimó a cuatro efectivos policiales en Uncía, fue detenido días antes del crimen, acusado por narcotráfico. Denunció que el argumento de que la hoja del Chapare va para el consumo tradicional no tiene asidero real, ya que la hoja de coca del Chapare no sirve para la masticación, pues produce varios cortes dentro la boca.“Hay una verdad que todos conocen pero que nadie se atreve a decir y es que nadie en este país mastica hoja de coca del Chapare y si bien los cocaleros que la mastican y consumen jamás consumen la hoja del trópico por su alto contenido de alcaloide”, dijo.“Mineros, fabriles y campesinos saben que para pijchar es la hoja de los Yungas paceños, o, de los Yungas de Vandiola, pero la coca del Chapare no sirve para masticar, pero si se constituye en materia prima para la producción de cocaína”, explicó.

terça-feira, 1 de junho de 2010

War on Drugs - México - General Rebolo, czar antidrogas do México, na lista de pagamentos do cartel de Tijuana


General Rebolo
General Rebolo, czar antidrogas do México, na lista de pagamentos do cartel de Tijuana
O presidente mexicano Felipe Calderón perdeu o apoio popular à sua “guerra às drogas”. Uma guerra iniciada em parceria com o então presidente George W. Bush. Ela teve início no primeiro dia do mandato de Calderón, em 1º de dezembro de 2006.
Todos os cidadão mexicanos, no início entusiastas da War on Drugs, perceberam, a partir de 2008, a vitória dos cartéis sobre as forças governamentais. Pior, cerca de 70% dos mortos nessa guerra eram civis inocentes, sem qualquer correlação com a questão das drogas.
Segundo dados divulgados, em 2008 a War on Drugs mexicana produziu 6 mil mortos: 1.600 moravam em Ciudad Juarez. E os cartéis, para desafiar o exército mexicano envolvido por Calderón na guerra às drogas, adotaram, em 2010, a tática de cortar a cabeça dos mortos e espalhá-las nas pistas de estradas movimentadas.
Ontem, tropas do exército mexicano encontram um cemitério clandestino com 25 cadáveres. Esse cemitério era usado pelo o cartel do Golfo para enterrar algumas das vítimas que tinham sido sequestradas e cujo valor fixado para o resgate não havia sido pago. O cemitério clandestino fica no estado de Guerrero, na cidade de Taxco.
Um dos corpos encontrados, sem cabeça, era de Luiz Navarro, diretor do Centro de Reinserção Social da cidade de Morelos. Navarro tinha sido sequestrado no sábado 29 e sua cabeça foi cortada em quatro partes. Cada parte foi depositada em prédios diferentes da administração pública.
Junto aos pedaços da cabeça de Navarro foram deixadas mensagens, com ameaças de morte a funcionários públicos, federais, estaduais e municipais.
Pano Rápido. No México, apenas o presidente Calderón ainda não percebeu que a política de guerra às drogas de modelo norte-americano não dá bons resultados. Deveria ter escolhido outro caminho e percebido que o problema maior está na corrupção das suas polícias.
Até o czar antidrogas do México, general Gutierrez Rebolo (foto), já esteve na “gaveta” do cartel Tijuana. Depois de preso por pressão norte-americana, Rebolo disse necessitar do dinheiro do tráfico para poder sustentar uma dezena de amantes.
Wálter Fanganiello Maierovitch